General Júlio César de Arruda, nomeado recentemente para comandar o Exército em novo governo, curte posts com teor golpista e segue influencers da extrema direita e ex-presidente Bolsonaro - mas não segue seu atual chefe: o presidente Lula.
Ex-prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, preso por corrupção, conversa com general Júlio Cesar de Arruda quando ele era comandante Militar do Leste. Foto: Marcos de Paula / Prefeitura do Rio
Após os atos golpistas em Brasília no dia 08 de janeiro de 2023, uma das perguntas principais que surgem em meio ao turbilhão desta intentona antidemocrática, houve postura pusilânime por parte das forças repressivas do Estado ou o bolsonarismo ainda choca os seus ovos no atual governo?
Alguns nomes que foram cotados para o novo governo Lula levantaram debates e receios pelo seus históricos de afagos e apoio ao bolsonarismo. Além de José Múcio, atual ministro da Defesa, temos um nome para o qual devemos dar especial atenção dada a conjuntura que se apresenta: Julio Cesar de Arruda, o novo comandante do Exército.
Em uma breve pesquisa feita pelo jornalista Carlos Alberto Jr. no perfil de Julio Cesar no Twitter, que foi recentemente criado em setembro de 2022, o leitor vai se deparar que entre os poucos perfis que o atual comandante segue estão os generais mais golpistas do Exército: Braga Netto e Villas Boas. Também segue seu ex-chefe: o ex-presidente Bolsonaro. Mas, curiosamente, não segue o seu comandante-em-chefe atual, o presidente Lula. Segue também dois expoentes da extrema direita: Benjamin Netanyahu e o ex-vice-presidente Hamilton Mourão.
“A fratura exposta que se apresenta, requer, desoneração em massa dos bolsonaristas no governo e a organização de uma força popular para salvar nossa democracia.”
O presidente Lula que não é um perfil que Julio Cesar acompanha. Aliás, em seu histórico de curtidas de tuítes, grande maioria são ataques pesados contra o atual presidente, além de publicações com o teor golpista. Muitas publicações curtidas e endossadas pelo comandante, são de parlamentares que já são investigados pela Justiça por fomento à ações antidemocráticas.

Curtidas feitas pelo general Julio Cesar de Arruda no Twitter
De onde veio o novo comandante do Exército
Múcio, que indicou os nomes para o comando das Forças, escolheu Julio Cesar para o comando do Exército. Arruda é um dos mais antigos entre os oficiais mais graduados de suas respectivas forças com um extenso currículo de 40 anos de carreira. Ainda adolescente, entrou na Escola Preparatória de Cadetes do Exército, que fica em Campinas (SP).
Se formou dois anos depois e ingressou na Academia Militar das Agulhas Negras. Em 1981 se tornou Aspirante a Oficial da Arma de Engenharia. Durante a vida militar, serviu unidades em Itajubá (MG), Rio de Janeiro, Cuiabá e Brasília. Como coronel comandou a Escola de Administração do Exército/Colégio Militar de Salvador entre 2008 e 2010.
No exterior, foi Observador Militar da Segunda Missão de Verificação das Nações Unidas (Univem II), em Angola, em 1994 e Assessor da Cooperação Militar Brasileira no Paraguai, no biênio 2002-2003.
Diante dos seguidos atos terroristas organizado pela direita, urge fazer uma faxina no Exército – além de mobilizar uma frente antifascista para combater os golpistas nas ruas. A fratura exposta que se apresenta, requer, desoneração em massa dos bolsonaristas no governo e a organização de uma força popular para salvar nossa democracia.
Sobre a autora
GERCYANE OLIVEIRA
é tradutora e redatora na Jacobin Brasil, jornalista independente e discente de Ciências Sociais na Unifesp.
fonte: https://jacobin.com.br/2023/01/novo-comandante-do-exercito-flerta-com-golpistas-no-twitter/
Até que ponto a “Festa da Selma” era a “Festa da Selva!”?
No domingo, o Exército colocou blindados para proteger a entrada do seu quartel-geral. Que papel tiveram as Forças Armadas na tentativa de golpe?
