Para conter danos à imagem do governo após a troca da ministra do Esporte por um deputado do Centrão, Lula se cerca das remanescentes, mas não evita crítica de Janja
A acomodação do Progressistas — partido do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL) — no Ministério do Esporte, pasta que estava sob o comando de Ana Moser, tem custado caro para a imagem do petista junto a sua base histórica. Ana Moser, que foi vista embarcando em um voo para São Paulo, recebeu inúmeras mensagens de apoio. Até a primeira-dama, Janja da Silva, demonstrou descontentamento com a decisão do marido de demitir a ex-jogadora da Seleção Brasileira de vôlei.
Em uma rede social, Janja respondeu a um comentário de um apoiador que disse não estar feliz com a saída de Ana Moser. Janja respondeu, nos comentários da postagem: "Eu também não tô feliz". Na sequência da conversa, reforçou: "É triste mesmo". A postagem foi feita logo após o encerramento do desfile cívico-militar na Esplanada dos Ministérios.
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Ao longo dos dois meses de negociação para a reforma ministerial, assessores do Planalto apontaram que Janja defendeu a manutenção das mulheres no primeiro escalão do governo. Além de Moser, outra que entrou na bolsa de apostas para sair foi Luciana Santos, titular da pasta da Ciência e Tecnologia, que chegou a ser cogitada para entrar na negociação com o PP e o Republicanos.
Ana Moser disse, ontem, em entrevista à CNN, que sua demissão "foi uma decisão política, uma pena para o esporte". E acrescentou: "O governo abandonou o esporte!" Em uma rede social, ela fez um balanço dos seus oito meses de gestão. "Tivemos pouco tempo para mudar a realidade do esporte no Brasil, mas sei que entregamos muito, construímos muito e levamos a política do presidente Lula aos que tivemos contato de Norte a Sul deste país. Como mulher, lutei para conquistar espaços e, no ministério, trabalhei para transformar a realidade do esporte brasileiro. E continuarei lutando", postou Ana Moser.
A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, também manifestou apoio à ex-colega de governo. "Com trajetória admirável, Ana Moser recuperou o papel social transformador do esporte em oito meses de governo. Atuou incansavelmente pela valorização do futebol feminino e pela igualdade entre atletas mulheres e homens. Tenho certeza de que nos encontraremos em breve em futuras parcerias", escreveu Gonçalves em suas redes sociais.
A ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck, também usou as plataformas digitais para se solidarizar com a ministra demitida. "Com seriedade e competência, Ana Moser encara o esporte enquanto atividade capaz de transformar a sociedade. Para mim, é uma honra termos trabalhado juntas e compartilharmos de um projeto de país", escreveu Dweck.
No palanque oficial do desfile, o presidente Lula e a primeira-dama ficaram rodeados, na maior parte do tempo, por todas as nove ministras remanescentes no governo. A imagem foi traduzida como estratégia de contenção de danos pela saída de uma das poucas mulheres que ocupam cargos de primeiro escalão.
No esforço de reduzir as críticas, o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que Ana Moser fez um importante trabalho à frente da pasta, e minimizou o impacto da troca da ex-atleta por um deputado do Centrão. "Mudam os jogadores, mas não muda a estratégia do time", disse o ministro.
"Quero registrar o carinho e a admiração do trabalho que vinha sendo feito pela ministra Ana Moser, o presidente Lula tem uma grande consideração (por ela). Nesse período, ela plantou as sementes e já começou a colher os frutos dos compromissos do governo, que não mudam", declarou Padilha, complementando que a ex-ministra deixa um legado para o governo.
Para justificar a troca de comando no Esporte, Padilha disse que a reforma ministerial foi o encerramento de uma etapa importante, que trouxe para a base governista todos os partidos que se posicionaram como defensores da democracia e contrários aos ataques de 8 de janeiro. "Ontem, o presidente deu o desfecho a uma etapa de incorporar na equipe ministerial líderes de duas importantes bancadas que já vinham ajudando o governo", disse Padilha.
Márcio França
Alexandre Padilha também agradeceu ao ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, que deixará o cargo contra a vontade, para assumir o novo Ministério da Micro e Pequena Empresa, que será criado.
França foi um dos primeiros a chegar ao palanque das autoridades na Esplanada dos Ministérios. Ele publicou, ontem, em uma rede social, uma foto de Lula cumprimentando o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do Republicanos, mesmo partido do deputado Sílvio Costa Filho (PE), que irá assumir o comando do Ministério dos Portos e Aeroportos. E escreveu, em tom irônico: "Saúdo Lula por trazer para o governo o Tarcísio de Freitas e seu partido para nos apoiar". França e o governador de São Paulo são adversários políticos no estado.
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