"Se a impunidade reinar entre os Oficiais golpistas, a indisciplina é certa e novos ataques ocorrerão", escreve Carla Teixeira do Conselho Editorial da Revista Temporalidades
Carla Teixeira
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História Membro do Conselho Editorial da Revista Temporalidades - Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
O Brasil e o mundo ficaram indignados com os ataques de bolsonaristas que depredaram o patrimônio histórico brasileiro no último domingo (08), em Brasília (DF). A completa destruição das sedes dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário representa a manifestação de fascistas que assumem o terrorismo como prática política, afrontam as instituições, achacam a democracia e desprezam a escolha soberana do povo brasileiro.
Após a devastação nos prédios dos Três Poderes, os terroristas retornaram para o acampamento no Quartel General, em Brasília. Durante a madrugada, blindados do Exército impediram a ação da Polícia Militar (PMDF) para desmontar as barracas. De acordo com a imprensa, havia familiares e amigos dos militares nos acampamentos. O próprio ministro da Defesa, José Múcio, admitiu, semana passada, que possuía “parentes e amigos” participando dos atos em Pernambuco e Brasília, os quais classificou como “manifestações da democracia”. Ainda em novembro de 2022, os Comandantes das forças armadas divulgaram nota apoiando os atos instalados sob seu protetorado.
Corretamente, o presidente Lula decretou Intervenção Federal na Segurança Pública do Distrito Federal, mas evitou adotar uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que colocaria o Exército na rua e daria protagonismo de solução àqueles que criaram o problema. À noite, o ministro da justiça Flávio Dino informou que já havia identificado os financiadores e que todos os envolvidos seriam presos. Governadores de dez estados anunciaram o envio de efetivo policial para garantir a manutenção da ordem pública na Capital Federal.
Está claro que, vestidos com a bandeira nacional, os terroristas não queriam tomar o poder, apenas causar destruição e impedir o governo de funcionar. Estavam guiados pelas palavras de Jair Bolsonaro, que tantas vezes incentivou a invasão dos Poderes antes de fugir para os EUA. Mas também lutavam por questões familiares: os cargos de militares no governo – perdidos com a derrota do capitão -, os pagamentos adicionais, a manutenção dos privilégios e da tutela militar sobre o poder civil. Não obstante, durante a posse dos atuais Comandantes o nome de Lula sequer foi mencionado.
Esses ataques, sem precedentes na história da República brasileira, mostram o custo histórico da conciliação com fascistas que utilizam sua função no serviço público para afrontar a democracia e destruir o patrimônio nacional. Tentam, em vão, abalar a democracia e a ampliação da cidadania conquistadas com a vida dos brasileiros mortos nos porões da Ditadura Militar ou no genocídio provocado pelo governo derrotado nas eleições de 2022. É imprescindível a identificação dos financiadores, executores e apoiadores (políticos, empresários, militares) desses atos. Os agentes públicos devem ser exonerados, pois não servem à confiança da sociedade brasileira e todos devem responder ao rigor da Lei.
Afastar o governador bolsonarista do DF, Ibanês Rocha, prender Anderson Torres, os 1.500 terroristas em Brasília e até o próprio Jair Bolsonaro poderá até ser fácil. A questão é: Quem prenderá o Alto-Comando? Quais responsabilidades serão atribuídas ao ministro da Defesa e aos comandantes militares, especialmente os de Brasília? Quem deu a ordem para que blindados do Exército protegessem os terroristas no QG? Os integrantes da “Família Militar” envolvidos nos atentados terroristas serão processados? Os PMs e Oficiais do Exército que apoiaram os terroristas serão demitidos e presos?
Neste momento, dois temas são fundamentais: primeiro, garantir que não haverá anistia para qualquer agente público ou privado que tenha contribuído para a destruição do patrimônio histórico nacional; segundo, que o poder civil controle o poder militar e faça valer a vontade soberana do povo brasileiro. Ambos os aspectos não puderam ser resolvidos pelos comandantes políticos da redemocratização – na década de 1980 – e hoje cobram seu preço. Os generais bolsonaristas precisam ser enviados à reserva e processados, e o ministro da defesa demitido. Os critérios de ascensão e formação dos integrantes das forças armadas precisam ser alterados para responder aos interesses do povo brasileiro, não da corporação.