RUDOLFO LAGO - Congresso em Foco
11.01.2023 11:14
Não parece haver muita dúvida que o código criado pelos baderneiros golpistas para organizar a tentativa de golpe de Estado que aconteceu no domingo (8) trazia uma conotação militar. Nas mensagens enviadas nos grupos de extrema-direita, especialmente no Telegram, a senha para o golpe era “Festa da Selma”. Há uma clara similitude entre o nome feminino adotado e o grito de guerra que os militares adoram: “Selva!”. Mas até que ponto os militares estão envolvidos na arquitetura desse golpe é coisa que ainda precisa ser apurada.
E precisa ser apurada logo. Bem mais importante que as 1.500 prisões em flagrante é a identificação e prisão de quem talvez não tenha estado na Praça dos Três Poderes no domingo. Quem arquitetou o golpe? Quem financiou o golpe? Quem pagou por mais de dois meses de acampamento na frente dos quartéis do país? Quem pagou pelos diversos ônibus vindos de vários pontos? Há financiamento internacional? Vindo de quem e de onde? Há autoridades envolvidas? Quem são (uma delas já parece identificada, o ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do DF Anderson Torres, mas bem provavelmente não é somente ele)? E os militares? São militares isolados ou a instituição Forças Armadas está de alguma forma envolvida?
A primeira coisa que fica clara é que a arquitetura do golpe foi estrategicamente pensada por pessoas que tinham noção de logística para a produção do caos. Felizmente, talvez não com toda a competência que imaginavam ter, uma vez que, além dos três principais prédios da República o caos não se produziu. E as instituições prosseguem funcionando normalmente, porque a carência de inteligência dos arquitetos do caos não percebeu que elas não precisam de mesas e cadeiras para funcionar. No domingo mesmo, o presidente Lula reunia-se com a ministra Rosa Weber, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) debaixo da marquise do prédio.
De qualquer modo, os baderneiros sabiam como fazer ligar o sistema de extintores de incêndio dos palácios para jogar água e dissipar os efeitos de gás lacrimogênio. Orientaram os manifestantes a trazer máscaras e capas de chuva para se protegerem de gás de pimenta. Pensaram no fechamento de refinarias para evitar a produção de combustíveis. Em derrubar torres de energia para cortar o fornecimento de luz. Em bloquear estradas. Há um bocado de estratégia militar em tudo isso.
Certamente, não basta apoio das Forças Armadas para que um golpe seja bem-sucedido. Em 1964, o golpe aconteceu porque, além das Forças Armadas, havia apoio de parte expressiva da sociedade e apoio internacional. O governo dos Estados Unidos, por exemplo, estacionou parte da sua frota na costa brasileira para dar um eventual suporte caso fosse necessário. Agora, todos os principais países do planeta manifestam apoio a Lula e à democracia brasileira.
Um temor admitido por fontes do governo é de que, em um caso de caos maior, caso o governo viesse a decretar Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e pedisse auxílio militar, pudesse haver uma rebelião de oficiais de baixa patente. Decretar a GLO poderia ser a senha para uma interpretação errada do famoso artigo 142 da Constituição, a tal “intervenção”.
É por isso que há no governo quem defenda a atuação do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. Ele pisava e pisa num terreno delicado. Buscava obter um clima de entendimento com as Forças Armadas. Talvez tenha de fato errado em algumas declarações públicas. Por isso, neste momento, está sendo orientado a submergir, atuar nos bastidores e deixar Flávio Dino como o porta-voz mais destacado. É uma sintonia delicada entre não atiçar e não mostrar subserviência. Uma sintonia que não é simples.
O fato é que, de forma institucional, a “Festa da Selma” não foi “Festa da Selva!”. O trabalho é garantir que ela siga não sendo.
Generais insubordinados e pastores extremistas: nossas saúvas famintas, por Marcio Valley
11 de janeiro 2023
Um antigo ditado dizia que “ou o Brasil acaba com as saúvas, ou as saúvas acabam com o Brasil”, em função do estrago que faziam nos campos de plantações....