"Territórios de Cuidados, Luta e Sustentação da Vida" é um projeto coletivo de mulheres que vivem em comunidades e contextos de vulnerabilidades, violências e de difícil acesso a políticas públicas
Cfemea
Na sexta-feira (17/11) "encerramos a semana com o coração preenchido de afeto após o encontro com as mães vítimas de violência do Estado, na sede de Criola no Rio de Janeiro", descreveu Amara Hurtado, assessora do Cfemea, com palavras amorosas e de forte sentimento feminista a reunião do Cfemea com mulheres do Movimento Moleque. Mas não foi uma reunião a mais, nem corriqueira. Para o Cfemea e todos os coletivos, movimentos e organizações que estão engajadas nessa construção, foi mais um marco histórico da caminhada.
Agradecendo ao Criola o apoio e a gentileza na cessão de espaço, o Cfemea realizou no Rio de Janeiro a última das reuniões preparatórias para a realização, em dezembro, de uma Oficina de Planejamento e Articulação para a construção do programa "Territórios de Cuidados, Luta e Sustentação da Vida". Já foram realizadas, nesses últimos meses, reuniões com o Coletivo de Mulheres do Calafate (Salvador-BA) e com mulheres do Movimento de Educação e Cultura da Cidade Estrutural (DF).
Amara Hurtado, ainda muito tocada pela emotividade e a potência emanada pelas mulheres que tiveram seus filhos assassinados pelo Estado, nos contou que "reverberamos nossos desejos de uma vida digna, sem violência, com justiça para todas as violações de direitos, sem racismo, com respeito a diversidade e a ancestralidade de cada uma. Reafirmamos nosso compromisso de nos mantermos unidas, conectadas para transformar o mundo e a nós mesmas! Ouvimos em alto e bom tom o grito de guerra deste grupo de mulheres guerreiras que nos inspiram e nos fortalecem: Movimento de mulheres cuidando e sustentando territórios! Movimento de mulheres, cuidando e sustentando territórios!"
No dia em que grande parte do país enfrentava um dos dias mais quentes do ano, mostrando no corpo de milhões de pessoas as consequências das mudanças climáticas provocadas pelos desequilíbrios causados pela ganância exploradora de um sistema econômico que destrói a natureza na busca de lucros fáceis, o Cfemea reuniu 35 mulheres do Movimento Moleque e outras mães da Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência para semear coletivamente o que pode significar os "Territórios de Cuidados, Luta e Sustentação da Vida", uma proposta que estamos construindo coletivamente para fazer frente à realidades de exclusão, dor, adoecimento e de morte precoce de mulheres que enfrentam as violências do machismo, do Estado, das milícias, dos grupos econômicos, latifundiários e toda a estrutura social do patriarcado.
A proposta que está sendo gestada para a construção de novos caminhos para o Bem Viver de cada ativista, é fruto de mais de uma década de trabalho constante, insistente e também amoroso do Cfemea de reflexões e práticas desenvolvidas a partir do feminismo junto com mulheres de coletivos, movimentos sociais e de grupos feministas e ativistas.
O cuidado entre ativistas envolve corações e mentes das mulheres que estão na luta, para curar as feridas abertas pela violência da dominação. As atividades de cuidado coletivo e autocuidado entre ativistas tem se limitado pelo crescimento e aprofundamento da fome, da miséria e da violência. Sentidos, coletivamente, que é chegada a hora de darmos passos à frente. Ações do que chama empreendedorismo não têm dado certo. Algumas conseguem adiar ou amenizar momentaneamente a fome e as dificuldade materiais de suas famílias, geralmente às custas de trabalhos precarizados, exaustivos e humilhantes. E os fracassos sempre caem sobre elas como castigos individuais.
O que queremos agora é resgatar metodologias e processos de organização coletiva para a geração de renda e para a construção de alternativas coletivas que possam garantir a existência digna das mulheres, proporcionando meios para que continuemos todas na luta por justiça, por dignidade e Bem Viver. Vamos buscar o combustível para esse processo nas experiências das que vieram antes de nós e de movimento sociais de grande potência, como o Movimento de Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra (MST), que nos assessorará nesse próximo momento.
"Não será uma tarefa fácil", nos contou Guacira Cesar de Oliveira. Ela e equipe do Cfemea têm mostrado isso a todas as mulheres e seus coletivos, "é uma estratégia de grande risco, quase nenhuma certeza, mas que tem encontrado uma resposta incrível no desejo, na força, na esperança e na garra que move todas as mulheres de luta e isso nos impulsiona da caminhar".
Nos dias 11 a 13 de dezembro o Cfemea e esses coletivos do Rio de Janeiro, Salvador e Distrito Federal vão se reunir para estudar, refletir, examinar e realizar os acordos para as ações do próximo ano.