Juntas Somos Mais: mulheres unidas contra o fascismo

LouiseAkemi

No semestre passado nos perguntávamos, no CFEMEA, qual seria nosso lema de campanha para o período eleitoral. Queríamos denunciar que as eleições ocorreriam sob o manto de um Golpe de estado e que o processo eleitoral poderia ser a mera consolidação das forças golpistas no Poder. Queríamos também denunciar como nosso sistema político e suas regras não permitem a inclusão das mulheres, da população negra, indígena, LGBTI e todos os demais grupos sociais que sempre foram excluídos das instâncias de poder. E alertar para a influência do poderio econômico no processo eleitoral e o fortalecimento cada vez maior das bancadas parlamentares mais autoritárias, antidireitos humanos e conservadoras.

 

Além disso tudo, que não é tarefa simples, nos propusemos a ir além no debate sobre os sentidos da Política e as formas de exercício do Poder. Aqui, um alerta sobre a sub-representação das mulheres na política, bem como seu sentido na construção de outra forma de exercício do Poder. Daí a escolha do título da campanha: Política Feminista para Transformar o Poder.

 

Ao longo das prévias eleitorais, fomos procuradas por diversos canais midiáticos para comentar sobre a maioria do eleitorado feminino e a inquietante constatação de que mulheres não votam em mulheres. Na verdade, ninguém vota em mulheres, pois nossa autonomia política não está em jogo. Ninguém vota em mulheres porque não reconhece mulheres candidatas com chances de se eleger; porque a estrutura patriarcal e machista dos partidos exclui as mulheres dos lugares de visibilidade política. Porque todos os impedimentos ao engajamento das mulheres na vida pública e na política institucional que há anos insistimos em assinalar mantém as mulheres fora da disputa, e disseminam a falsa ideia de que os homens estão melhor preparados. Basta ver os comentários após o show unificado dado pelas mulheres nesse último fim de semana contra uma ameaça comum: o crescimento do fascismo e da violência política.

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Foto: Louise Akemi

Muitos desses comentários associaram o crescimento da candidatura fascista indicado nas pesquisas como uma resposta ao ato das mulheres e, a partir daí, criticando a sua realização. O que chama a atenção é que várias dessas críticas vieram de homens que se dizem à esquerda. Questionar a validade do maior ato convocado e realizado pelas mulheres nesse País, para além do maior ato dessas eleições, é certamente subestimar as mulheres e seu poder, reforçando a visão disseminada pelo patriarcado de que as mulheres “não entendem de política”.

 

Para o sistema e para a grande maioria dos homens no poder, o que realmente interessa é disputar nossos votos para elegerem a si mesmos: somos utilizadas como um imenso eleitorado em disputa. Existe um fosso enorme entre poder se candidatar e se eleger de fato. Esse fosso contém elementos culturais, de organização política partidária, além do próprio sistema político, que dificultam a entrada das mulheres nos espaços institucionais de poder.

 

Não apenas nós mulheres, mas toda a diversidade populacional excluída dos espaços de poder e decisão, mesmo no campo da esquerda, é chamada de “minorias”. Somos a maioria que é chamada de “minoria”, mas sabemos que a verdadeira minoria é quem detém a maior parte do poder. Nossa sociedade não tem 90% de pessoas do sexo masculino, brancos, proprietários, cristãos. Não mesmo. É essa minoria que detém a maioria das propriedades e dos recursos, e, há séculos, usurpa o poder para lucro próprio, minando qualquer possibilidade de construção de cidadania e de direitos para nós, a maioria da população.

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Foto: Carol Lando

No dia 29 de setembro, o que as mulheres em marcha em mais de 400 municípios brasileiros e em dezenas de outras cidades no mundo afora ecoavam em alto e bom som é que queremos ser vistas como Mulheres e termos nossa autonomia e dignidade respeitadas. Não por exercermos papéis que agradem à ordem patriarcal conservadora: mãe, filha, esposa, mas sim Mulheres - em toda a diversidade que nos compõe: de sexo, raça, etnia, geração, região, para citar somente algumas.

 

Não se enganem, parte central da disputa ideológica atual é a insistência em subjugar nossos corpos para o deleite masculino. Porque mãe solteira, mulheres que amam mulheres, que fazem escolhas autônomas sobre seus projetos de vida, que não se submetem a padrões de beleza impostos em busca da aprovação do olhar masculino, não interessam ao patriarcado. Assim, ouvimos perplexas os brados de que estupro é algo aceitável e que deveria ser utilizado como instrumento de controle daquelas que ousam romper esse modelo, que podem ser arremessadas pela janela, pois a impunidade e a banalização da violência impera em nossa sociedade patriarcal.

 

A luta das mulheres no final de semana passado pode nos ensinar muita coisa. Mostrou a capacidade que temos de nos unirmos em uma pauta comum: a do enfrentamento ao fascismo, nesse momento canalizado numa candidatura específica, mas que sabemos, e há anos denunciamos, se expressa e está presente nesse pleito em diversas outras candidaturas ao Senado, à Câmara, aos Governos Estaduais e às Assembleias Legislativas.

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Foto: Isabela Dutra

A diversidade do ato #EleNão (uma manifestação realmente suprapartidária e para além dos partidos) deixou evidente, apesar das diferenças entre as mulheres presentes nos atos, a certeza de que Juntas Somos Mais capazes de transformar o poder. É isso que queremos, mais mulheres juntas para transformar a política e construir outras formas de exercício do Poder. Quisera os homens – ao menos os comprometidos com mudanças sociais estruturantes – aprendessem a nos ouvir, ao invés de nos acusar de sermos culpadas, mais uma vez, pela ascensão masculina fascista ao Poder.

 

Mas todos aqueles (e também aquelas) que querem nos “colocar em nosso lugar” que se preparem. Nós mulheres chegamos para ficar. Não recuaremos e seguiremos na resistência e em marcha na defesa de uma sociedade justa, igual e livre de todas as formas de violência e opressão!

 

Chega de nos culparem! Basta de violência, basta de machismo! Eles não, eles nunca. Política Feminista para Transformar o Poder!

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Foto: Louise Akemi

 

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