Quase lá: Projeto aprovado para PMs reforça lei da ditadura, diz especialista

Projeto aprovado para PMs reforça lei da ditadura, diz especialista

Aprovação da Lei Orgânica das polícias militares na Câmara dos Deputados teve acordo com PT e PSOL; texto ainda precisa passar pelo Senado

Viatura da Polícia Militar - Metrópoles
CWB Notícias/Colaboração
 
 

São Paulo – O projeto que cria a Lei Orgânica das Polícias Militares (PMs) e dos Bombeiros está desconectada de um debate mais amplo de segurança pública e reforça interesses corporativos presentes na lei atual, criada em 1969, em meio à ditadura militar. É o que avalia Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

O texto foi aprovado na última quinta-feira (15/12) na Câmara dos Deputados, após sucessivas alterações feitas pelo relator, deputado Capitão Augusto (PL-SP). A articulação envolveu acordos com partidos de esquerda, como PTPSOL e PCdoB, inicialmente contrários em levar a discussão adiante no final da legislatura.

Um dos pontos mais polêmicos do projeto, que previa maior autonomia das polícias em relação aos governadores, foi retirado do texto. O trecho estabelecia mandatos de dois anos para comandantes das corporações, que teriam de ser escolhidos dentro de uma lista tríplice indicado pelos próprios oficiais. Na prática, segundo especialistas, isso minaria o poder dos Executivos estaduais sobre as corporações.

Para Renato Sérgio de Lima, no entanto, o texto ainda estabelece mudanças que reforçam a militarização das polícias e fragilizam o poder dos governadores sobre a instituição.

Como exemplo, Lima cita o trecho que prevê que o cargo de inspetor-geral das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros seja ocupado por um general da ativa, como no Exército.

“A modernização da lei é urgente, mas em vez disso o projeto reforçou o caráter de autonomização previsto na lei de 1969, uma lei da ditadura. Ele manteve intactos alguns ruídos como esse da inspetoria-geral, que nem deveria existir. O texto só formalizou que agora tem que ser general. Estão muito preocupados com aspectos de hierarquia e pouco voltados a pensar governança das corporações”, afirma.

O diretor-presidente do Fórum Brasileio de Segurança Pública (FBSP) também criticou o fato de deputados de partidos de esquerda terem orientado voto a favor do texto, sem insistir num debate mais aprofundado.

 

O apoio do PT ao texto seria uma moeda de troca para garantir a votação da bancada ligada ao lobby militar à PEC da Transição. O projeto ainda precisa passar pelo Senado.

“Isso mostra que segurança não é prioridade política, e aí fica por conta e risco das polícias. É um problema de prioridade. Ou a gente prioriza essa questão ou vai ficar reforçando a ideia de uma polícia que não necessariamente está voltada à proteção do cidadão, mas que está ensimesmada em suas regras e idiossincrasias”, diz.

Coroneis na chefia e cota para mulheres

Outra mudança prevista na nova legislação é a exigência que policiais em funções de comando ou chefia tenham bacharelado em Direito, o que também é criticado por Lima. ” Trata-se apenas de uma tentativa de equiparar à carreira jurídica para reforçar autonomia. Porque carreira jurídica depende de autonomia e independência e polícias estão fundadas em hierarquia e disciplina”.

A proposta também criou uma cota de 20% das vagas em concursos públicos para candidatas do sexo feminino. O FBSP, no entanto, entende que a regra na verdade cria um teto e não um piso. A organização argumenta que o ideal seria criar um percentual mínimo de vagas nas corporações e não nos concursos.

 

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