Além de rememorar as vítimas do período militar, as atividades clamam por justiça, reparação e manutenção dos direitos e liberdades conquistados pela população
Publicado: 28 Março, 2024 - 12h38 |CUT
Escrito por: CUT-DF
Nesta segunda-feira (1º/4), completam-se 60 anos do golpe de Estado que lançou o Brasil em mais de duas décadas de obscurantismo. Para relembrar o período, que foi marcado pelo total desrespeito aos direitos e às garantias fundamentais, a CUT-DF e diversas organizações da sociedade civil realizam atividades na próxima semana.
Intitulada “60 anos de 64, ditadura nunca mais!”, a ação terá início no dia 1º de abril, com ato na Praça Zumbi dos Palmares, no Conic, a partir das 16h30. Em seguida, às 19h, acontecerá debate sobre o tema, na sede da Central, também no Conic.
“A ideia é relembrarmos esse período lamentável da história do Brasil, para que nunca mais se repita algo assim, sobretudo depois das recentes tentativas de golpear a democracia, que assistimos com pesar”, destacou o secretário de Direitos Humanos e Políticas Sociais da CUT-DF, Cleber Soares.
As ações continuam na terça (2/4), com sessão solene em celebração à democracia, no Senado Federal. O debate é proposto pelo mandato do senador Randolfe Rodrigues (Sem Partido-AP), e acontecerá no Espaço Ivandro Cunha Lima, a partir das 10h.
À noite, às 19h, o Santuário Dom Bosco, na Quadra 702 Sul, celebrará missa em memória aos desaparecidos políticos durante a ditadura.
O golpe de 64
No dia 1º de abril de 1964, o processo democrático brasileiro foi interrompido pelo golpe civil-militar. O então presidente, eleito democraticamente, João Goulart, foi deposto por militares, que assumiram o governo. Tinha início o período conhecido como ditadura militar.
Considerada uma grande tragédia política brasileira, o golpe foi marcado pelo autoritarismo, pela violência, opressão e perseguição aos opositores ao regime, além do desrespeito total aos direitos humanos, trabalhistas e sociais.
Em pouco mais de duas décadas, milhares de pessoas foram presas arbitrariamente e torturadas ─ número que ainda não foi totalmente apurado. Outras centenas foram mortas pelos órgãos de repressão, e muitas delas seguem desaparecidas. Ainda hoje, familiares lutam pela busca e identificação das vítimas da ditadura.
Mas o período foi marcado também pela luta e resistência de movimentos pela redemocratização do país. Incansavelmente, lideranças populares, sindicais estudantis, partidárias e outras não mediram esforços para restabelecer a democracia, e seguem lutando contra qualquer tentativa de ruptura democrática.
Caminhada em São Paulo lembra golpe militar e faz homenagem às vítimas
Ato teve início na antiga sede do DOI-Codi
Publicado em 31/03/2024 - 18:10 Por Elaine Patricia Cruz – Repórter da Agência Brasil - São Paulo
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Uma caminhada em São Paulo lembrou os 60 anos do golpe que instaurou a ditadura civil-militar no Brasil. Chamada de Caminhada do Silêncio pelas Vítimas de Violência do Estado, o ato teve início na antiga sede do Departamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), na Rua Tutóia, na Vila Mariana.
“Esse é um ato que relembra os 60 anos da malfadada ditadura. Estamos em frente a um dos mais importantes centros de repressão da ditadura militar brasileira que é a antiga sede do DOI-Codi, onde as Forças Armadas, associada à sociedade civil de São Paulo, torturaram milhares de pessoas no fundo desse prédio e onde dezenas de companheiros e companheiras foram assassinados”, disse Henrique Olita, membro do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores (PT).
Foi nesse lugar que o ex-deputado estadual e presidente da Comissão da Verdade da Assembleia Legislativa de São Paulo, Adriano Diogo, ficou preso por 90 dias durante a ditadura militar. “Fiquei 90 dias aqui. Fiquei 90 dias em uma cela solitária bebendo água de boi”, relembrou ele hoje, em entrevista à Agência Brasil. “Aqui é uma casa de morte”, reforçou.
