O mês de março de 2025 continua mostrando a potência das mulheres organizadas. Continuarmos a resistir aos golpes cotidianos contra a vida das mulheres e meninas.
Cfemea - 26/3/2025
Neste ano, novamente construímos pautas unitárias, contra o fascismo e os fundamentalismos que vêm ganhando força em nível mundial, contra todas as formas de violência racista, patriarcal, capitalista, LGBTfóbica. Afirmamos coletivamente que o feminismo é um projeto de sociedade não só para as mulheres, é um projeto de justiça e bem-viver para a humanidade e a natureza, considerando a terra, as águas, a biodiversidade que nos garante viver.
Saímos às ruas no mês de março para dar visibilidade às pautas de luta que empreendemos o ano inteiro, pelo direito a viver sem violência, pelo fim do feminicídio. Pelo financiamento público das políticas de proteção social e de cuidados, incluindo a defesa do SUS, do SUAS, a ampliação do financiamento público para a educação, principalmente a ampliação das creches e da educação em tempo integral, sumamente importante para a proteção, educação das crianças e adolescentes e indispensável para aliviar a sobrecarga de trabalho das mulheres. As trabalhadoras precisam ter tempo para construir melhores condições de vida, para estudar, descansar, para o lazer, para a alimentação adequada e saudável, para a convivência comunitária.
foto Agência Brasil
Saímos às ruas para denunciar o fundamentalismo que mata as mulheres e meninas quando são obrigadas à gestação forçada, na maioria das vezes geradas pela violação dos seus corpos: Criança não é mãe!. Lutamos pelo direito a decidir sobre nossos corpos e de ter a decisão plena sobre nossas vidas, não aceitando a maternidade compulsória imposta às mulheres e criminosamente imposta às meninas. Por isso lutamos pela legalização do aborto e para que nos caso que em que já é legal, se garanta assistência digna sem a criminalização social das mulheres, meninas e pessoas que gestam.
Do campo, dos roçados, das florestas e das águas, somamos na luta das mulheres camponesas, das assentadas da reforma agrária na denúncia do uso indiscriminado de agrotóxicos, que estão matando a vida da terra, São as mulheres da terra que nos trazem uma reflexão sobre a produção da comida que consumimos nas cidades, além disso, convocam a população a refletir sobre e lutar contra os preços abusivos pagos pelos alimentos, denunciam a face perversa do agronegócio que avança e destrói vidas e a biodiversidade, em troca de lucro e da morte de milhares de vidas silvestres e humanas. É necessário lembrar e repudiar a ação das empresas mineradoras que impactam o campo e as cidades. Não vamos esquecer do que aconteceu em Maceió, onde bairros inteiros foram engolidos pelo desastre ambiental produzido pela Braskem e, nem do acontecido em Mariana e Brumadinho, só para citar exemplos mais recentes no estado de Minas Gerais. Não podemos esquecer das recentes enchentes no Rio Grande do Sul no ano de 2024 e as ondas de calor que até obrigaram o estado a adiar o início do ano letivo. Sim, as mudanças climáticas chegam primeiro na vida das mulheres e das populações mais pobres, porque são as mulheres que arcam com os cuidados das crianças, dos idosos, das pessoas doentes tão mais exigentes nessas condições de emergência, são elas a grande maioria das trabalhadoras voluntárias no enfrentamento à fome, a crise hídrica e ao sucateamento das políticas públicas nas periferias.
Jornada das Mulheres Sem Terra-DF, Brasil de Fato
O Cfemea, prestes a completar seus 36 anos, segue no fortalecimento das organizações feministas, na construção do feminismo antirracista, anti LGBTfóbico. Acreditamos que só conseguiremos enfrentar o avanço do fascismo e do fundamentalismo com organização e solidariedade entre as mulheres, foi assim que enfrentamos uma pandemia onde o governo negacionista colocou em risco a vida de toda a população.
Este ano será importante para a luta das mulheres negras! Estarão organizadas e em marcha vindas de todo o país. Dos quilombos, dos assentamentos, dos terreiros, dos igarapés, das periferias, das universidades e de todos os lugares as mulheres se colocam em marcha pelo por Reparação e Bem Viver, na 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras será realizada no dia 25 de novembro de 2025, em Brasília (DF) e será um marco na luta pela garantia de direitos das mulheres negras no Brasil. Esperamos 1 milhão de mulheres negras em Brasília.
A auto-organização das mulheres é fundamental para o bem viver nos territórios. São as mulheres as mais afetadas pelo sucateamento das políticas públicas nos territórios, principalmente da educação, saúde, de enfrentamento as violências, do racismo e da geração de alternativas para sustentar a vida. Não dispomos de uma política pública de geração de trabalho e renda com qualidade, as mulheres de territórios vulnerabilizados, sobrevivem as ausências econômicas, socioambientais, violentas em todos os sentidos.
Contribuir para que os coletivos de mulheres periféricos fortaleçam seu protagonismo na luta comunitária, nas lutas por direitos e transformação ecossocial, fortalecendo a organização feminista antirracista, autogestionária, criando as condições para que as mulheres e toda a comunidade a que pertencem possam viver e sustentar a vida justamente, sendo livres, tendo seus direitos respeitados, zelando do que é Comum à humanidade e à Terra são propósitos do Cfemea. Por isso, junto com o Coletivo de Mulheres do Calafate em Salvador, com o Movimento de Educação e Cultura da Estrutural em Brasília, e com o Coletivo Mulheres Cuidando e Movimentando Territórios do Rio de Janeiro, compomos uma Comunidade de Territórios de Cuidado, Luta e Sustentação da Vida. E trabalhamos coletivamente para inventar e experienciar e radicar iniciativas autogestionárias, feministas para sustentar a vida nos territórios, sem perder de vista o fortalecimento do feminismo e as lutas pelos nossos direitos em todos os sentidos. Tamanho desafio prático, teórico, metodológico, criativo nos desafia e nos organiza.