Celebramos, nesse 14 de julho, 20 anos do CFEMEA. E nos permitimos viver a fantasia de que a natureza se enfeitou para comemorar com a gente, contigo, conosco, a ousadia coletiva das mulheres.

Nessa época do ano, o cerrado se enfeita. As flores do ipê, em rosa vivíssimo, contrastam a exuberância do céu completamente azul de Brasília.

Estamos em plena seca. Faz frio, o clima é árido, ambiental e politicamente falando. Mas aprendemos com os ipês e o céu de Brasília, a não nos intimidar com tempos difíceis.

Ousadia que coincide com a maioridade civil da nossa democracia - um substantivo feminino que na política ainda concorda com o masculino. O clima social e o ambiente político que antecedeu e inspirou a criação do CFEMEA, assim como outras organizações feministas há pouco mais de décadas, pode ser sintetizado num trecho da Carta das Mulheres aos Constituintes, de 1987: "Para nós, mulheres, o exercício pleno da cidadania significa, sim, o direito à representação, à voz e à vez na vida pública, mas implica, ao mesmo tempo, a dignidade na vida cotidiana, que a lei pode inspirar e deve assegurar, o direito à educação, à saúde, à segurança, à vivência familiar sem traumas. O voto das mulheres traz consigo essa dupla exigência: um sistema político igualitário e uma vida civil não autoritária." CONSTITUINTE PRA VALER TEM QUE TER DIREITOS DA MULHER.

Mais de 80% das reivindicações da Carta das Mulheres foram incorporadas ao texto constitucional, mas alguns ficaram de fora, como a isonomia das trabalhadoras domésticas (única categoria de trabalhador@s que não tem jornada de trabalho regulada por lei); o direito à realização do aborto; o reconhecimento da união estável em relações homoafetivas; a participação igualitária das mulheres nos espaços de poder.

Desse rico período, seis feministas, que antes integravam a assessoria técnica do CNDM - Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, decidiram pela criação de uma organização feminista autônoma, com sede em Brasília, com uma expertise de advogar em prol dos direitos das mulheres, a partir da articulação política com os diversos movimentos de mulheres. Por isso, o CFEMEA sempre teve como um de seus propósitos o fortalecimento do movimento feminista. Afinal, esse é o sujeito político que nos constitui e que ao mesmo tempo constituímos, ou seja, a motivação que fortalece a luta pelo fim do patriarcado e de todas as formas de opressão contra as mulheres.

Ao longo desses 20 anos, na batalha do dia-a-dia, buscamos o fortalecimento e consolidação da organização e do movimento ao qual pertencemos; lutamos para conquistar na lei os direitos que nos eram (e ainda são) negados; somamos fileiras para resistir aos retrocessos que os segmentos mais conservadores tentaram e até agora insistem em impor às mulheres; denunciamos a exploração do trabalho das mulheres e lutamos por autonomia econômica; defendemos que as políticas e as finanças públicas estejam orientadas pela justiça social e a igualdade de direitos; que o Poder Público assuma a sua responsabilidade com a garantia dos direitos das mulheres, e nos assegure proteção contra a violência e todas as formas de discriminação. Lutamos, cotidianamente, por Direitos para as mulheres, na Lei e na Vida! Que, aliás, é mote do programa institucional do Centro, balizando nossa atuação até o presente momento.

E por falar em mote, slogan, lema, alguns destacaram momentos de nossa história, que valem ser lembrados: Democracia na casa e na rua!; o Pessoal é Político! Diferença sim, desigualdade não!; Quem ama não mata!; Nosso corpo nos pertence!; Salário igual para trabalho igual!, Mais Mulheres no Poder e, mais recentemente, Lugar de Mulher é na Política, Nosso Corpo, Nosso Território!. São expressões com força política que reverberam, vocalizam a luta por direitos, tempos de superação que passamos a cada ano.

Neste julho de 2009, ao celebrarmos com vocês os nossos vinte anos, queremos compartilhar o desafio tremendo de existir e sobreviver como organização feminista e anti-racista frente a crises tão profundas (financeira, ambiental, política, do modo de produção, de valores). Mas também lhe dar a certeza que em Brasília, mais do que palácios para abrigar os Três Poderes, há movimento, mulheres de luta, luz intensa, muitas cores, muitas flores, dinamizando, inventando, semeando a cada dia possibilidades de um futuro onde tod@s possam exercer plenamente os seus direitos e florescer.


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