Quase lá: Educação fora dos conformes

O primeiro curso oferecido pela Universidade Livre, “Feminismo com quem tá chegando” teve, em menos de 24 horas, mais do triplo de inscrições do que o esperado. A demanda superou muito a expectativa, mostrando que o interesse pelo feminismo tem se expandido ainda mais nas plataformas digitais. Nesta entrevista, Priscilla Brito, da Secretaria Executiva da Universidade Livre Feminista fala sobre o ousado projeto que se emancipa em 2015.

Como surgiu a ideia da Universidade Livre Feminista?

Ela surgiu em 2009, como resultado de alguns debates sobre as possibilidades para a formação do movimento de mulheres diante de um contexto que era, ao mesmo tempo, de escassez de recursos e desenvolvimento da internet como espaço potencializador das nossas ações. A inspiração veio das Universidades Livres que vários movimentos sociais criaram mundo afora, baseadas numa troca de saberes mais livre e autônoma do que a exigida pelas universidades tradicionais.

Promover essa troca de forma livre pela internet ainda é um desafio, mas estamos empenhadas no desenvolvimento de tecnologias que nos ajudem a enfrentá-lo.

O CFEMEA foi o primeiro lugar da Universidade Livre Feminista. Mas nunca quisemos que fosse “um projeto do CFEMEA”. A Universidade Livre precisa ser de todas, precisa do envolvimento de outras organizações e movimentos de mulheres. Por isso, agora temos uma “Coletiva Dinamizadora” que reúne pessoas de diferentes organizações feministas (atualmente a Cunhã - Coletivo Feminista e o SOS Corpo, além do próprio CFEMEA) dispostas a concretizá-la e expandi-la.

Esta é uma ideia muito original e inovadora, o movimento feminista e de mulheres tem recebido bem a ideia?

Sim! Recebemos muitos e-mails de pessoas empolgadas com a Universidade Livre Feminista e muito afim de colaborar de alguma maneira. O fato de estar na internet parece facilitar o acesso de pessoas que de outra forma não poderiam participar de espaços feministas ou dar visibilidade às suas ações.

Achamos que a Universidade Livre tem um potencial incrível para ser um lugar de encontro de vários feminismos, de troca de saberes entre pessoas de diferentes regiões. Todo mundo se empolga quando falamos disso. Acho que estamos trilhando um caminho bacana!

Existe alguma separação entre o “real e o virtual” na Universidade Livre Feminista?

Penso que o fato de estar ancorada na web aproxime a Universidade Livre Feminista de vários coletivos que encontraram na internet um espaço de fala, debate e divulgação de atividades, como as Blogueiras Feministas e as Blogueiras Negras. Mas também sabemos o quanto é importante que a troca também se efetive para além desses espaços, conectando as pessoas e fazendo com que os movimentos que não atuam tanto na internet também tenham espaço e sejam reconhecidos nos ambientes virtuais.

Às vezes, os debates que circulam na internet estão muito distanciados dos movimentos “reais”, daqueles que constroem as lutas feministas há muitos anos, ao mesmo tempo que não deixam de ser relevantes para o feminismo como um todo. A Universidade Livre pode criar pontes para que as questões que esses debates trazem gerem reflexão e potencializem a ação de transformação do mundo. Estamos num mundo muito virtual mas querendo criar conexões com o “mundo real” e gerar afetos.

Quais são as principais áreas de atuação da Universidade Livre Feminista?

Não sei se podemos falar em “áreas de atuação”. A Universidade Livre faz formação feminista a partir das reflexões da pedagogia feminista sobre como gerar processos de transformação das relações históricas de desigualdade vivenciadas pelas mulheres. Temos, portanto, um compromisso com o fortalecimento do movimento feminista. Entendemos o feminismo como “prática política e pensamento crítico”, que tem como centro de sua ação “a instituição das mulheres como sujeito”, como diz a Bethânia Ávila, capazes de transformar o mundo e a si mesmas.

Nesse sentido, nós tentamos atuar em tudo o que diz respeito ao feminismo, em todas as suas lutas. Mas achamos que para fortalecê-lo, é preciso pensar em metodologias que incluam o artivismo como forma de expressão contra-hegemônica e que incentivem o cuidado de si entre as militantes. Queremos nos distanciar da educação tradicional, que é muito disciplinadora e atinge corpos e saberes. Queremos algo que liberte, que nos impulsione à ação, e não que nos conforme.

A Universidade Livre Feminista tem alguma campanha?

Nós lançamos a nossa primeira campanha esse ano, como parte da proposta de divulgação dos novos portais da Universidade Livre Feminista. O mote era “O que você aprendeu com o feminismo?” e misturamos contribuições voluntárias de ativistas de todo o país com uma homenagem a feministas que nos inspiram. O resultado ficou muito bonito, ficamos muito felizes com o retorno.

Como colaborar com a Universidade Livre Feminista?

O melhor jeito é acessando os nossos portais de comunicação. Temos um portal de informações (www.feminismo.org.br), o portal de formação (www.universidadefeminista.org.br), uma biblioteca virtual (www.bibliotecafeminista.org.br), um portal de vídeos (www.vimeo.com/tvfeminista) , e a página do facebook (www.facebook.com/universidadelivrefeminista) . Nós estamos sempre colocando neles as informações sobre cursos, campanhas, nossas atividades e as novidades dos movimentos de mulheres,.

As pessoas podem contribuir com sugestões para todos eles, é só entrar em contato pelo email Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..


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