Quase lá: Obra aborda desafios e resistências no Brasil em estudos sobre gênero e sexualidade

Com contribuição de pesquisadores da USP, coletânea discute os temas dentro da conjuntura política e social do País

Jornal da USP Publicado: 30/07/2024

Coletânea reúne pesquisas no âmbito dos desafios e direitos da comunidade LGBTQIAPN+ – Fotomontagem de Jornal da USP com imagens de Divulgação/UFG e graphictwister/Freepik

 

O livro Desafios e Resistências em Gênero e Sexualidade no Brasil Contemporâneo é uma coletânea dos resultados de trabalhos realizados pelo Comitê de Gênero e Sexualidade da Associação Brasileira de Antropologia (ABA) nos anos de 2019 e 2020. A obra foi organizada por Heloísa Buarque de Almeida, professora do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, e pelo professor Carlos Eduardo Henning, da Universidade Federal de Goiás (UFG).

Integrando a coleção Diferenças do Centro Editorial e Gráfico (Cegraf) da UFG, o volume foi lançado na 34ª Reunião Brasileira de Antropologia, evento que aconteceu entre 23 e 26 de julho na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A coletânea reúne um conjunto amplo de autores, com trabalhos que abordam diferentes facetas do tema, como estudos sobre política, direitos sexuais e arte LGBTQIAPN+. 

A ideia da obra, de acordo com os organizadores, foi “mostrar a qualidade e densidade das pesquisas como parte de nossa tarefa de resistência no campo científico”. Também reunir trabalhos que analisassem a conjuntura política do momento após a eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro, junto de pesquisas antropológicas sobre gênero e sexualidade no Brasil, com foco em abordagens sociais.

Apesar dos desafios e dificuldades, os organizadores valorizam a apresentação de um conjunto complexo de reflexões redigidas ao longo dos últimos anos, em especial de cunho etnográfico. A coletânea foi redigida desde o início de 2021, em um contexto de pandemia de covid-19, e se encerra em outra realidade, vista como “pós-pandêmica” e com uma nova configuração política no País. 

Os organizadores, Heloísa Almeida e Carlos Henning, também têm experiências no âmbito do gênero e sexualidade. Henning, professor do Departamento de Antropologia da Faculdade de Ciências Sociais da UFG, aborda em suas pesquisas temas como gênero, sexualidade e homoerotismo. Heloísa é professora do Departamento de Antropologia da FFLCH, articulista do Jornal da USP, além de fundadora da Rede Não Cala, rede de professoras pelo fim da violência sexual e de gênero na USP.

Antigênero e pânicos morais

O primeiro bloco da obra apresenta seis capítulos que abordam o embate do antigênero, como ficou conhecido internacionalmente, ou da ideia de “ideologia de gênero”, termo que predominou no contexto brasileiro.

 

+ Mais

Escrito pela doutora em Antropologia Social pela FFLCH, Flávia Melo, o capítulo “O gênero e o fim do mundo: ofensivas antigênero no Brasil” demonstra a importância política que as questões de gênero e sexualidade ganharam no Brasil, em um contexto em que tais conceitos foram continuamente distorcidos em prol da propagação do pânico na população.

Flávia discute como a disseminação do termo “ideologia de gênero”, que vem acompanhada de uma influência religiosa da política, foi uma estratégia para travar um combate ao movimento LGBTQIAPN+ no País. Estas ações chegaram a acarretar na exclusão de termos como “orientação sexual” do Plano Nacional de Educação.

No mesmo bloco, o sexto capítulo também teve a contribuição de pesquisadores da USP.” Cruzada sexogenérica e a arte como regime de moralidade: reflexões a partir do Queermuseu”, capítulo escrito por Vi Grunvald, professora travesti e doutora em Antropologia Social pela FFLCH, junto de Jorge Leite Jr., aborda o papel da arte nas disputas sociopolíticas.

