Quase lá: Manifestação marca julgamento do caso de estudante da UFRB assassinada pelo ex-namorado

Elitânia de Souza era estudante de Serviço Social e foi assassinada em novembro de 2019 em Cachoeira. A jovem tinha 25 anos na época. Feminicida foi condenado a 18 anos de prisão, movimentos consideram pouco.

31/07/2024 às 15h59, Por Jefferson Araújo - Acorda Cidade (Cachorira-BA)

 

Foto: Jefferson Araújo/Acorda Cidade

Uma manifestação foi realizada na manhã desta quarta-feira (31), em frente ao Fórum Augusto Teixeira de Freitas, em Cachoeira, cidade que fica a cerca de 117 km da capital, Salvador. O ato pedia a condenação do homem que matou uma jovem em 2019. Elitânia de Souza era quilombola e cursava Serviço Social na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). A vítima foi assassinada a tiros pelo ex-namorado.

Familiares, professores e estudantes participaram da manifestação. Cartazes com frases contra os crimes de feminicídio e racismo foram utilizados durante o protesto. O professor da UFRB, Jorge Cardoso, então diretor do Centro de Artes Humanidades e Letras da UFRB em 2019, local onde Elitânia estudava, falou como o crime impactou a comunidade.

Jorge Cardoso Filho, professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia | Foto: Jefferson Araújo/Acorda Cidade

“Uma perda como essa abala a sociedade como um todo. O feminicídio ainda é uma prática naturalizada no Brasil. Este crime impactou a UFRB de uma maneira mais específica, por conta de ser uma estudante nossa, com atuação de militância muito significativa não só no curso de Serviço Social, mas também em sua comunidade. A universidade não se recuperou da perda prematura e chocante de uma aluna de forma tão violenta”, declarou o professor ao portal Acorda Cidade.

Foto: Jefferson Araújo / Acorda Cidade

Elitânia foi assassinada na noite de 27 de novembro de 2019 em Cachoeira. A estudante, que tinha 25 anos na época, foi surpreendida pelo ex-namorado enquanto retornava para casa, acompanhada de uma amiga, após sair de uma aula. O crime ocorreu por volta das 22h. A jovem estava no último semestre do curso de Serviço Social. Albany Mendonça, professora da UFRB, falou sobre a importância da manifestação.

Albany Mendonça, professora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia | Foto: Jefferson Araújo/Acorda Cidade

“Esse é um momento histórico, resultado de muita luta e pressão. Elitânia já iria fazer o TCC [Trabalho de Conclusão de Curso]. A gente precisa registrar este acontecimento do júri popular como um ato de justiça e contra o crime de feminicídio. Foram assassinados sonhos e projetos com ela. Ela era uma excelente aluna, militante, tinha participação significativa na comunidade universitária e na comunidade quilombola de que ela fazia parte. Nós precisamos pressionar e reafirmar a luta contra a violência no Brasil”, afirmou.

Foto: Jefferson Araújo/Acorda Cidade

Elitânia tinha uma participação muito forte em movimentos sociais e atividades de grupos acadêmicos. A jovem atuava no Coletivo de Estudantes Quilombolas da UFRB, Osório Brito, e era secretária da Associação de Mulheres do Quilombo Tabuleiro da Vitória. A vítima era conhecida, e até hoje é lembrada, como uma figura ativamente engajada politicamente em causas sociais, dentro e fora da universidade. A prefeita de Cachoeira, Eliana Gonzaga (Republicanos), também fez parte do ato. Ela falou sobre a manifestação.

“Este é um ato de solidariedade à vida de Elitânia que não passará em vão. Todas as mulheres aqui estão unidas em um propósito: pedir justiça, a justiça precisa ser feita. Nós nos unimos mais uma vez. Desde o primeiro ato estamos sempre caminhando juntos em prol desta tão sonhada justiça. Hoje, eu espero que a justiça seja feita de fato”, declarou a prefeita.

Eliana Gonzaga, prefeita de Cachoeira – Bahia | Foto: Jefferson Araújo/Acorda Cidade

 

Yasmim Gonçalves, representante do Odara, Instituto da Mulher Negra, destacou em entrevista ao Acorda Cidade, que a manifestação é mais um ato significativo para o combate a todo tipo de crime ou violência contra a mulher. A jovem destacou que o júri do caso vem sendo acompanhado de perto pela organização.

Foto: Jefferson Araújo / Acorda Cidade

“O processo do júri de Elitânia vem sendo debatido dentro das ações dos movimentos sociais desde 2019. A partir do momento em que uma estudante é assassinada após sair de uma aula, de uma universidade federal, é necessário a gente pensar e repensar as práticas políticas feitas no processo do Estado. Esse júri hoje é um ganho do movimento social, é um ganho para a família”, declarou a representante.

Foto: Jefferson Araújo/Acorda Cidade

Yasmim Gonçalves ainda comentou sobre os constantes adiamentos do júri. “O julgamento foi adiado cinco vezes pelo poder público e isso reflete como o judiciário tem se colocado frente a casos de feminicídios de mulheres negras. Estamos atuando desde 2019 para pensar estratégias de combate a violências tanto de aspecto doméstico e familiar quanto de feminicídios. O caso de Elitânia não é um caso isolado porque outras mulheres estão sendo mortas na Bahia e no Brasil, por isso estamos pensando estratégias de enfrentamento” finalizou Yasmim.

Reportagem produzida pelo estagiário de jornalismo Jéfferson Araújo sob supervisão da jornalista Andrea Trindade.

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fonte: https://www.acordacidade.com.br/noticias/policia/manifestacao-marca-julgamento-do-caso-de-estudante-da-ufrb-assassinada-pelo-ex-namorado/

 


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