Independência e autonomia

Para a nação brasileira e para os movimentos de mulheres, setembro é 7, da independência nacional e é 28, da luta pela despenalização do aborto. É a oportunidade para a gente recusar os parâmetros estreitos em que forçosamente tentam nos enquadrar : agressão acima e vitimização abaixo, dominação à direita e sujeição à esquerda e está pronto! Como se todas as possibilidades humanas estivessem aprisionadas neste quadrilátero.

Independência para pensar e agir, autonomia para decidir é o que se reivindica. Desde as relações mais elementares entre os seres humanos, ou nas mais complexas relações de poder, no âmbito do Estado, a independência e autonomia têm de ser a base de uma convivência verdadeiramente democrática.

É preciso rejeitar, veementemente, a máxima tão propalada de que, ao Brasil, resta curvar-se às leis do Mercado ou então sofrer as conseqüências violentas desta insubordinação. E, da mesma maneira, recusar a idéia de que as mulheres têm o dever de parir, de ser mães, ou serão consideradas criminosas.

Se falta autonomia e independência, prepondera a dominação de alguns e a sujeição de muitos, em geral muitas. O autoritarismo que orienta a negação do direito da mulher de decidir interromper uma gravidez, na essência, é o mesmo que assegura ao Presidente George W. Bush o poder de decidir o que é bom para todo o Mundo. Tanto a decisão de nações inteiras quanto a de uma mulher em particular são inviabilizadas se a autonomia e a independência não são respeitadas.

Territórios ocupados ou corpos ocupados são o solo fértil onde o binômio dominação/sujeição opera seus resultados: a cultura e a prática da violência. Para transpor os limites deste quadrilátero, "...quando surge o conflito, os direitos humanos devem ser a base sobre a qual se constrói uma paz sustentável". A frase, de Sérgio Vieira de Mello, guarda grande sintonia com os princípios que os movimentos de mulheres e feministas têm sustentado.

No Iraque, o brasileiro Alto Comissário das Nações Unidas pelos Direitos Humanos foi assassinado pelo terror, que cresce a cada dia, alimentado pela violência do Império estadounidense no Oriente Médio. Aqui no Brasil, também morreram, naquele mesmo dia, algumas brasileiras que tentaram realizar um aborto. Elas, entretanto, não têm nome, são invisíveis aos olhos da opinião pública, são meros registros estatísticos.

Setembro, do 7 e também do 28. Setembro de tantos números é, no final das contas o mês de a gente refletir para acrescentar independência, autonomia, à nação brasileira e às nossas vidas, radicalizando, aprofundando e ampliando o sentido que estes princípios devem ganhar, não somente nas dimensões nacional e internacional, mas também no nosso cotidiano e na nossa intimidade, em busca da paz e da felicidade humana.


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