A dupla dá como exemplo as acusações de “pedofilia em museus” envolvendo a performance do artista Wagner Schwartz no Museu de Arte Moderna de São Paulo, em 2017. Os pesquisadores demonstram como a arte, a reflexão intelectual e os valores democráticos são agredidos e fragilizados a fim de proteger a “família tradicional”.

Os demais capítulos do primeiro bloco seguem discutindo o contexto da centralidade que estes debates tomaram na discussão política brasileira. Os textos tratam dos conceitos de proteção à família por meio de ataques aos movimentos LGBTQIAPN+ e seus direitos.

Interseccionalidade 

A segunda parte da obra, que reúne oito capítulos, também representa a diversidade de pesquisas e abordagens antropológicas atuais sobre gênero e sexualidade no Brasil. Neste bloco, os textos conectam gênero e sexualidade à interseccionalidade, representada pelos diferentes marcadores sociais das diferenças no País. 

No capítulo “Raça, gênero e pandemia no Brasil: vidas e números”, Gustavo Rossi e Isadora Lins França, historiadora e mestre em Antropologia Social pela FFLCH, trazem as dimensões de raça e gênero para o centro da discussão da pandemia de covid-19. 

No capítulo “Envelhecimento e homossexualidade masculina em pesquisas antropológicas brasileiras: corpos, sexualidades e relacionamentos”, Júlio Assis Simões, professor e cientista social formado pela FFLCH, aborda a homossexualidade masculina e o envelhecimento, e como esses focos antropológicos acompanharam o aumento no interesse em temáticas de gênero e sexualidade a partir da virada do século. 

No tópico seguinte, Guita Debert, mestre e doutora em Ciência Política pela FFLCH, e Mauro Brigeiro, mantêm a discussão sobre sexualidade e envelhecimento. No capítulo “A gestão do envelhecimento e a sexualidade: revisitando imagens e narrativas”, a dupla traz a questão do envelhecimento ativo, e como questões além dos cuidados com a saúde contribuem para a conquista de um envelhecimento “bem-sucedido”.  

Banner do lançamento do livro Desafios e Resistências em Gênero e Sexualidade no Brasil Contemporâneo – Imagem: Divulgação/FFLCH-USP via Facebook

Serviço:

Desafios e Resistências em Gênero e Sexualidade no Brasil Contemporâneo
Cegraf, UFG
495 páginas
Disponível para download e leitura em:
https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/688/o/Desafios_e_Resistencias_em_Genero_e_Sexualidade_no__Brasil_Contemporaneo.pdf

*Com informações do texto de Nilda Pais para a editoria de publicações da FFLCH; editado por Guilherme Ribeiro

 

fonte: https://jornal.usp.br/diversidade/obra-aborda-desafios-e-resistencias-no-brasil-em-estudos-sobre-genero-e-sexualidade/

 


Matérias Publicadas por Data

Artigos do CFEMEA

Coloque seu email em nossa lista

lia zanotta4
CLIQUE E LEIA:

Lia Zanotta

A maternidade desejada é a única possibilidade de aquietar corações e mentes. A maternidade desejada depende de circunstâncias e momentos e se dá entre possibilidades e impossibilidades. Como num mundo onde se afirmam a igualdade de direitos de gênero e raça quer-se impor a maternidade obrigatória às mulheres?

ivone gebara religiosas pelos direitos

Nesses tempos de mares conturbados não há calmaria, não há possibilidade de se esconder dos conflitos, de não cair nos abismos das acusações e divisões sobretudo frente a certos problemas que a vida insiste em nos apresentar. O diálogo, a compreensão mútua, a solidariedade real, o amor ao próximo correm o risco de se tornarem palavras vazias sobretudo na boca dos que se julgam seus representantes.

Violência contra as mulheres em dados

Cfemea Perfil Parlamentar

Direitos Sexuais e Reprodutivos

logo ulf4

Logomarca NPNM

Cfemea Perfil Parlamentar

Informe sobre o monitoramento do Congresso Nacional maio-junho 2023

legalizar aborto

...