Por Guacira Cesar de Oliveira
Socióloga, integrante do Colegiado de Gestão do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA) e da Coletiva Dinamizadora da Universidade Livre Feminista
Querid@ leitor@,
A partir de 2015, nós do CFEMEA, decidimos orientar a nossa organização à sustentabilidade do ativismo. Estamos concluindo um ciclo de atuação (de 25 anos!) e abrindo outro. Neste sentido, lhe oferecemos esta que é a última edição do Jornal FÊMEA. Última, porque o novo ciclo vai demandar outra comunicação, com mais intercomunicação, interação. O foco da ação do CFEMEA, daqui por diante, vai estar nas ativistas e não mais no Estado.
Queremos compartilhar com as mulheres ativistas, militantes e feministas o nosso caminhar. Oferecer e disponibilizar os nossos aprendizados para a apropriação coletiva. Oportunizar diálogos, articulações e ações coordenadas, para afirmar a liberdade, os direitos e a autonomia de todas as mulheres. Nos últimos anos, enfrentamos grandes obstáculos na busca da sustentação financeira do CFEMEA e do nosso jornal, bem como na resistência à ofensiva conservadora. Tivemos de ser criativas. Durante 2014, o CFEMEA veio num processo de reinventar-se. A reflexão sobre a experiência das duas últimas décadas; o reconhecimento e a valorização dos saberes e ações coletivas; o balanço do que conquistamos e os desafios futuros, confirmaram a nossa certeza: as conquistas que mudaram a vida das mulheres têm a ver, fundamentalmente, com as lutas feministas e antirracistas que fomos capazes de sustentar!
Um novo ciclo está se abrindo no CFEMEA, uma transmutação. Para tanto, ousamos criar novas formas de nos organizar e novas estratégias para lutar. Uma criação que almeja intensificar esse momento tão fecundo do ativismo das mulheres, evidenciado no surgimento de coletivos, iniciativas artivistas, em tanta movimentação e protesto pelas ruas e na internet, nas comunidades virtuais, nos diversos blogs feministas e de mulheres negras, além dos grandes movimentos nacionais de mulheres.
Continuamos na luta, e sabemos que a política sempre exige muito de cada pessoa: dedicação, tempo, conhecimento etc. E no atual contexto brasileiro, exige ainda mais. Com a ofensiva conservadora, o crescimento da onda dogmática e fundamentalista, o modelo desenvolvimentista injusto e predatório sustentado pelo Estado, a criminalização dos movimentos sociais, o crescimento de todo tipo de violência, do racismo, homo/lesbo/transfobia, todos esses elementos ameaçam severamente os avanços até agora alcançados e exigem maiores esforços da militância para resistir aos retrocessos que tentam nos impor.
Frente a tamanhos desafios, precisamos nos fortalecer. Queremos resgatar a dimensão política do autocuidado e do cuidado entre ativistas. Criar laços, atados em reconhecimentos mútuos e na reciprocidade do cuidado; que ofereçam segurança, promovam o acolhimento, oportunizem o compartilhamento de saberes e a fruição do prazer. Vínculos que gerem aprendizados, crescimento e transformação pessoais, melhores condições para curarmos as feridas que a dominação, a exploração e a violência produzem no corpo e na alma da gente. Laços fortes, que unam cada ativista às construções coletivas e movimentistas para despatriarcalizar, desracializar, descolonizar o poder.
Há mais de 4 anos, propusemos e viemos investindo na estruturação da Universidade Livre Feminista. Agora, queremos consolidá-la como uma organização de novo tipo, construída de forma coletiva e colaborativa, em parceria com o SOS Corpo - Instituto Feminista para a Democracia e com a Cunhã - Coletivo Feminista, para fomentar ações educativas, culturais, artísticas; produzir conhecimento e compartilhar saberes acadêmicos, populares e ancestrais, numa perspectiva contracultural feminista, libertária, antirracista e anticapitalista.
Já sabemos que as ativistas que mobilizam as lutas são a força motriz de todas as conquistas. Por isso, estamos colocando o ativismo (e as ativistas) no ‘centro’ da nossa estratégia para a transformação social e radicalização da democracia.
Acreditamos que construímos vínculos preciosos, de identidade e afeto, entre nós (que elaboramos e fizemos circular as 178 edições do FEMEA) e você, que acompanhou o nosso jornal. Nos despedimos, esperando encontrá-l@ em outros canais de intercomunicação e contar com a sua colaboração na abertura do novo ciclo. Desejamos um Ano Novo abundante em energia, ousadia, combatividade, amorosidade, saúde, paz ... !!!