As candidaturas Sem Terra concorrem a cargos de deputado/a estadual e federal em 12 estados, saiba quem são e conheça as propostas apresentadas
Da Página do MST
Em decisão inédita na história do Movimento, este ano o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) lançou 15 candidaturas próprias que concorrem a cargos de deputado/a estadual e federal, distribuídas em 12 estados brasileiros.
A decisão de lançar as candidaturas partiu da direção nacional do MST, diante da grave conjuntura da qual se encontra o Brasil nestes últimos anos. E faz parte de um amadurecimento político do Movimento frente a posições estratégicas de empoderamento, ocupando espaços institucionais importantes para o fortalecimento da Reforma Agrária Popular, da Agricultura Familiar Camponesa e dos direitos da classe trabalhadora.
“Estamos chegando na reta final de uma eleição muito difícil, mas também uma eleição muito importante que definirá os rumos e o futuro do nosso país. Uma eleição que tem uma expectativa muito grande para nós do MST”, afirma Alexandre Conceição, dirigente nacional do Movimento.
Além de impulsionar candidaturas próprias, nestas eleições, mais do que nunca, o MST está de corpo e alma envolvido na campanha de Lula (PT) para presidente, com mobilizações massivas e articulação de milhares de Comitês Populares que se multiplicaram por todo o país. Neste sentido, Conceição explica que a primeira grande expectativa é sobretudo derrotar Bolsonaro e sua política de fome, de desemprego e violência, emplacada por um governo ultra neoliberal e fascista.
“Para que a gente possa recuperar a democracia, reconstruir o Brasil com mais Reforma Agrária Popular, mais alimento saudável, mais educação, mais escola e menos violência. E recuperar o orgulho de sermos brasileiros e acabar de vez com a fome e com a desesperança do nosso povo”, declara Alexandre.
O dirigente conta que as candidaturas Sem Terra estão em escalada crescente nesta fase final de campanha, e que a eleição da bancada Sem Terra favorecerá a correlação de forças políticas no possível governo de Lula, que tem grandes chances de se eleger já no 1º turno, segundo as pesquisas de intenção de votos.
“Por isso, a nossa bancada da Reforma Agrária, junto com a bancada do Cocar, a bancada dos Sem Teto, a bancada do Movimento Sindical, fazemos no Congresso Nacional a bancada dos interesses do povo brasileiro, da soberania nacional e aí a gente faz um grande enfrentamento, mas também as nossas bancadas nos estados para fazer avançar a política de Reforma Agrária nos estados”, declara Alexandre.
Saiba quem são e quais as propostas apresentadas pelo conjunto das candidaturas Sem Terra que concorrem a cargos de deputado/a estaduais e federais nas eleições deste 2 de outubro.
Conheça as principais propostas das candidaturas do MST nas eleições de 2022
- Reforma Agrária Popular para democratizar o acesso à terra e promover o desenvolvimento do campo;
- Políticas públicas para a produção de alimentos saudáveis da agricultura familiar camponesa, fomentando a agroecologia e o combate à fome;
- Política ambiental sustentável pela preservação da natureza e combate à violência de territórios e seus povos tradicionais;
- Direitos da classe trabalhadora por justiça social, emprego, renda, moradia, saúde, educação e cultura;
- Fortalecimento da democracia, direitos humanos em prol da diversidade étnico-racial, sexual e de gênero.
Candidaturas Sem Terra
SUDESTE
MARINA DO MST 13713 | Estadual | PT/RJ
Nascida no Paraná, Lúcia Marina dos Santos vive na capital carioca desde 1996. Quando chegou no Rio de Janeiro, já integrava o MST havia sete anos. No Rio, fez graduação em serviço social e mestrado em geografia. Tendo sido articuladora da Via Campesina e da Coordenação Latino-americana de Organizações do Campo (CLOC). Marina tem como bandeiras primordiais a luta por soberania alimentar, agroecologia e o combate aos agrotóxicos.
CENTRO-OESTE
RUTH VENCEREMOS 1361 | Federal | PT/DF
Erivan Hilário, pernambucana de 38 anos, é mais conhecida como Ruth Venceremos e começou a militar no MST quando tinha 13 anos. Drag queen, produtora cultural e educadora, Ruth atua no movimento antirracista, além de ser diretora do coletivo LGBT Distrito Drag, que ajudou a fundar. Em 2019 foi condecorada com o Prêmio Direitos Humanos do Governo do Distrito Federal. Se eleita, afirma que vai defender, na Câmara dos Deputados, pautas relacionadas ao respeito à diversidade, reforma agrária, alimentação saudável e cultura.