Também foi no DOI-Codi que Maria Amélia de Almeida Teles, a Amelinha, foi presa, torturada e estuprada. “Fui presa política aqui no DOI-Codi entre 1972 e 1973. Aqui fui torturada e estuprada. Minha família toda foi sequestrada e trazida aqui para o DOI-Codi. Minha filha, Janaína, tinha cinco anos de idade [na época] e meu filho tinha quatro anos.
Os 60 anos do golpe militar de 1964 não tem como serem esquecidos. Esse é um passado que está muito presente ainda. São feridas que não cicatrizaram e que continuam sangrando nos dias de hoje. O Brasil continua ameaçado de golpes e de violência do Estado”, disse ela. “As novas gerações precisam conhecer isso para se fortalecer e para investir mais na construção da democracia brasileira”, acrescentou.
Memória
Nesta quarta edição da caminhada, os manifestantes reforçaram a necessidade da memória, adotando como tema a frase: “Para que Não se Esqueça, Para que Não Continue Acontecendo”. E lembraram que as populações periféricas seguem sofrendo com a violência policial, mesmo nos dias atuais.
“Temos um passivo que não é só a questão de memória ou de reverenciar aquelas pessoas que deram o melhor da sua vida pela luta da liberdade do Brasil e dos direitos do povo. A ditadura militar deixou uma série de passivos [no país]. Mesmo com o remendo de Constituinte de 1988, a estrutura de repressão no Brasil não se alterou. Temos uma Polícia Militar - que deveria ser uma Polícia Civil - totalmente militarizada e que tem feito o que estamos assistindo hoje, como essa operação policial no litoral de São Paulo [Operações Verão e Escudo] onde mais de 50 pessoas foram assassinadas. Essa é a maior chacina da polícia depois do caso do Carandiru. Isso é absurdo. Esse é um dos passivos da ditadura, que temos que superar”, disse Olita, em entrevista à Agência Brasil.
Participaram do ato deste domingo na capital paulista personalidades como o ex-deputado José Genoíno, o deputado estadual Eduardo Suplicy e a deputada federal Luiza Erundina.
“O 8 de janeiro de 2023 tem a ver com 2016 [impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff], que foi um golpe. E esses dois [eventos] têm a ver com 1964 porque a transição da ditadura para a democracia se deu num pacto pelo alto, num pacto das elites que não mexeu com as estruturas de poder. Eu estava na Constituinte (de 1988) e vivi isso”, disse Genoíno, à Agência Brasil.
Para Erundina, lembrar os 60 anos do golpe é importante para que a população “nunca se esqueça daquilo que brasileiros e brasileiras passaram”.Segundo ela, o Brasil ainda não reparou e nem fez justiça sobre o que aconteceu nesse período.
“Não vamos esquecer [o que aconteceu]. Vamos continuar cobrando, exigindo e levando às novas gerações a realidade sobre aquele tempo para que eles também nos ajudem a continuar essa luta. Não podemos permitir que os crimes da ditadura fiquem impunes, como os desaparecimentos forçados de mais de 4 mil brasileiros. Enquanto isso não for passado a limpo, a ditadura não acaba. Temos que continuar lutando por essa causa e não admitir que isso seja esquecido porque o esquecimento pode levar a riscos de outras ditaduras”.
A caminhada teve como destino o Monumento em Homenagem aos Mortos e Desaparecidos Políticos, no Parque Ibirapuera.
DOI-Codi
O DOI-Codi foi uma agência de repressão política subordinada ao Exército. Neste local, os inimigos da ditadura foram encarcerados, torturados e mortos. Estima-se que por ali passaram mais de 7 mil presos políticos, quase todos torturados. Desses, pelo menos 50 deixaram o local já sem vida.
Atualmente, neste endereço funciona o 36° Distrito Policial, da Polícia Civil. É neste lugar também que ultimamente tem sido realizada uma pesquisa arqueológica para aprofundar os conhecimentos sobre o prédio e também identificar as pessoas que passaram pelo local. Há também uma proposta de ressignificar esse espaço, transformando-o no Memorial da Luta pela Justiça.
