Quase lá: O divino e as mulheres das diferentes religiões

"Na realidade, muitas vezes as Sagradas Escrituras de cada religião, expressão da pluralidade da Palavra divina, são muito mais abertas e libertadoras do que as sociedades que se tronaram suas intérpretes. Falam de justiça e de igualdade”, escreve Giuseppina D'Urso, em artigo publicado por Riforma, semanário das Igrejas Evangélicas Batistas, Metodistas e Valdenses, 19-05-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

O divino que se encarna e respira entre mulheres de diferentes religiões (2022) é um ágil livrinho publicado pelas Edizioni San Lorenzo e editado por Paola Cavallari, fundadora e até poucos dias atrás presidente do Observatório Inter-religioso sobre as violências contra as mulheres (OIVD).

A publicação resulta de uma videoconferência realizada em 05-10-2020 (portanto, em plena pandemia) pela OIVD em colaboração com o Centro de Estudos sobre a Liberdade de Religião (Lirec). O propósito foi recolher os testemunhos de sete mulheres, pertencentes às mais importantes confissões religiosas, testemunhos relativos à sua relação com as religiões a que pertencem e com as instituições que essas religiões querem ou pretendem representar.

As sete palestrantes (na ordem indicada no texto) são Paola Cavallari (Igreja Católica), Franca Eckert Coen (judaísmo), Mariangela Angela Falà (budismo), Svamini Hamsananda Ghiri (hinduísmo), Susanna Giovannini (pentecostais), Marisa Iannucci (islamismo) e Gabriela Lio (Igreja Evangélica Batista). A relação que surge é feita pelas luzes representadas pela sinceridade com que essas mulheres vivem sua própria experiência religiosa do divino e das tantas sombras que o patriarcalismo ainda lança sobre toda religião institucionalizada.

Talvez apenas no âmbito protestante cristão as mulheres tenham conseguido trilhar um caminho de real emancipação podendo se tornar protagonistas e acessar os cargos de responsabilidade e, em particular, a função de pastor. Marginalização, subordinação quando não violência, de outra forma cruzam transversalmente todos os âmbitos religiosos.

P. Cavallari (org.), Quel divino che si incarna e respira tra donne di diverse religioni: a cura (San Lorenzo, 2022) | Divulgação: Amazon

Como explica Paola Cavallari em seu ensaio introdutório, a marginalização das mulheres é bem descrita pelo estereótipo do "cuidado", aquele papel tão desvalorizado que deveria ser o único âmbito de competência da mulher. Desvalorizado porque a fraqueza e a vulnerabilidade são entendidas como culpa e como pecado (ver sobretudo o caso católico) e não como constituição intrínseca de um ser humano que, ao contrário, se alimenta de um mal-entendido conceito de força, de poder e de dominação de onde derivam o patriarcalismo e todas aquelas formas de violência e de opressão das quais a mulher é uma das primeiras vítimas, juntamente com a Natureza. Porque a violência contra as mulheres, os feminicídios, não representam uma emergência, como o sentido hegemônico gostaria de fazer acreditar, mas uma situação estrutural.

Na realidade, muitas vozes as Sagradas Escrituras de cada religião, expressão da pluralidade da Palavra divina, são muito mais abertas e libertadoras do que as sociedades que se tronaram suas interpretes. Falam de justiça e de igualdade. É o caso da Bíblia judaica e depois cristã, do Alcorão islâmico, dos textos budistas e dos hindus. As sete palestrantes destacam bem esses aspectos, evidenciando como é o filtro interpretativo - modelado em preconcepções e estereótipos inteiramente humanos, das várias culturas - a ser a causa da violência em todas as suas formas.

Torna-se, portanto, emblemático aquele percurso libertador e emancipatório empreendido, como mencionado, há décadas no mundo protestante cristão e bem descrito pela pastora batista Gabriela Lio. A Federação das Mulheres Evangélicas Italianas (FDEI) é uma excelente intérprete da teologia feminista e feminina, onde a Sabedoria, a Sophia, é a imagem do feminino que vê o divino como relação e não como algo dogmático e autoritário (a tão criticada visão toda poderosa de Deus).

Partindo desses pressupostos, a FDEI trabalha de forma muito concreta para combater a violência de gênero por meio de uma obra de conscientização com projetos e publicações. Infelizmente em outros contextos religiosos os objetivos alcançados mesmo com esforço no âmbito protestantes ainda estão muito distantes. Mas acredito que eles constituem um ótimo modelo a seguir para aquelas realidades religiosas que serão capazes de percebê-los.

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fonte: https://www.ihu.unisinos.br/628848-o-divino-e-as-mulheres-das-diferentes-religioes


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