Quase lá: Violência masculina

Foi realizado em Brasília, em novembro, o Seminário Sobre Violência Masculina promovido pelo Ministério da Justiça e ONGs. O Seminário abordou a violência contra a mulher com enfoque no homem que agride. O novo enfoque parte do princípio de que, se a violência contra a mulher é resultante de relações de gênero desiguais, é essencial que se trabalhem os dois pólos dessa relação (homem x mulher). No Brasil, são poucas as pesquisas de intervenção sobre como trabalhar com homens que têm sido violentos nos seus relacionamentos pessoais e que procuram aconselhamento para mudar sua maneira de interagir. Pesquisas internacionais demonstram que a violência doméstica é freqüentemente associada à perda do poder econômico impossibilitando os homens de cumprirem o papel de provedor, assim podem recorrer à violência como forma de expressar sua frustração ou para restaurar seu papel tradicional masculino de poder.Altas taxas de violência também estão associadas com a baixa auto-estima e idéias conservadoras sobre papéis de gênero.

Em São Paulo, a ONG CES - Centro de Educação para a Saúde -, que atua na região do ABC Paulista com sede em Santo André, trabalha com homens. Começou em 1986 treinando e capacitando mulheres para ação preventiva de saúde nos bairros. Depois de algum tempo, elas solicitaram um curso para os maridos, para que eles também compreendessem o conceito de saúde, não só como ausência de doenças, mas também como bem-estar físico e psicológico.

No início, as atividades com os homens estavam centradas nas questões de saúde reprodutiva e sexual. Foram realizadas várias oficinas. "Ficou claro naquele momento que estávamos abrindo um espaço para esses homens que nunca tinham vivenciado uma experiência semelhante", lembra Sérgio Barbosa, coordenador do projeto. Destacou que até mesmo alguns homens militantes dos sindicatos do ABC demonstraram uma necessidade de falar de sentimentos, o que tanto no Sindicato como nas Jornadas de Formação não acontecia. O tema da violência intrafamiliar surgiu a partir das atividades relacionadas à saúde reprodutiva e sexual. Os homens vivem com e em muitas situações de risco criadas por um modelo de masculinidade estereotipada, segundo avalia Sérgio Barbosa. Falar sobre violência foi sempre difícil. Em conjunto com outros temas, como preservação das DSTs e sexualidade, se conseguia avançar na discussão. Os resultados positivos começaram a aparecer. Surgiu uma parceria com a Assessoria dos Direitos da Mulher da Prefeitura de Santo André, e na campanha de 1998 de Combate à Violência Contra a Mulher, foram realizadas oficinas de prevenção com alguns grupos exclusivamente de homens.


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