Por defender os pobres do campo tornou-se alvo de constantes ameaças, mas nunca se intimidou
Enaile do Espírito Santo Iadanza - Universidade de Brasília
Brutalmente assassinada pelo latifúndio por se somar à luta pelos direitos de acesso à terra dos trabalhadores e das trabalhadoras do campo na Amazônia, irmã Dorothy Mae Stang não está entre nós há 20 anos, completados no dia 12 de fevereiro de 2025.
Retomemos brevemente a luta de irmã Dorothy para que, principalmente, os jovens a conheçam e também conheçam o terror que o latifúndio impõe aos camponeses, agricultores familiares, povos originários, quilombolas e às inúmeras comunidades que trabalham e vivem nos campos, florestas e águas.
Irmã Dorothy chega ao Brasil em 1966, proveniente dos EUA, onde nasceu em 7 de junho de 1931. Naturalizou-se brasileira e nos anos oitenta fixou-se na Região do Xingu, na Amazônia brasileira, mais precisamente no município de Anapu, estado do Pará. A congregação de irmã Dorothy era a das Irmãs de Nossa Senhora de Namur.
As atividades da religiosa estavam voltadas para a busca da resolução dos conflitos pela posse e uso da terra. Ajudou a implementação do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Esperança (PDS Esperança), uma categoria de assentamento estabelecido pelo Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). Esse foi o motivo principal de seu assassinato. A área do PDS Esperança era disputada pelo latifúndio e por madeireiros.
Irmã Dorothy fez parte da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e participou da fundação da primeira escola de formação de professores de Anapu. Pretendia que os trabalhadores conhecessem seus direitos para os defenderem e lutarem por eles.
Por defender os pobres do campo tornou-se alvo de constantes ameaças, mas nunca se intimidou, até que aos 73 anos, no dia 12 de fevereiro de 2005, foi assassinada a tiros enquanto caminhava numa estrada de terra próxima de sua residência. Conforme as investigações, foram cinco os seus assassinos, entre eles dois fazendeiros. Um deles foi condenado num primeiro julgamento e num segundo absolvido por seu capataz ter assumido a culpa, o que causou enorme indignação.
A morte de Dorothy fez com que a sociedade, em geral, voltasse suas atenções para a violência que ocorre no campo brasileiro, em particular na Amazônia. O debate sobre a grilagem e expropriação e concentração da terra e dos bens da natureza, e sobre a luta e o assassinato da irmã Dorothy devem continuar repercutindo para que cada vez mais pessoas se mobilizem em defesa dos direitos humanos dos povos e populações oprimidas pelo latifúndio e seus aliados.
Lembremos sempre dos mártires da terra.