Quase lá: CFEMEA 30 anos - Eu sou porque nós somos

Selo EuSouPorqueNosSomos

O laço que une cada mulher ativista ao movimento de transformar o mundo é forte, nos dá sustentação e segurança para seguir nessa subversão coletiva de transformar o mundo ao mesmo tempo em que nos transformamos a nós mesmas.

Estamos em movimento, somos coletivas e individualidades. Somos uma e somos todas que nos antecederam. Somos com as ancestralidades que nos constituem e nos conectam com experiências de amor, resistência, conquista, violência, dor, resiliência, cura das que vieram antes de nós...  Nos vemos e nos reconhecemos mutuamente. Sim, viemos de tão longe, de muitos lugares.

Eu sou, porque nós somos, “sou força porque todas nós somos, sigo porque seguiremos todas nós juntas!”, como declarou Marielle Franco. porque é nos coletivos que cada uma de nós se alimenta para superar a imensa fragilidade que a individualidade, desprovida de vínculos, tenta nos impor.

Eu sou porque nós somos: Ubuntu! Essa palavra das línguas banto de origem sul-africana, traduz um conceito, fala de uma ética de humanidade que na identidade feminista antirracista, se traduz em ser mulher livre e dignificada, plasmando a nossa própria vida em reciprocidade com todas as pessoas.  Significa reinventar a si mesma, “por mim, por nós, por todas”, inventando assim outras possibilidades de sermos e existirmos como mulheres em nossa diversidade, fora dos limites das opressões patriarcal, racista, etnocêntrica, heteronormativa.  

Somos feministas antirracistas dispostas e compromissadas com as lutas pela transformação social. Somos muitas, construímos identidades diversas, múltiplas, nômades, interseccionais. Somos negras, indígenas, quilombolas, brancas; jovens, adultas e idosas; urbanas, rurais, das águas e das florestas; trabalhadoras, aposentadas, desempregadas; camponesas, cis, trans, hetero, bi, lesboafetivas; nortistas, sulistas, brasileiras, latino-americanas, estrangeiras; brincantes, artistas, artesãs, artivistas; somos corpos diversos, mulheres com deficiência; mães, avós, filhas. Somos tantas!

Somos individualidades repletas de laços afetivos que nós mesmas cultivamos e com os quais tramamos as nossas redes de solidariedade e reciprocidade. Somos individualidades afirmadas em identidades coletivas que concebemos e significamos.  Somos uma e somos muitas, subjetiva e objetivamente, racional e emocionalmente, estratégica e criativamente.

Ousamos, como mulheres ativistas, não nos submetermos às fronteiras do racismo patriarcal, da heteronormatividade, do etnocentrismo, do capacitismo que nos separam e exploram. Buscamos e construímos encontros, diálogos, reconhecimento mútuos, cuidado entre nós, responsabilidades individuais que alicerçam compromissos coletivos e vice-versa, para a justiça reparatória, a liberdade, os direitos de todas, para sanar tantas dores, feridas e cicatrizes que pesam desigualmente entre nós mulheres, pelo Bem Viver.

Somos o movimento diverso e plural de muitas. Somos mistura, conflito em processamento, encontro de diferenças. No dizer das amazônidas: somos como as águas, crescemos quando nos encontramos. Somos também terreno híbrido, não raro áspero de enfrentamento às desigualdades.


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