Rhaiza Moreira de Carvalho

Pesquisas revelam o aumento de mulheres entrando na universidade. Estudo de 2008 de Moema Guedes[1], entre outros do Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa (Gemaa) sobre mulheres na ciência, relata que as mulheres vêm ocupando espaços cada vez maiores nas universidades em comparação a outros anos. Esse é um dado importante para o movimento feminista.

Porém, queremos continuar avançando, ainda precisamos ser mais representadas na pós-graduação e nos cursos de ciências exatas, onde ainda somos minoria. Não podemos esquecer que não basta conseguir passar no vestibular e entrar na universidade, é preciso permanecer. Quais medidas as universidades e o Ministério da Educação estão tomando para acolher essas mulheres, que apresentam demandas diversas na universidade, e incentivar a sua permanência?

Ao analisar o nível de desigualdade de gênero que temos no país, compreendemos que a entrada na universidade é uma realização, mas ao entrar ela se torna também um grande desafio, o desafio é sair da universidade com o diploma na mão.

Por isso, para permanência dessas diversas mulheres na universidade propomos:

  • Respeito e efetivação da minuta do nome social/nova identidade
    em todos os setores e sistemas da Universidade.
  • Criação de creches em todos os campi avançados (FCE, FGA e FUP),
    assim como no Darcy Ribeiro, com reserva de vagas para filhas e
    filhos de estudantes e trabalhadores.
  • Desenvolvimento e ampla divulgação de protocolo de acolhimento e
    enfrentamento de denúncias de assédio.
  • Capacitação periódica de professores, servidores e terceirizados e
    dos servidores que irão receber as denúncias de assédio.
  • Permanência e ampliação das vagas do auxílio-creche para estudantes
    com filhos.
  • Inclusão de um eixo voltado à saúde da mulher no programa UnB.
  • Programa de Saúde desenvolvido pela Dasu e a saúde psicossocial de mulheres trans.
  • Mais banheiros para pessoas não binaries, com postos de vigilância nas proximidades.
  • Inclusão das epistemologias trans nos currículos.
  • Cotas trans na graduação e pós-graduação.
  • Permanência da política de assistência estudantil para estudantes LGBTI+ que tiverem rompimento de vínculo familiar.


As estudantes do coletivo de Mães da UnB reivindicam ainda:

  • Garantia de refeição gratuita no Restaurante Universitário para os filhos de estudantes.
  • Treinamento em direitos humanos, questões de gênero e maternidade, racismo e lgbtfobia a docentes e técnicos integrantes do quadro de servidores da Universidade de Brasília.


Somos mulheres, mães, trabalhadoras, lutadoras, mulheres trans, campesinas, negras, lésbicas, bi, mulheres que possuem responsabilidades em casa ainda jovens que precisam cuidar de avô, tio, mãe; mulheres portadoras de deficiências, em universidades com pouco ou nenhuma acessibilidade; mulheres que vieram de outros estados e que têm o desafio de reinventar uma família em casas de estudantes (onde é possível).


E mulheres que são do mesmo estado, mas que enfrentam horas de transporte público lotado, que faz com que o caminho mais pareça uma viagem, e perdem cerca de 4 horas por dia para se deslocar para a universidade.


Somos mulheres insurgentes! Aquelas que, mesmo em meio a tantos desafios, inovam na ciência, lutam por uma universidade melhor para elas e para as que virão, protegem umas às outras, no dia a dia, contra o mundo machista e violento a que universidade infelizmente também pertence.


Mulheres que se apoiam e criam coletivos para que não mais existam esses desafios para as que virão, que lutam pela vida das mulheres, pelas que vieram e pelas que virão. Por suas filhas, sobrinhas, são comissão de frente de DCE's, coletivos e espaços de suma importância para construção de políticas públicas de permanência.


Que insurgem na luta contra o patriarcado, contra todas as vozes que disseram que esse não era seu espaço, que não íamos conseguir e que opinar refletir, estudar, inovar, criar, mudar as regras, criar novas regras, lutar não são coisas de Mulher.

Texto com a colaboração de integrantes do Diretório Central dos Estudantes Honestino Guimarães. 

[1] GUEDES, Moema de Castro. A presença feminina nos cursos universitários e nas pós-graduações: desconstruindo a ideia da universidade como espaço masculino. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, Rio de Janeiro, v.15, supl.,p.117-132,jun.2008.

Rhaiza Moreira de Carvalho é estudante da pós-graduação de Política Social. Coordenadora da pasta de mulheres do DCE Honestino Guimarães.

 

fonte: https://noticias.unb.br/artigos-main/6431-mulheres-insurgentes-e-propositivas