Depois da crise política que eclodiu com a violação do painel do Senado e com as "negociações" para evitar a instalação da CPI da corrupção, a crise energética tomou conta das nossas vidas. Em cada casa, pesa mais esta responsabilidade sobre os ombros das mulheres. Afinal, eletrodomésticos desligados resultam em economia de eletricidade, mas certamente em maior dispêndio de energia das mulheres. Quem fiscaliza a cada meia hora se as luzes estão apagadas e o tempo que a garotada gasta no banho?

Certamente a nova crise, sobreposta a outras, vai consumindo "energias mis". Afinal, nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. Muita energia elétrica vai ter que ser transmutada em outras formas de energia para conviver com as imposições desta crise no sentido da redução de investimentos e, ao mesmo tempo, de manutenção do superávit do balanço de pagamentos.

Já chegamos ao meio do ano, e os gastos públicos com a Saúde ainda não bateram na marca de ¼ do que estava previsto no Orçamento. Se focalizarmos os programas que dizem respeito mais especificamente à saúde da mulher, a situação fica ainda pior: a execução orçamentária dos parcos reais a eles destinados, em geral, tende a zero. (veja matéria na pág.10).

A verdade é que com gastos públicos ou sem eles, a saúde das pessoas continua precisando de cuidados, e se o Estado foge às suas responsabilidades, elas têm de ser repassadas a outras esferas. Não é novidade que nas comunidades, nas famílias, o cuidado com a saúde, a assistência aos doentes é uma atividade realizada, sobretudo, pelas mulheres.

Temos muitos meses pela frente e esta situação ainda poderá ser revertida. Entretanto, é fundamental ter a dimensão das adversidades, especialmente porque se há uma coisa que não vem mudando nesta seqüência de crises são as bases do acordo entre o governo brasileiro e o FMI.

Como afirmou Cândido Grzybowiski, "Não creio que seja possível resistir à aspiração da sociedade brasileira por mais ética na política. Estamos em um momento em que a busca de luz é vital, seja a que dá transparência às relações e práticas políticas, seja a que explica porque não teremos eletricidade para iluminar as nossas noites e nos dar conforto, no trabalho e no lar".

A energia produzida e investida nesta busca pela luz é, na verdade, o meio mais eficaz de construir as saídas. Começando o milênio, no mês de janeiro, estivemos presentes no Fórum Social Mundial, seguimos incidindo e intervindo em processos globais como os das Conferências das Nações Unidas de Financiamento para o Desenvolvimento, e contra o Racismo. Em nível nacional, estamos montando os pilares que edificarão uma conferência nacional feminista em 2002. Estas são algumas, entre muitas usinas produtoras de energia que estão em pleno funcionamento. O combustível fundamental que as move é o exercício ativo da cidadania por mulheres, e também por homens, firmemente comprometidos com os valores democráticos.


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