Durante lançamento, vereadoras de municípios do interior relataram rotina de ofensas por colegas parlamentares
Foto: Celso Bender/AL-RS
A Procuradoria Especial da Mulher da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul lançou nesta sexta-feira (2) a cartilha “Violência Política de Gênero: a maior vítima é a democracia”, que aborda a violência sofrida por mulheres que ocupam cargos públicos.
A publicação aborda a Lei 14.192/2021, que estabelece normas para prevenir, reprimir e combater a violência política contra a mulher e torna crime esse tipo de prática. Além disso, a cartilha apresenta exemplos e divulga os canais institucionais para denunciar ações que atentem contra a dignidade das mulheres.
“Precisamos dar visibilidade à violência política de gênero, pois a democracia só existe de fato com a mulher ocupando espaços na política. O machismo, por outro lado, é super-representado na política”, defendeu a procuradora especial da Mulher, Sofia Cavedon (PT).
A parlamentar afirmou que a violência contra a mulher é calada na família e tem o debate patrulhado na escola, ao mesmo tempo em que os orçamentos para as políticas públicas para as mulheres na saúde, segurança, educação e assistência social vêm caindo de forma significativa. “E é na política que vamos reverter este quadro”, disse.
Durante o evento de lançamento, as vereadoras Estela Balardim (PT), de Caxias do Sul, Caren Castêncio (PT), de Bagé, e Rita Dela Justina (PT), de Sapiranga, deram depoimento sobre suas experiências. Minoritárias nos parlamentos de seus municípios, elas relataram os mais variados tipos de agressões de que são alvos no exercício cotidiano de seus mandatos.
Vereadora mais jovem de Caxias do Sul, Estela narrou uma rotina de deboches, interrupções, exclusões de decisões e ameaças nas redes sociais que partem de seus próprios colegas no legislativo municipal. As agressões culminaram com um pedido de cassação, ameaças de morte e a pecha de burra. “O vereador que mais estimulou esse tipo de violência garante que não é machista, pois até usa o elevador comigo”, disse, revelando que a Câmara Vereadores do município serrano aprovou uma moção em que pede a redução do percentual obrigatório de candidaturas de mulheres de 30% para 15%.
Caren relatou que quase chegou a ser agredida fisicamente por fazer um pedido de vistas para o projeto que tratava da implantação de escolas cívico-militares na cidade. Ela diz que é constantemente xingada de desequilibrada, histérica e raivosa durante as sessões parlamentares e, quando reclama, é acusada de “sempre tentar se vitimizar”.
A última agressão que sofreu foi a manipulação de uma fotografia sua publicada nas redes sociais. No lugar de seu rosto, colocaram uma máscara de palhaço. O caso foi parar na Justiça, que deu ganho à causa da petista. “Eles fazem de tudo para mostrar que ali não é nosso lugar”, afirmou.
Já Rita contou que a escalada de violência contra ela e seus familiares aumenta a cada eleição. “Violência patrimonial, psicológica, ataque à imagem, distorções, mentiras e fake news fazem parte do arsenal contra nós, que temos sido vítimas da maldade nua e crua na política”, disse.