Quase lá: Cfemea conduz espaço de cuidados na III Marcha das Mulheres Indígenas

Atividades do Espaço de Autocuidado e Cuidado Coletivo ressaltaram a importância política do cuidado entre ativistas para a luta

Suzana Makapara Wapichana

 

Cfemea

“Nunca tinha vivido um momento assim, nem me sentido assim; relaxei, esqueci meus problemas”, disse emocionada Suzana Makapara Wapichana, mulher indígena de Roraima depois de participar das atividades do Espaço de Autocuidado e Cuidado Coletivo coordenado pelo Cfemea (Centro Feminista de Estudos e Assessoria) na III Marcha das Mulheres Indígenas. Desde a primeira edição da marcha o Cfemea tem marcado presença nessa mobilização fundamental para a luta das mulheres indígenas. 

Suzana também contou que se surpreendeu, pois não esperava encontrar um espaço do tipo, e que poder partilhar experiências com outras mulheres foi importante para o fortalecimento individual e coletivo. “Participar da atividade me ajudou a encarar meus traumas. Fazia muitos anos que eu não conseguia me abrir com ninguém, mas saio daqui com a mente mais aberta. É uma experiência que vou levar para toda vida”, destacou.

Para Amara Hurtado, assessora técnica de cuidado e autocuidado entre ativistas do Cfemea, o relato de Suzana é um exemplo da importância do debate sobre cuidado para as lutas feministas e antirracistas. “Nossas lutas envolvem muitas dores e traumas! Estamos sempre na linha de frente pelos nossos direitos, pelo Bem Viver, pelo fim da violência, contra o feminicídio e tantas outras batalhas para a vida das mulheres! Enquanto lutamos também cuidamos dos outros e das outras, e acabamos cuidando muito pouco de nós mesmas. Muitas vezes achamos que não temos o direito de nos cuidar ou de sermos cuidadas, mas precisamos fazer pausas, ter tempo para descansar, sorrir e desfrutar de outras experiências que nos acolham e nos deixem felizes. Sem cuidado, vamos adoecendo, sentimos dores, ficamos ansiosas, temos insônia e muitos outros sintomas que revelam nossas somatizações diante de tantas dores e enfrentamentos. Passamos por cima dos nossos sentimentos, sonhos e desejos, não damos muita atenção a nossa subjetividade”, destaca Amara, que conduziu rodas de autocuidado e cuidado coletivo, rodas de conversa e TREM (técnica de redução de estresse entre mulheres). 

Ela também salienta que a falta de atenção às nossas emoções e ao nosso corpo nos deixa menos potentes para a luta. Por isso, o cuidado é fundamental. “Quanto mais cuidamos de nós mesmas melhor estamos nos nossos coletivos, mais atentas, mais presentes, com maior resiliência e compreensão das outras. Temos a convicção que se não dedicamos um tempo para cuidar umas das outras e de nós mesmas, a luta se enfraquece e não é disso que precisamos e tampouco queremos”, ressaltou. 

Roda de Autocuidado e Cuidado coletivo

Não há luta sem cuidado

O cuidado entre mulheres é um eixo fundamental da luta feminista antirracista, já que as mulheres foram historicamente sobrecarregadas, subvalorizadas e até invisibilizadas nas suas lutas e no trabalho de cuidado, em todos os ambientes. Por isso, ressalta Amara Hurtado, mulheres felizes, alegres e confortáveis em seus próprios corpos é um ato político. O Espaço de Autocuidado e Cuidado Coletivo foi pensado na Marcha justamente por isso. 

Em um momento de relaxamento, arte, brincadeiras e cuidados com mulheres indígenas de Rondônia essa questão também ficou evidente. "Quando chegamos aqui parecia que estávamos pesadas, tinha uma coisa dura, travada... e depois da gente fazer toda essa atividade estamos mais leves, rindo! Em tão pouco tempo mudamos!", ressaltaram as indígenas. 

Também conduziram atividades no espaço Guacira Oliveira e Isabel Freitas, da equipe do Cfemea; as Tecelãs do Cuidado, Renata Parreira e Sueide Mendonça; Louisa Huber e Lúcia Helena, da Articulação de Mulheres Brasileiras; e também as companheiras Perlucy Santos e Regina Melo.

A III Marcha das Mulheres Indígenas ocorreu entre os dias 11 e 13 de setembro de 2023 em Brasília. Neste ano, o evento foi marcado pelo anúncio da cooperação entre o Ministério dos Povos Indígenas e o Ministério das Mulheres para a implementação de políticas públicas, dentre elas o programa "Guardiãs dos Territórios", que vai atuar na formação de lideranças femininas e o enfrentamento à violência contra as mulheres indígenas. O documento final da marcha será divulgado pela Articulação Nacional das Mulheres Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA). 

Texto: Verônica Lima

Roda de Autocuidado e Cuidado coletivo
Técnica de redução de estresse entre mulheres
Roda de Autocuidado e Cuidado coletivo

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