A história da madre Maurina Borges da Silveira, que foi presa, torturada e estuprada durante a ditadura militar (1964-1985), é a mais emblemática desse período. Documentário tem roteiro e direção de Gabriel Silva Mendeleh, da Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP.

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Publicado: 07/02/2023 - Jornal da USP
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Filme traz a simulação de uma das celas em que a freira Maurina ficou presa durante a ditadura militar – Foto: Renata Prado/Divulgação

Maurina: o Outono Que Não Acabou, filme brasileiro premiado no Festival Cinema Independente de Sevilha (Seviff), na Espanha, como Melhor Documentário de Longa-Metragem, Melhor Diretor de Documentário de Longa-Metragem e Melhor Diretor Estreante de Documentário de Longa-Metragem, tem roteiro e direção de Gabriel Silva Mendeleh, servidor da Superintendência de Comunicação Social (SCS) da USP. 

O longa-metragem tem 85 minutos de duração e conta a história de Maurina Borges da Silveira, freira e ex-diretora do Lar Santana, em Ribeirão Preto (SP), presa em 1969 pela ditadura militar brasileira sob  acusação de um suposto envolvimento com a Forças Armadas de Libertação Nacional (FALN). Maurina foi a única freira presa no período do regime militar (1964-1985) e sofreu diversas torturas físicas e psicológicas durante sua prisão, passando pela cadeia pública Cravinhos (SP) e pelas prisões de Tiradentes e Tremembé. Em 1970, acabou sendo extraditada para o México. 

No documentário são entrevistados ex-presos políticos de Ribeirão Preto e São Paulo que conviveram e testemunharam a rotina e torturas a Maurina nas prisões. Também contou com o depoimento de historiadores, jornalistas, religiosos e o advogado de defesa da madre. As entrevistas são intercaladas com imagens de arquivo e de reportagens da época, bem como animações e reconstituições com atores que dão vida à narrativa, reproduzindo os depoimentos e uma carta escrita pela própria religiosa enquanto extraditada no México. Um desafio, segundo Mendeleh, pois muitos documentos dessa época desapareceram ou foram “desaparecidos” e queimados. “Cada novo documento ou imagem encontrados era uma conquista, sem contar que até hoje muita gente tem medo de falar sobre o que aconteceu. A ditadura marcou profundamente nossa sociedade e as consequências são vistas até hoje”, acrescenta Mendeleh.

Carreira do jovem e premiado diretor

Atualmente Mendeleh atua na Rádio USP de Ribeirão Preto (107,9 MHz), onde produz e apresenta o programa Express Cultura. Formado em Audiovisual pela Universidade Federal de São Carlos, em 2009, aos 37 anos Mendeleh já acumula alguns trabalhos na área, como a codireção de curtametragens, produção em campanhas publicitárias e diretor de DVD de duas bandas. Mas essa é a primeira vez que atua como roteirista e diretor de longa-metragem. 

Para Mendeleh, o grande desafio de produzir cinema independente no Brasil é a falta de apoio. “Um filme é um produto caro, e conseguir dinheiro para arte no Brasil é um grande desafio, principalmente nos últimos anos, quando tivemos cortes significativos nas verbas públicas voltadas para a cultura. Além disso, enfrentamos um desafio maior ao pesquisar material da época da ditadura, quando a censura atuava dificultando a produção de notícias.” 

Ao comemorar as premiações, Mendeleh conta que já havia dirigido curtas-metragens, mas este é o primeiro longa e confessa que o desafio foi muito grande, pois documentário histórico carrega o peso de lidar com a vida de pessoas reais. “Sua ética tem que ser muito apurada, pois você está lidando com vidas e histórias de pessoas e famílias. Alguma informação ou colocação equivocada pode prejudicar muitas pessoas.” 

A cerimônia de premiação será em Sevilha no final deste mês. Produzido pela Kauzare Filmes, o documentário foi contemplado pelo Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo (Proac) em 2019 e também já foi selecionado em outros quatro festivais internacionais. O filme segue aguardando o resultado em outros festivais de cinema ao redor do mundo antes de estrear no Brasil. A data de estreia deverá ser confirmada em breve. Mas o trailer já pode ser visto aqui.

Com informações de Milena Maganin

 

fonte: https://jornal.usp.br/campus-ribeirao-preto/filme-brasileiro-sobre-freira-presa-na-ditadura-e-premiado-na-espanha/

 

 

História sobre madre Maurina é a mais emblemática da ditadura militar, diz pesquisadora

Criado em 21/10/13 22h48 e atualizado em 21/10/13 23h05
Por Elaine Patricia Cruz 
Edição:Aécio Amado 
Fonte:Agência Brasil

São Paulo – A história da madre Maurina Borges da Silveira, que foi presa, torturada e estuprada durante a ditadura militar (1964-1985), é a mais emblemática desse período. A avaliação é Denise Assis, jornalista e pesquisadora da vida da madre, autora do livro de ficção Imaculada

“[A história de madre Maurina] envolveu todas as instituições, todos os sentimentos, toda a dignidade feminina, toda a dignidade da sociedade”, disse Denise, durante audiência pública ocorrida no fim da tarde de hoje (21) na Assembleia Legislativa paulista e que reuniu parentes, jornalistas e ex-presos políticos para tentar recontar a história da madre.

