Quase lá: Pesquisador mapeou assassinatos de políticos no Rio de Janeiro

Pesquisador mapeou assassinatos de políticos no Rio de Janeiro

Em trabalho premiado, Huri Paz, da FFLCH, verificou que 94 políticos foram executados no Rio entre 1988 e 2022; a violência afasta minorias sociais do cenário político, por serem as principais vítimas

 Publicado: 10/01/2024     - Jornal da USP

 

Gabriela Ferrari Toquetti*

Foto: Arquivo/Fernando Fazão/Agência Brasil

Em 2018, o Brasil inteiro ouviu falar de Marielle Franco, vereadora e ativista assassinada no Rio de Janeiro. Seu caso tornou-se um símbolo da violência política brasileira, mas ela não foi a única: 94 políticos foram executados no Rio de Janeiro entre 1988 e 2022. O dado foi verificado por Huri Paz, mestre em sociologia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. O pesquisador afirma que a crescente violência afasta mulheres, negros, indígenas e quilombolas do cenário político, por serem as principais vítimas.

Huri Paz – Foto: Arquivo pessoal/X

“Aos sete anos, eu me mudei para Magé, na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro. Conforme fui crescendo e me engajando politicamente, percebi que eu estava em um município muito violento”, relata Paz. Em 2018, ele fazia iniciação científica quando a morte de Marielle chocou os brasileiros, e percebeu que cada jornal que noticiava o crime divulgava um número diferente de políticos assassinados na história do Rio. Parecia não existir um relatório definitivo, então Paz passou a investigar o acervo de jornais disponíveis na Biblioteca Nacional, além dos conteúdos de jornais on-line.

Agora, com os dados e números em mãos, o pesquisador está se dedicando a fazer uma análise interseccional do contexto desses assassinatos, das áreas em que mais ocorrem e das principais vítimas. Paz constatou que Magé foi o município com maior número de mortes no período estudado, e que, do total de 94 execuções, apenas quatro foram de mulheres – todas negras. Esse dado pode dar a falsa impressão de que as mulheres não são vítimas prioritárias desse fenômeno, mas o pesquisador explica que, na verdade, isso está relacionado à representação feminina escassa na política – ele destaca que, atualmente, Magé não tem nem uma mulher na câmara.

“As mulheres já enfrentam dificuldades no acesso à representação política, e esse ambiente de violência também pode representar um entrave para o próprio desejo que elas têm de entrar para a política”, afirma Paz.

Número de assassinatos de políticos no estado do Rio de Janeiro por município (1988 - 2022) – Infografia: Huri Paz

Lídia Menezes

Lídia Menezes, vice-prefeita de Magé assassinada em 2002, um ano após a posse - Foto: Reprodução de TV

 No artigo, Paz analisou a trajetória de Lídia Menezes, mulher negra que foi empregada doméstica durante toda sua vida e, em 2001, foi eleita vice-prefeita de Magé. Ela e sua companheira de chapa foram as primeiras mulheres eleitas prefeitas na história do município. Um ano depois de tomar posse, Lídia foi assassinada e seu corpo foi encontrado carbonizado e com tiros na cabeça em um carro.

O pesquisador relata que não encontrou muitas informações a respeito da vítima: apenas poucas notícias relacionadas à sua eleição e, mais tarde, à sua execução. Para conhecer melhor a história de Lídia, de sua campanha política, de suas origens e de suas aspirações – e, assim, denunciar a questão da violência no Rio de Janeiro –, Paz recorreu aos familiares dela. Seus relatos ainda são poucos, pelo medo e pelo trauma de falar sobre o assassinato.

Marielle Franco

Marielle Franco - Foto: Mídia Ninja via Wikimedia Commons / CC BY-SA 2.0

Enquanto poucos conhecem Lídia Menezes, a maioria já ouviu falar de Marielle Franco. O autor opina que seu caso tornou-se emblemático da violência política no Brasil porque, além de ser engajada nas redes e de estar inserida em um partido de grande articulação com o debate público, Marielle tinha confronto direto com grupos milicianos da zona oeste do Rio de Janeiro.

“Muitas mulheres, pessoas negras, pessoas indígenas e quilombolas trazem pautas que desafiam o reacionarismo e os ideais conservadores, como Marielle. Mas, infelizmente, a violência acaba afastando essas pessoas da política, pois elas são os principais alvos”, conclui Paz.

Sobre o Prêmio Luiza Bairros

Com o artigo Assassinatos de políticos no Rio de Janeiro (1988-2022): uma análise interseccional, Huri Paz foi contemplado pela terceira edição do Prêmio Luiza Bairros da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS). A premiação é destinada a autores negros e indígenas e visa incentivar a produção científica no país em temas e questões ligados a relações étnico-raciais, racismo, desigualdades raciais e interseccionalidades, tanto sob perspectivas teóricas quanto empíricas.

Com informações da ANPOCS

*Da Assessoria de Comunicação da FFLCH

fonte: https://jornal.usp.br/ciencias/pesquisador-mapeou-assassinatos-de-politicos-no-rio-de-janeiro/

 

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