Quase lá: Feminismo e software livre

 

Por: Liliana Cruz. Tradução livre: Tica Moreno *

 

Quando se fala em novas tecnologias de informação e comunicação (TICs) as principais referências são os computadores e a internet, que são apenas uma pequena parte deste grande mundo tecnológico. O computador virou fundamental na sociedade atual, mas só as pessoas com determinados conhecimentos técnicos conhecem a estrutura deste tipo de máquina e os programas que garantem seu funcionamento. Sabemos muito pouco sobre a grande variedade de sistemas operacionais que existem para que estes computadores funcionem e sobre o marco político em que cada tipo de software se localiza.

Em torno dos sistemas operacionais, existem dois modelos tecnológicos totalmente opostos entre si. Um deles é o software proprietário, difundido pelas grandes corporações que restringem o acesso à informação sobre como esse software foi construído (código fonte), e cujo desenvolvimento tem como objetivo sua própria comercialização. O outro é o software livre, promovido por centenas de pessoas, empresas, hackers, programadoras e programadores em todo o mundo, e que permite acessar a informação acerca de como foi construído, modificá-lo sem nenhuma restrição e distribuí-lo livremente.

O software proprietário gera dependências tecnológicas, e nos transforma simplesmente em usuárias passivas de tecnologia: não podemos ir além do que é permitido e temos que usar o que nos oferecem. Ao contrário, o software livre é, em si mesmo, uma tecnologia ética, que permite que diversas pessoas tenham acesso à informação e ao conhecimento, nos permite conhecer sua estrutura e programar o que queremos a partir dele. Isso é vital na construção de um mundo mais justo e igualitário.

Coletivo de comunicadoras da MMM em ação no 9º Encontro Internacional da Marcha, em São Paulo. Foto: Marlise Carvalho.

 

Apesar dessa grande filosofia, o software livre também está permeado pela exclusão e invisibilidade vividas pelas mulheres na ciência e na tecnologia. De acordo com as últimas estatísticas, apenas 1,5% das pessoas envolvidas no desenvolvimento de software livre são mulheres. Como resposta, há vários anos têm sido gestados grupos de mulheres que promovem o software livre, cujos principais objetivos são: incentivar mais mulheres a usar e a participar do desenvolvimento desse sistema, assim como dar visibilidade a todas que já fazem parte desse grande projeto.

Hoje, existem muitas distribuições e programas que seguem os preceitos do software livre. Por isso, os grupos existentes de mulheres são múltiplos e diversos, entre os quais se destacam: KDE-Women, Debian-Women, Fedora-Women, Womoz, etc. Também encontramos grupos de mulheres que promovem a filosofia do software livre, de forma mais geral, e a participação das mulheres nesse mundo, independentemente do tipo de distribuição ou programa de software livre que utilizem, tais como: Chicas Linux, em nível mundial; Ativistas pelo Software Livre, na Venezuela; FOSSchix, na Colômbia e Malásia; e Otras, na América Central.

Para nós mulheres é fundamental nos apropriarmos desse tipo de tecnologia. Assim como o feminismo, o software livre possui um potencial emancipatório que pode nos libertar do controle que grandes indústrias tecnológicas exercem sobre nós; deixaremos de ser simplesmente consumidoras de tecnologia para ter controle sobre ela.

O software livre é um campo de luta feminista que nos permitirá criar tecnologias justas e igualitárias, que nos incluam em sua linguagem e visibilizem, através delas, o papel das mulheres no mundo tecnológico.

Fonte: El poder emancipador del software libre. Feminismo y Software Libre.

LIliana Cruz é promotora da participação ativa das mulheres no uso de tecnologias livres e ativista da Fundação Casa do Bosque. 

Tica Moreno é militante da Marcha Mundial das Mulheres de São Paulo e usa software livre.

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