VALDIR MISNEROVICZ 1311 | Federal | PT/GO
Geógrafo gaúcho, José Valdir Misnerovicz mora no assentamento Canudos, do MST, em Palmeiras de Goiás. Ali, ele desenvolve um projeto de produção agroecológica. Foi por meio da militância na igreja católica que Valdir se aproximou de outros movimentos e ajudou a fundar o PT no município. Integrou, também, o departamento rural da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Em Goiás, onde vive desde 1999, ele busca, agora, ser eleito como deputado estadual.
SUL
ADÃO PRETTO FILHO 13655 | Estadual | PT/RS
Conhecido como Adãozinho, ele é um dos nove filhos de Adão Pretto, um dos fundadores do MST e que, já falecido, foi o primeiro Sem Terra a ocupar uma cadeira de deputado estadual, eleito em 1986 para compor o parlamento gaúcho. Adão Pretto Filho atualmente tem 34 anos e começou sua militância jovem, já no campo institucional. Foi secretário da Juventude do PT, coordenou campanhas de seu pai e seu irmão, Edegar Pretto (que agora concorre ao governo do estado gaúcho). Trabalhou no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Rio Grande do Sul em 2006 e, em 2011, dirigiu a Secretaria de Cultura e Esporte da prefeitura de Viamão (RS). Foi nessa cidade que se elegeu vereador em 2016.
DIONILSO MARCON 1355 | Federal | PT/RS
Nascido em Rondinha, cidade do norte do Rio Grande do Sul, Dionilso Marcon é o único deputado federal gaúcho que vive num assentamento rural. Filho de pequenos agricultores, viveu acampado por cerca de quatro anos até que o assentamento Capela, em Nova Santa Rita (RS), foi regularizado. Iniciando sua trajetória política em 1987 na Pastoral da Juventude, ele já fez parte do Sindicato dos Trabalhadores Rurais e da direção estadual do MST, além de ter presidido a Cooperativa Central dos Assentamentos do RS. Neste ano de 2022, Marcon finaliza seu terceiro mandato na Câmara dos Deputados e busca mais uma reeleição.
NORTE/AMAZÔNICA
ANTÔNIO MARCOS 13333 | Estadual | PT/TO
Filho de camponeses da região do Bico do Papagaio, Antônio Marcos começou a militar no MST em 2004. De lá para cá, já foi membro da direção nacional e, atualmente, aos 41 anos, atua no setor de direitos humanos do movimento e cursa a graduação em Direito. Em 2018 ele disputou uma vaga na Assembleia Legislativa de Tocantins e, agora, tenta mais uma vez.
JOB MARTINS 13444 | Estadual | PT/RR
Indígena do povo Karipuna, Job Martins dos Santos nasceu em Porto Velho (RO) e se mudou para a capital de Roraima no final dos anos 1980. Job tem 62 anos e participa ativamente de grupos de cultura, como de teatro e associações de artistas plásticos. Desde 2016 integra o MST: além de fazer parte da direção estadual do movimento em Roraima, contribui principalmente no setor de comunicação e articulação. É a primeira vez que disputa uma cadeira na Assembleia Legislativa do estado.
LULA DO ASSENTAMENTO 13000 | Estadual | PT/RO
O apelido de Valceir Gomes de Lima já diz: mas, ele só não é o mesmo petista que pleiteia a presidência da República, mas é também um assentado da reforma agrária. Agricultor, Lula nasceu em Colatina (ES) e há décadas vive na região norte do país. Em Rondônia ingressou no sindicato dos trabalhadores rurais e em 1989, no município Alto Alegre dos Parecis, o assentamento Che Guevara, onde vive, foi regularizado. Nesta cidade ele foi eleito vereador em 2016. E agora, busca ser deputado estadual de Rondônia.
JOÃO ABELHÃO 6565 | Federal | PCdoB/RO
João Cerqueira de Souza, apelidado de João Abelhão, nasceu no Paraná e se mudou para Rondônia ainda menino, aos 12 anos. Inspirado por seu pai, se envolveu no ativismo desde jovem. Hoje com 57, é agricultor assentado pela reforma agrária. Atuante na política partidária desde os 20 anos, já passou pelo PT e pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) e, agora, se candidata a deputado federal pelo PCdoB.
