Quase lá: Eleições em tempos de Golpe: o que nós mulheres temos a ver com isso?

Eleições em tempos de Golpe: o que nós mulheres temos a ver com isso?

EleicaoDiversidade stephanie pollo

Mais um pleito eleitoral se aproxima, e dessa vez diante de um contexto político crítico e agravado após o Golpe de 2016. Nesses dois anos, o (des)governo de Michel Temer reflete o seu machistério formado em sua maioria por homens, brancos, da elite econômica. Essa mesma composição tende a se fortalecer nas próximas eleições, que podem significar a normalização do Golpe, a depender da combinação da influência das forças autoritárias, conservadoras, detentoras do poderio econômico com um sistema político avesso à participação popular, cujas regras privilegiam quem já está no poder.

Por outro lado, crescem as iniciativas e campanhas denunciando o desmonte das políticas públicas, as violações e retiradas de direitos, o recrudescimento da violência no campo e nas cidades e a criminalização dos movimentos sociais, praticada cotidianamente pelo governo golpista. Essa mobilização é convocada pelos movimentos sociais, organizações da sociedade civil, cidadãos e cidadãs em defesa dos ritos democráticos, demandando a revogação das medidas aprovadas nos últimos dois anos, convocando a população a votar em candidaturas feministas e antirracistas, exigindo eleições livres, sem a influência das forças autoritárias que a cada dia usurpam o sentido da política e da soberania popular. 


Nesse contexto eleitoral, as mulheres voltam à cena: nossas pautas, reivindicações, nossas subjetividades e nossos corpos estão no olho do furacão de uma disputa extremamente moralista e misógina, discriminatória e virulenta em relação à diversidade, onde a meritocracia, o ódio pela esquerda e o rechaço aos direitos humanos ocupam a centralidade dos debates, com mais vigor do que as propostas sociais e econômicas. É uma disputa em que o conservadorismo caminha a passos largos, associado à economia neoliberal, para diminuir a presença do Estado na oferta dos serviços básicos, onerando e agravando as condições de vida das brasileiras.


Nós mulheres mostramos que não aceitamos a ruptura democrática. Não apenas denunciamos cotidianamente o Golpe e as várias tentativas, bem como as reais perdas de direitos que temos sofrido, mas também seguimos resistindo nas ruas, ocupando espaços, praças e nos manifestando publicamente, muitas vezes sob ataques violentos da polícia. Ainda que não estejamos suficientemente representadas nas instâncias de poder instituídas, estamos à frente das ações de resistência, mostrando como insistimos em existir e demandar por nossos direitos e uma vida digna para a população brasileira.


Somos maioria do eleitorado (52%), e mesmo com as novas regras eleitorais para promover as candidaturas femininas, superar a sub-representação política das mulheres é um desafio que requer um decisivo investimento e políticas permanentes de combate às desigualdades para transformar a cultura política do País, e nos retirar do vexaminoso 152° lugar no ranking mundial em relação à participação das mulheres no parlamento federal.


As mulheres organizadas em movimentos sociais e em partidos políticos demandaram e conquistaram leis e políticas públicas para alterar a sub-representação política feminina – lei de cotas, planos de política para as mulheres, revisão da lei de cotas, tempo de TV e propaganda eleitoral; recursos do fundo partidário; apoio à formação política e criação de instâncias de mulheres nos partidos políticos. 


Ou seja, não é por falta de ações, propostas, planos e leis que a baixíssima representatividade feminina persiste. Fato é que nosso sistema político impede, nega e rechaça a participação das mulheres, da população negra, jovem, indígena, de pessoas portadoras de deficiência e da classe trabalhadora nos espaços de decisão e poder.


Com todos esses fatores em jogo, o CFEMEA lança a campanha Política Feminista para Transformar o Poder com o intuito de conectar as eleições ao contexto político de crise, denunciar a anormalidade do que estamos vivendo e os limites do nosso sistema e de nossa cultura política, além de alertar para a presença crescente de candidaturas parlamentares – no âmbito federal, mas também nos estados e governos – que se colocam contra os direitos das mulheres, da população negra, dos povos tradicionais e da classe trabalhadora. 


Precisamos denunciar a vergonhosa ausência das mulheres dos espaços institucionais de poder, e o agravamento desse quadro após o Golpe de 2016, com o aumento das desigualdades sociais, raciais, étnicas, de gênero e de classe. 


Precisamos defender o debate de ideias e conteúdo, promovendo plataformas progressistas pró-direitos para que a representação política seja tensionada a favor da cidadania, da paridade, da diversidade, da justiça social, do desenvolvimento sustentável e da laicidade do Estado, neste país marcado por tantas desigualdades. 


Que a presença das mulheres na política seja um elemento transformador da vida, que sejam eleitas mulheres (e homens) comprometidas/os com a afirmação e a ampliação de nossos direitos, em diálogo com os movimentos sociais é o caminho que queremos.


Precisamos reafirmar que a política é uma dimensão importante da vida humana e que é urgente exercer nossa cidadania política para transformar as estruturas de desigualdade, para promover a justiça para todas as pessoas e não fazer mais do mesmo.

 

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