Quase lá: Cotas no primeiro escalão da Prefeitura de Goiânia: uma vitória das mulheres organizadas

Aldevina dos Santos
Professora do curso de enfermagem da Universidade Católica de Goiás, mestre em Educação Brasileira e Chefe de gabinete da Secretaria Municipal de Saúde e membro da Oficina Mulher - Grupo Feminista Autônomo.
Angelita de Lima
Jornalista, mestranda em Educação Brasileira pela Universidade Federal de Goiás, coordenadora pedagógica da ECO/CUT e membro do Grupo Oficina Mulher - Grupo Feminista Autônomo.

As mulheres de Goiânia têm uma notícia interessante para contar ao país: as cotas de no mínimo 30% para cada sexo foram adotadas como critério na composição do primeiro escalão da prefeitura de Goiânia. Do total de 33 cargos contando as assessorias especiais que têm status de primeiro escalão 13 ficaram com mulheres. Essa vitória é fruto da ação articulada das mulheres organizadas de Goiânia.

Após a vitória do candidato do PT, Pedro Wilson Guimarães as mulheres que participaram da campanha se reuniram no Fórum Goiano de Mulheres para discutir como se daria a participação no Governo Municipal. No Fórum decidimos não focalizar a atenção na composição da Assessoria Especial da Mulher que já existia no organograma da prefeitura, mas lutar pela participação no conjunto da administração. Nesse sentido algumas estratégias foram elaboradas:

  • centrar forças na Secretaria Municipal de Saúde por ser um espaço privilegiado para a implementação de políticas públicas para as mulheres;
  • fortalecer as mulheres que foram candidatas e que não se elegeram;
  • sugerir a adoção das cotas na composição do governo.

Assim a primeira ação foi feita por mulheres petistas que colocaram nas instâncias do partido, encontros e plenárias, a necessidade e a importância da adoção deliberada das cotas para administração. Ao mesmo tempo o Fórum Goiano de Mulheres encaminhou documento à equipe responsável pela nomeação do secretariado endossando o nome da doutora Albinéia Plaza Pinto para a Secretaria Municipal de Saúde e endossando, também, as reivindicações do Coletivo de Mulheres do PT, que participa do Fórum. O Coletivo de Mulheres do PT, por sua vez, encaminhou uma lista indicativa de mulheres para cargos de primeiro e segundo escalões na Prefeitura.

Com alguma surpresa e muita comemoração, as mulheres de Goiânia assistiram a um espetáculo sem igual. A lista dos nomes de mulheres, encaminhadas pelo Coletivo, tornou-se um instrumento importante nas disputas internas e acabou garantindo algumas indicações importantes e, principalmente, garantiu o cumprimento das cotas.

Não levamos a saúde, mas... temos mulheres na Comurg, na Secretaria de Comunicação e na Administração

A Articulação das mulheres em torno da Secretaria Municipal de Saúde revelou-se uma atuação competente e séria na composição do governo municipal. Para defender o nome da dra. Albinéia Plaza Pinto foi necessária uma ampla articulação com profissionais da saúde com os partidos da coligação, com o movimento social organizado, e ainda, construir um projeto de saúde no campo da saúde pública trazendo aliados, demarcando o perfil ideal para o cargo. Não ganhamos a indicação mas ganhamoso projeto e o processo.

Para finalizar vale uma historinha que nós mulheres já ouvimos em muitos lugares, mas que dessa vez teve um final um pouco diferente. Quando foi colocada publicamente, na plenária do PT, a proposta das cotas como critério para a composição do governo, ouviram-se vozes de pessoas fazendo pilhéria na platéia: "dá a Comurg para elas varrerem rua". Pois é, hoje, pela primeira vez na história da cidade, uma mulher está à frente da Comurg (Companhia Municipal de Urbanização de Goiânia) um dos cargos mais importantes da Prefeitura para espanto de muitos. Temos também mulheres à frente da Secretaria de Comunicação e da Administração. Parece pouco, mas as mulheres de Goiânia têm muito que comemorar.


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