“Aqui foram assassinadas, pelo Ustra [comandante do Exército, Carlos Alberto Brilhante Ustra], mais de 50 militantes políticos”, falou Amelinha. “Aqui precisa ser um centro de memória e de defesa dos direitos humanos. A memória e o direito à verdade são direitos humanos. Aqui tem que ter um museu, um memorial e cursos de direitos humanos. Essa delegacia não deveria mais existir aqui porque essas paredes estão manchadas de sangue dos nossos companheiros”, acrescentou.
A caminhada de hoje foi organizada pelo Movimento Vozes do Silêncio, representado pelo Instituto Vladimir Herzog, e pelo Núcleo de Preservação da Memória Política, com apoio de diversas instituições.
Edição: Sabrina Craide
Com marcha entre Rio e Minas, caminhada em São Paulo e debates, 60 anos do golpe dominam a pauta política
Neste domingo, manifestantes em São Paulo se concentram diante do antigo DOI-Codi e caminham até o Ibirapuera. Na segunda, marcha irá do Rio a Juiz de Fora
Publicado 29/03/2024 - 10h18
São Paulo – A partir deste domingo (31), diversos eventos marcam a “descomemoração” dos 60 anos do golpe que levou a 21 anos de ditadura civil-militar. Em São Paulo, por exemplo, ocorre a quarta edição da Caminhada do Silêncio pelas Vítimas de Violência do Estado, que tem como lema Para que não se esqueça, para que não continue acontecendo. Os eventos programados para os próximos dias têm a preocupação de apontar as consequências ainda presentes do golpe de 1964, especificamente a violência do Estado.
Assim, a concentração acontecerá a partir das 16h no antigo DOI-Codi, na rua Tutoia, Vila Mariana, zona sul, onde hoje funciona uma delegacia de polícia. Do local onde foram mortos Vladimir Herzog e Manoel Fiel Filho, – e movimentos querem transformar em centro de memória –, os manifestantes sairão às 18h em direção ao Monumento em Homenagem aos Mortos e Desaparecidos Políticos, no Parque Ibirapuera.
Pelo menos 10 organizações da sociedade e movimentos sociais devem participar. Pelo governo, é esperada a presença de Nilmário Miranda, assessor especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade do Ministério de Direitos Humanos e Cidadania (MDHC). O evento é organizado pelo Movimento Vozes do Silêncio, representado pelo Instituto Vladimir Herzog, pelo Núcleo de Preservação da Memória Política e pela seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), com apoio da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania. O evento integra o calendário oficial da cidade desde o ano passado (Lei 17.886, aprovada a partir de projeto do ex-vereador e atual deputado Antonio Donato, do PT).
Homenagem a Jango
Na manhã de segunda-feira, sai do centro do Rio de Janeiro a chamada Marcha da Democracia. O destino é Juiz de Fora, em Minas Gerais. Os participantes farão o caminho contrário ao do general Olímpio Mourão Filho, comandante da 4ª Região Militar, que comandou tropas em direção ao Rio para depor o governo João Goulart. O ex-presidente, que morreu no exílio em 1976, será homenageado com título Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
A marcha fará uma “parada solidária” em Petrópolis, região serrana do Rio, para entrega de leite em pó aos desabrigados pelas chuvas. Depois, no município de Comendador Levy Gasparian, eles participam de almoço oferecido pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), além de confraternização na antiga ponte que divide Rio e Minas. E seguem, por fim, pelo trecho da antiga estrada União Indústria.
Jornalistas e metalúrgicos
Entre outros eventos previstos, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo promove ato na próxima terça-feira (2), às 19h, para relembrar os 60 anos do golpe e pedir justiça para suas vítimas. Particularmente, a Vladimir Herzog, que dá nome ao auditório da entidade. Ele foi morto no DOI-Codi em outubro de 1975. O ato pedirá justiça a ele “e demais profissionais de imprensa vítimas de crimes cometidos pelo Estado brasileiro durante a ditadura”.
Na quinta-feira (4), das 16h às 20h, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC sediará ato político em defesa da democracia, com participação da Associação Heinrich Plagge. Será lançado o livro Ditadura, a cumplicidade da Volkswagen e a resistência dos trabalhadores. Também será exibido, em pré-estreia, o documentário Metalúrgicos para a Democracia.
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