Por Sônia Corrêia
Não há como diminuir o tamanho da catástrofe que aconteceu ao Brasil... Temos o líder mais extremista de todas as nações democráticas, e precisamos torcer para que a situação continue a ser essa: afinal, talvez não estejamos mais entre as nações democráticas em breve... Se j á há o medo, a liberdade não é a mesma. Se há a preocupação de não provocar uma reação desmesurada do lado do poder, a liberdade não é mais a mesma. Hoje já amanhecemos menos livres. (Celso Rocha de Barros, Folha de São Paulo, 29 de outubro de 2018)
Tempo de luto
Política é razão e afeto. Por isto, escrever sobre o que ocorreu nas eleições brasileiras de 2018 é tarefa dolorosa. Tendo observado no país por tantos anos a maturação de políticas cada vez mais conservadoras sobre aborto, sexualidade e gênero, não fiquei exatamente surpresa com o resultado. Contudo, a materialização durante o processo eleitoral de múltiplas formações de direita ativas e raivosas, as cenas de comemoração pós-vitória e o conteúdo dos discursos do candidato presidencial eleito me lançaram numa terra desconhecida.
Enquanto processava esse sentimento perturbador, li e reli vários artigos clássicos sobre o Fascismo, como por exemplo, o artigo magistral de Umberto Eco e as análises notáveis sobre a eleição de Trump, em 2016. Uma delas me tocou profundamente: Time for Refusal, de Teju Cole, na qual o autor resgata a peça de Ionesco “Os Rinocerontes” em que as pessoas que vivem uma aldeia são transformadas em rinocerontes, como uma metáfora da difusão gradual do fascismo:
Quase todos sucumbem: aqueles que admiravam a força bruta dos rinocerontes, aqueles descrentes do que estavam vendo, e aqueles que inicialmente se alarmaram. Um personagem, Dudard, declara: Se você vai criticar, é melhor fazê-lo por dentro". E assim, ele voluntariamente sofre a metamorfose, e não há caminho de volta para ele.
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