Se a impunidade reinar entre os Oficiais golpistas, a indisciplina é certa e novos ataques ocorrerão. Conciliar com terroristas selará a miséria profunda de um povo condenado à eterna tirania. Com apoio internacional, dos Governadores, dos Poderes Legislativo e Judiciário, e com a presença massiva do povo nas ruas, Lula, como Comandante Supremo das Forças Armadas e líder incontestável da frente ampla que se formou para derrotar o autoritarismo, dando sobrevida à Nova República, poderá dar um passo fundamental na luta política de sua geração: aprofundar a democracia e consolidar o poder civil sobre os militares. SEM ANISTIA! Terroristas e violentadores na cadeia! Democracia para sempre!!
fonte: https://www.brasil247.com/blog/quem-vai-ter-coragem-de-prender-os-comandantes
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Generais do Exército sonham reviver a ditadura militar, mas passarão à história como cúmplices do terrorismo golpista que destruiu a capital.
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“POLÍTICOS, JORNALISTAS E JUÍZES se tornaram o pior pesadelo das forças policiais”, disparou Luiz Fernando Ramos Aguiar, major da Polícia Militar do Distrito Federal em 2021. Por escrito e assinado, ele ameaçou autoridades e toda uma classe profissional por terem reagido à maior chacina perpetrada pelas polícias do Rio de Janeiro, na favela do Jacarezinho, em maio passado.
Mesmo publicado num blog da esgotosfera policial, como foi o caso, o artigo deveria ter sido farejado pelos comandantes de Aguiar e lhe rendido uma punição exemplar. Não foi, e ainda ficou pior: a diatribe chamou a atenção dos editores do jornal paranaense Gazeta do Povo, que a reembalou e republicou para um público muito maior.
Ainda assim, nada ocorreu a Aguiar. Ao contrário – ele segue com cargo de confiança na corporação. Recebe, limpos, mais de R$ 18 mil mensais, segundo o Portal da Transparência.
A leniência das autoridades com a radicalização à extrema direita das forças de segurança vai muito além do major, no entanto. O nome do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, por exemplo, vem sendo há 12 anos usado por um site para vender conteúdo fascista e politicamente enviesado – além de publicidade.
É por isso que surpreende a zero pessoas bem-informadas a facilidade com que terroristas invadiram e destruíram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal neste domingo, dia 7, em Brasília. Já sabemos que colegas do major Aguiar bebericavam água de coco enquanto assistiam aos terroristas destruírem a Praça dos Três Poderes.
Claro, há alguns protagonistas entre os culpados óbvios pelo maior atentado terrorista já visto no Brasil. O primeiro é Ibaneis Rocha, um advogado ricaço e prepotente que resolveu brincar de político e torrou alguns milhões para se eleger e reeleger governador do Distrito Federal pelo MDB. Espécie de Bolsonaro que prefere vinhos caríssimos a frango com farofa, Ibaneis resolveu zombar do país todo ao renomear o delegado da Polícia Federal Anderson Torres como seu secretário da Segurança Pública.
Torres foi chefe de gabinete do deputado federal Fernando Francischini, do União Brasil paranaense, cassado por mentir sobre as urnas eletrônicas que o elegeram. Como prêmio, foi chamado por Ibaneis para comandar a Segurança do DF, mas deixou o cargo em março de 2021 para ser ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. Sob o comando de Torres, a Polícia Rodoviária Federal matou Genivaldo de Jesus Santos numa câmara de gás improvisada no camburão de uma viatura no Sergipe.
O assassinato não custou o cargo a Torres, que ficou à vontade para tentar roubar a eleição para o chefe Bolsonaro – usando, novamente, a PRF – e ficar de braços cruzados quando golpistas resolveram tocar o terror em Brasília em 12 de dezembro, dia da diplomação de Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin no Tribunal Superior Eleitoral.