NORDESTE
VÂNIA FERREIRA 1333 | Federal | PT/MA
Pedagoga, formada pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), Gilvânia Ferreira começou seu engajamento político na igreja católica. Atuando na Pastoral da Juventude e nas Comunidades Eclesiais de Base, conheceu o MST em 1987. Em 1989, Vânia contribuiu com a primeira ocupação de terra que o movimento fez na Paraíba. Natural de lá, da cidade de Alagoa Grande, hoje Vânia reside no Maranhão, onde atua no setor de Frente de Massa do MST desde 1992. Suas propostas são em defesa, principalmente, da educação e do direito à terra.
JOÃO DANIEL 1311 | Federal | PT/SE
Foi na igreja católica, na Pastoral da Juventude, que João Somariva Daniel iniciou, aos 17 anos, o seu ativismo. Filho de pequenos agricultores, ele saiu do interior catarinense para se somar ao MST em Sergipe. Ali, foi eleito deputado estadual em 2010 e, quatro anos depois, deputado federal. Em 2018 foi reeleito, sendo o quinto mais votado da Câmara dos Deputados. Neste ano, tenta ocupar a cadeira novamente.
LUCINHA DO MST 13100 | Estadual | PT/BA
Vera Lúcia Barbosa é natural de Eunápolis, no extremo sul da Bahia. Mas conheceu o MST, no qual atua já há três décadas, em Itamaraju. Tendo como uma de suas bandeiras principais a defesa do direito das mulheres, Lucinha tem experiência em cargos institucionais. Em 2011 foi secretária de Políticas para Mulheres da Bahia e em 2015 assumiu a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, no governo de Rui Costa (PT). Atuante na organização de manifestações em oposição ao presidente Jair Bolsonaro (PL) na Bahia, ela é secretária nacional de movimentos populares do PT.
MISSIAS DIAS 13123 | Estadual | PT/CE
Nascido em Ipueiras (CE) numa família de agricultores, Missias é o quinto de sete irmãos. Sua trajetória se mistura com a história da luta do MST no Ceará. Com sua família se mudou para a cidade de Cratéus e cresceu na ocupação da fazenda Serrote que, mais tarde, se tornaria o assentamento Palmares. Ainda adolescente começou a militar no movimento e hoje integra a coordenação nacional. Presidiu a Cooperativa Central das Áreas de Reforma Agrária (CCA-CA) e, neste ano, concorre pela primeira vez a uma vaga na Assembleia Legislativa cearense.
ROSA AMORIM 13100 | Estadual | PT/PE
Mulher negra e LGBTQIA+, Rosa nasceu no assentamento Normandia, em Caruaru (PE), e cresceu entre cirandas, marchas e ocupações. Aos 11 anos entrou no movimento secundarista e participou de lutas pela redução da tarifa do transporte público. Em 2016 cursava teatro na Universidade Federal de Pernambuco quando, por participar de ocupações das universidades, foi suspensa da instituição. O caso deu visibilidade a ela e à luta contra o desmonte da educação pública no estado. Rosa é diretora de cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE) e integra o Levante Popular da Juventude. “Cada vez mais fazemos contraponto a esse projeto que vigora hoje no país, de que jovem não deve fazer política”, afirma.
VALMIR ASSUNÇÃO 1310 | Federal | PT/BA
Um dos fundadores do MST na Bahia, Valmir Carlos Assunção esteve à frente da primeira ocupação do movimento no estado e foi, também, o primeiro negro e nordestino a compor a direção nacional do movimento. Nascido em Itamaraju, no extremo sul baiano, ali ajudou a construir o PT local, partido pelo qual foi eleito deputado estadual em 2006. Entre suas pautas principais, estão a destinação de terras devolutas para a reforma agrária, a regulamentação do plantio de eucalipto e o combate à intolerância religiosa. Se licenciou do cargo de deputado para assumir a Secretaria de Desenvolvimento Social e Combate à Pobreza durante o governo de Jacques Wagner (PT). Em 2010, foi eleito deputado federal pela primeira vez e repetiu o feito nas eleições seguintes. Agora, busca o quarto mandato.
*Editado por Solange Engelmann