Madre Maurina era diretora do Lar Santana, um orfanato para meninas em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, e foi presa no dia 25 de outubro de 1969, acusada por acobertar militantes da Frente Armada de Libertação Nacional (FALN), que se reuniam e imprimiam material, considerado subversivo à época, no porão do Lar Santana. Mas a madre não sabia que o grupo, que ocupava o porão do orfanato, era formado por militantes políticos.

“Quando ela chegou para dirigir o orfanato, já havia um grupo de jovens que ocupavam uma sala para discussão. E dentro desse grupo havia um grupo revolucionário. Quando as pessoas desse grupo revolucionário começaram a ser presas, houve uma conexão com a irmã Maurina, e ela também foi presa. Ela era inocente, não sabia o que estava acontecendo. Ela foi presa porque, quando percebeu que os rapazes começaram a ser presos, foi ver que material era aquele que havia no porão, naquela sala. Como achou que aquilo poderia comprometer muitas pessoas, ela acabou queimando o material. E esse foi o grande crime da irmã Maurina: ela queimou o material que seria uma prova [para os militares]”, disse a também jornalista Matilda Leone, autora do livro Sombras da Repressão – O Outono de Maurina Borges

Depois de presa, madre Maurina foi torturada sendo submetida a sessões no pau de arara e a choque elétrico. “Ela foi estuprada”, relatou Áurea Morete Pires, que esteve presa com a madre. Segundo Áurea, a madre nunca confirmou os estupros. “Mas quando ela voltava [para a cela], sempre voltava chorando”, disse, em depoimento hoje à Comissão da Verdade de São Paulo.

A história da madre, que morreu em março de 2011, causa ainda muitas dúvidas. Entre elas, se realmente ficou grávida de um torturador. “Eu estive com ela e não acredito que tenha sido estuprada”, declarou o Frei Manoel Borges da Silveira, irmão da madre Maurina, em entrevista à Agência Brasil. Para ele, madre Maurina assumiu “esse sofrimento”, os estupros que aconteciam com outras presas, “como se fosse uma coisa sua”.

A jornalista Denise Assis disse que certa vez, por telefone, a madre assumiu ter sido estuprada, mas negou a gravidez. “A senhora foi estuprada? A senhora engravidou?, perguntei a ela por telefone. Ela [a madre] fez uma pausa e disse que isso aconteceu [o estupro]. Mas declarou ter pedido muito a Deus para que isso não tivesse consequências. Eu então perguntei se confirmava o estupro. Ela disse sim, mas não a gravidez”, relatou Denise.

“Ela foi realmente estuprada. Quanto à gravidez, muitas pessoas falaram sobre isso. De onde surgiu essa história? Em todos os setores e com todas as pessoas com que conversei, falaram dessa gravidez. E é algo que não ficou provado”, disse Matilde Leone. 

Depois de passar cinco meses na prisão, madre Maurina foi extraditada para o México, em março de 1970, em troca do cônsul japonês Nokuo Okuchi, sequestrado por militantes de esquerda. Ela ficou 15 anos fora do país, voltando em 1985.

Para Matilde Leone, há muitas questões que ainda precisam ser investigadas sobre a história da madre Maurina. “Essa questão do filho ou do aborto é uma questão que a Comissão da Verdade poderia investigar. Isso faz parte dos desmandos e da crueldade da época. Isso faz parte da história. Se ela fez um aborto ou foi forçada a fazer um aborto, o que realmente aconteceu com a irmã Maurina? Por que houve esse silêncio e essa proibição em torno dela para que ela não contasse alguma coisa? Por que esconder?”, disse Matilde.

Para o deputado estadual Adriano Diogo, presidente da comissão, o fato de existirem dois livros sobre a madre, mas ambos ficcionais, mostra que a história dela ainda precisa ser elucidada. “Dois livros foram apresentados hoje. E os dois livros eram ficcionais. A ditadura foi tão brutal que se não se forem trazidos depoimentos na primeira pessoa, e se não se trazer [a história] na forma ficcional, as pessoas não acreditam que houve toda essa barbaridade”, declarou a jornalistas. 

“A comissão da verdade tem três níveis: memória, verdade e justiça. Mas só estamos na memória, nas vítimas. Ainda não chegamos na verdade. E a justiça não sei se vai acontecer”, ressaltou o deputado.

Edição: Aécio Amado 

fonte: https://memoria.ebc.com.br/noticias/brasil/2013/10/historia-sobre-madre-maurina-e-a-mais-emblematica-da-ditadura-militar-diz

 


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