Nada disso fez Ibaneis desistir de devolver-lhe a Secretaria da Segurança Pública. O governador tentou salvar o próprio pescoço demitindo Torres no auge da barbárie do domingo – àquela altura, já se sabia que o Batalhão de Choque da PM do Distrito Federal só fora acionado quando golpistas já depredavam os prédios públicos mais importantes do país. Tarde demais, Ibaneis: se houver um resto de institucionalidade no Brasil, você e Torres serão escorraçados da vida pública. E, talvez, presos por prevaricar.
A lista de honra das tchutchucas de terroristas também tem lugar para o ministro da Defesa José Múcio Monteiro, que puxava o saco dos militares nos anos 1970 e inexplicavelmente foi chamado por Lula para seguir fazendo a mesma coisa. Na semana passada, Múcio riu no Salão Nobre do Palácio do Planalto quando precisou falar sobre os amigos e parentes que dizia ter nos acampamentos golpistas protegidos pelo infame Exército brasileiro.
“Não sabia que iam levar isso tão a sério”, divertiu-se o ex-arenista. Neste domingo, perguntei à assessoria de Múcio se ele seguia achando o golpismo bolsonarista “democrático” – e se algum amigo ou parente dele lhe mandou selfies destruindo prédios públicos. Dessa vez, o outrora risonho ministro preferiu o silêncio – a essa altura, indecoroso como os atentados terroristas.
A destruição é militar
O foda-se institucional, justiça seja feita, é obra militar. Eduardo Villas Bôas, Sérgio Etchegoyen, Hamilton Mourão, Walter Braga Netto, Luiz Eduardo Ramos, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira e Marco Antônio Freire Gomes, todos generais de quatro estrelas do Exército, sonharam reviver a ditadura militar, mas passarão à história como cúmplices da destruição da capital federal. Terão a seu lado os ex-comandantes da Marinha, Almir Garnier Santos, e da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Junior.
Tudo isso – a podridão institucional de toda uma geração de altos comandantes militares, as risadas cínicas de Múcio, a prepotência de Ibaneis e a cumplicidade aberta de Torres – se materializou, ontem, na tranquilidade com que PMs assistiram inertes à destruição de Brasília. Nisso, foram seguidos pelos militares do Regimento de Cavalaria de Guardas e do Batalhão da Guarda Presidencial, unidades do Exército cuja ÚNICA função (o grifo é necessário aqui) é proteger a sede do poder Executivo.
Mas só quem acordou ontem se surpreendeu. A fleuma com que fardados se sentem à vontade para atacar a democracia se exibe cotidianamente, por exemplo, nos esbirros golpistas de generais em redes sociais. Ou na tranquilidade com que o guarda da esquina – em nosso exemplo, o major da PM Luiz Fernando Ramos Aguiar – ataca de uma só vez a magistratura, a classe política e toda a imprensa sem temer retaliação e se fazendo cúmplice do terrorismo da extrema direita.
Cada qual dessas categorias profissionais, diga-se, tem seu quinhão de culpa na esbórnia institucional. Juízes – dos circunspectos Luiz Fux e Luís Roberto Barroso ao baixo clero da primeira instância – aplaudiram o vale-tudo jurídico-político da Lava Jato e se fizeram instrumentos da abjeta propaganda ideológica da extrema direita sem serem de fato enquadrados pelo Conselho Nacional de Justiça.
(Parêntese necessário: o Ministério Público tem como uma de suas funções fiscalizar e controlar a atividade policial. Mas, há alguns anos, o grosso dos promotores e procuradores passou a gostar da sensação de descer o cacete e prender sem provas, tal como fazem os policiais militares brutamontes da Rota paulista. O retrato de Dorian Gray do acanalhamento do parquet está visível para o mundo na cumplicidade franca do procurador-geral da República, Augusto Aras, e sua número dois, Lindôra Araújo, com a extrema direita.)
O quinhão de culpa da classe política é imenso e democraticamente distribuído, mas pode ser resumido em três tristes homens públicos paridos pelo Paraná. Ricardo Barros, deputado federal do PP, um sujeito sempre disposto a servir o governo de turno, tentou culpar Lula, empossado há uma semana, as urnas eletrônicas e o ministro Alexandre de Moraes pela balbúrdia em Brasília.
Se houver institucionalidade no Brasil, Ibaneis e Torres serão escorraçados da vida pública – e, talvez, presos.
