Movimento Arco-Íris foi um dos contemplados pela premiação promovida pelo MDHC

O concurso de moda “Rainha das Matas" é uma das iniciativas de inclusão (Foto: Movimento Arco-Íris/Reprodução)
Ao tomar conhecimento do Edital do Prêmio Cidadania na Periferia, promovido pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC), Ágata Felina, imaginou que o Movimento Arco-Íris, por ela fundado, no município de Soure, localizado no Arquipélago do Marajó, poderia ser um dos concorrentes.
Ela estava certa. A iniciativa, que atua com o objetivo de unir e fortalecer a comunidade LGBTQIA+ na região, foi uma das 107 selecionadas da premiação criada pelo MDHC. A pasta busca potencializar, reconhecer, valorizar e premiar projetos protagonizados pela população periférica, que contribuem para a efetividade dos direitos humanos e da cidadania nos seus territórios.
“Éramos uma população à margem da sociedade, mas, com a conscientização promovida por meio de rodas de conversa e com o impacto social causado pelos eventos, além do retorno financeiro, percebemos a diminuição do preconceito contra nós”, afirmou Ágata. Segundo ela, isso aconteceu principalmente por causa do envolvimento da comunidade na organização das atividades relacionadas ao projeto.
Um arco-íris na maior cidade do Marajó
Ainda não existiam eventos voltados ao público LGBTQIA+ em Soure, maior cidade do Arquipélago do Marajó, que é composto por 16 municípios, até a criação do Movimento Arco-Íris. A iniciativa promove atividades esportivas com modalidades voltadas ao público LGBTQIA+, no evento chamado “Levada”, que conta com diversas atividades esportivas como futebol, cabo de guerra, queimada, pega porco de olho vendado, corrida de cavalo marajoara e luta marajoara.
“A gente fica muito feliz de poder ter como uma das beneficiárias do prêmio uma instituição do movimento LGBTQIA+ que atua na Ilha do Marajó, que é um lugar que tem muita dificuldade para chegar política pública, e para essa população é ainda mais difícil chegar”, afirma Symmy Larrat, Secretária Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+. Symmy frisa que o prêmio é uma forma de apoiar ações concretas em prol dessa população em seu território.
O Movimento Arco-Íris também realiza o concurso de moda “Rainha das Matas", com temática relacionada a questões ambientais, organizando palestras sobre ecologia e saúde. O festival acontece anualmente e alia moda, inclusão social e conscientização ambiental. De acordo com Ágata, no dia do evento, os participantes usam fantasias feitas com materiais recicláveis e elementos da floresta. O concurso, que já se tornou uma atração turística para a cidade, abordará, em 2025, o tema “Carbono azul e a importância dos manguezais”.
“O Rainha das Matas" é muito importante não só para público LGBTQIA+, mas, para toda sociedade marajoara e brasileira, porque leva mensagens muito importantes de amor pelo meio ambiente, respeito pelo ser humano. Quem participa do evento se sente valorizado como ser humano e visto como ser pertencente a uma classe”, afirma Ágata.
Fonte de renda
Soure tem 24.204 habitantes, segundo o Censo de 2022, e fica localizado na costa oriental do arquipélago. As famílias do município têm como principais fontes de renda o extrativismo do óleo de andiroba, a pesca de caranguejo, camarão e outros pescados e na agricultura a produção de abacaxi, açaí, coco e mandioca. Além disso, como conta Ágata, há ainda o artesanato e os pequenos comércios como alternativas de trabalho.
De acordo com Ágata, as pessoas de orientação sexual e de gênero diferente da heteronormativa encontram dificuldades para entrar nestes mercados. Em contraposição a esta dinâmica de exclusão, segundo ela, os eventos realizados pelo Movimento Arco-Íris são uma oportunidade de melhoria de vida para as pessoas participantes. Conforme Ágata, as premiações ofertadas nas competições movimentam a dinâmica de vida de toda a comunidade.
Escuta atenta
Em janeiro, o MDHC esteve em cidades do arquipélago do Marajó com o programa Ouvidoria Itinerante. A Coordenadora-Geral da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, Luise Aguirre, explica que a ideia da ação é justamente fazer um diálogo direto com a sociedade civil no território para conhecer quais as suas necessidades. Luise destaca que “o diálogo com as comunidades vulnerabilizadas é um dos pontos-chave da ouvidoria, porque no território a gente pode alcançar pessoas e coletivos que a gente não alcançaria se estivesse só em Brasília”.
Ainda de acordo com Luise, é fundamental entender como as comunidades vulnerabilizadas se organizam para que seja possível dar suporte e promover a autonomia dessas pessoas. Segundo a ouvidora, a premiação é também uma forma de aproximar estes grupos da formulação de ações do governo federal. “É muito importante esse tipo de premiação para fortalecer a comunidade, estimular que essas pessoas continuem provocando o Estado para que as políticas sejam implementadas e que elas participem do diálogo, porque, afinal, a política pública é feita para as pessoas”, defende.
Além do MDHC, por meio das secretarias de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos (SNDH); da Pessoa com Deficiência (SNDPD); da Criança e do Adolescente (SNDCA); da Pessoa Idosa (SNDPI); e das Pessoas LGBTQIA+ (SLGBTQIA+), integram a Ouvidoria Itinerante os ministérios da Saúde; da Previdência Social; da Fazenda; e da Defesa.
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Texto: R.M.
Edição: L.M.
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