Deltan Dallagnol, deputado federal do Podemos, acreditou que um Cristo que pertencia a Lula havia sido roubado por ele da Presidência e teve frêmitos de prazer ao imaginar-se lhe passando as algemas. Ontem, só foi balbuciar alguma crítica à depredação generalizada de um patrimônio público e histórico perpetrada por seus irmãos de extrema direita depois das 20h. Com muitos mas, contudos e poréns.
Sergio Moro, que como juiz foi alicerce fundamental da ascensão da extrema direita, foi ainda pior: atacou o governo Lula por “reprimir protestos”. Mais tarde, como a panela de pressão explodindo, disse que os terroristas “precisam se retirar dos prédios públicos antes que a situação se agrave” – sem pedir a prisão deles.
Por fim, é preciso haver uma autocrítica vinda de nós, jornalistas. Neste domingo, a principal coluna política do maior jornal brasileiro, a Folha de S.Paulo, assim arrematou uma nota sobre a chegada de ônibus com golpistas a Brasília: “Os manifestantes contam com uma rede de solidariedade para se manterem acampados”. Um par de horas depois, os “manifestantes”, amparados por sua “rede de solidariedade”, passaram a destruir a capital.
É espantoso que haja alguma surpresa ante o cenário desolador deste domingo. Quem quer que esteja disposto a enxergar as coisas como são já percebeu que as polícias, as Forças Armadas, parte do Ministério Público, do poder Judiciário e da classe política não estão à altura dos papéis institucionais que a Constituição e a sociedade lhes confiaram. Precisarão, todos, ser vigiados de perto pela parcela democrata da sociedade até que sejam devidamente saneados e reconstruídos. Uma tarefa que não é mais adiável – sob pena de sermos, todos, demolidos pelo talibã que veste farda ou camisas da CBF e age cada vez mais às claras no Brasil.
"Houve uma operação de sabotagem comandada por Anderson Torres", diz Cappelli sobre terrorismo em Brasília
"O que aconteceu não foi por acaso. Foi sabotagem do Anderson Torres, que assumiu a Secretaria de Segurança no dia 2, mudou o comando e viajou", disse o interventor
247 - O secretário-executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Cappelli, nomeado pelo presidente Lula (PT) interventor na área de segurança pública do Distrito Federal, afirmou que as ações terroristas promovidas por bolsonaristas no domingo (8), em Brasília, foram resultado de um “ato de sabotagem" do agora ex-secretário de Segurança Pública Anderson Torres, ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro (PL): "assumiu a Secretaria de Segurança no dia 2, mudou todo o comando e viajou. Então o que aconteceu não foi por acaso”.
“O que faltou no domingo foi comando, foi o comando e a liderança da Secretaria de Segurança do Distrito Federal. Nessas poucas horas à frente da secretaria, eu posso afirmar que o que aconteceu não foi por acaso. Foi um ato de sabotagem do secretário Anderson Torres”, disse Cappelli à CNN Brasil, nesta terça-feira (10).
“Estou há 36 horas com os oficiais aqui da Polícia Militar do DF e todos atenderam prontamente ao meu comando. O que posso dizer é que faltou comando, liderança da Secretaria de Segurança”, ressaltou, destacando que “no domingo, dia 1, na posse do presidente Lula, nós tivemos uma posse com milhares de pessoas e uma posse com uma operação de segurança extremamente exitosa e elogiada por todos. O que mudou em sete dias? Do dia 1 para o dia 8? É simples. No dia 2, Anderson Torres, ex-ministro de Bolsonaro, assumiu a Secretaria de Segurança do Distrito Federal, exonerou todo o comando da secretaria, mudou todo o comando e viajou”.
“Se isso não é sabotagem, eu não sei o que é. O problema não são os oficiais, não é a corporação, não são os oficiais da Polícia Militar. Nas últimas 36 horas, eu tive ao meu lado, praticamente sem dormir, dezenas de oficiais, de delegados da Polícia Civil do DF que cumpriram suas missões. O que faltou no domingo foi a liderança da Secretaria de Segurança. Houve uma operação estruturada de sabotagem comandada pelo ex-ministro bolsonarista Anderson Torres. Ele montou a sabotagem e fugiu do Brasil”, completou em seguida.