Quase lá: Pelo fim da violência política de gênero e raça nas eleições

Precisamos de mais mulheres negras e periféricas defensoras dos direitos humanos no poder. Precisamos que elas não sejam interrompidas

PRI-0608-OPINI -  (crédito: Maurenilson Freire)

 

LÍGIA BATISTA — Diretora executiva do Instituto Marielle Franco, formada em direito pela Universidade Federal Fluminense, mestranda em políticas públicas e direitos humanos na Univeridade Federal do Rio de Janeiro

No marco do prazo para os partidos deliberar sobre a formação de coligações e sobre a escolha de candidata/os aos cargos de prefeito(a), vice-prefeito(a) e vereador(a), uma carta aos partidos é assinada por mais de 1.500 pessoas com reivindicações para o enfrentamento à violência política de gênero e raça nas eleições de 2024. A carta foi escrita por nós do Instituto Marielle Franco, junto às organizações: Mulheres Negras Decidem, Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, Eu voto em negra, Justiça Global, Terra de Direitos, Observatório de Favelas, Coalizão Negra por Direitos, Instituto Alziras e Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas. 

Nós defendemos que precisamos de mais mulheres negras e periféricas defensoras dos direitos humanos no poder. Precisamos que elas não sejam interrompidas! Nestas eleições de 2024, temos a oportunidade de garantir que as câmaras de vereadores e as prefeituras das nossas cidades tenham mais mulheres, pessoas negras e faveladas que defendem nossos direitos, para que os espaços de tomada de decisão tenham mais a cara do povo. 

Estamos presenciando o crescimento do conservadorismo e da extrema direita em diversos países e no Brasil. Nesse contexto, os movimentos sociais, organizações da sociedade civil e coletivos de mulheres negras transexuais, travestis e cis vêm protagonizando a resistência a uma série de ataques antidemocráticos e fundamentalistas aos nossos direitos a conquistas importantes, frutos de décadas de luta. 

Um desses retrocessos foi o avanço da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 09, na Câmara dos Deputados, conhecida como a "PEC da Anistia", a qual, na prática, perdoa os partidos políticos que descumpriram a Lei de Cotas de distribuição de recursos do Fundo Eleitoral e do tempo de propaganda em rádio e TV no processo eleitoral de 2022. É a quarta anistia aos partidos que descumpriram suas cotas, o que é inaceitável. 

É nesse cenário que verificamos o recrudescimento da violência política contra mulheres negras, cis, trans e travestis, que seguem sub-representadas na política institucional. De acordo com os dados das eleições de 2020, elas contabilizam apenas 6,3% nas câmaras legislativas e 5% nas prefeituras. É certo que a violência política é a principal razão pela qual mulheres negras não entram ou permanecem em espaços políticos institucionais. 

O fenômeno da violência política de gênero e raça no Brasil é histórico e estrutura as bases de formação do país, assim como a ausência ou baixa participação do maior segmento populacional na nossa sociedade: mulheres negras. Em 2018, o feminicídio político de Marielle Franco trouxe luz às estruturas que circundam a vida política contra tais mulheres e expôs as rachaduras estruturais presentes na frágil democracia brasileira. 

Com o objetivo de incentivar o ingresso das mulheres na política brasileira e garantir-lhes um exercício de mandato livre de barreiras preconceituosas, em 4 de agosto de 2021, foi aprovada a primeira lei sobre violência política. A  Lei nº 14.192/2021 prevê, entre outros aspectos, a responsabilidade dos partidos políticos para prevenir a violência política de gênero e racial, e proteger as mulheres na política. Contudo, a maioria dos partidos políticos continua negligenciando a necessidade de criação de políticas internas de proteção e segurança efetivas às mulheres, e descumprindo a lei de violência política contra as mulheres. 

A eleição municipal se aproxima, e precisamos pautar o debate sobre violência política de gênero e raça e o que ela significa para a vida de mulheres negras como Marielle, que tiveram sua vida atravessada pela violência. É fundamental que as direções partidárias se comprometam este ano para que a gente veja medidas concretas para prevenir e para enfrentar a violência política de gênero e raça na prática para que exista cada vez mais mulheres como Marielle Franco, sem que suas vidas sejam interrompidas.

fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2024/08/6913906-pelo-fim-da-violencia-politica-de-genero-e-raca-nas-eleicoes.html

Matérias Publicadas por Data

Artigos do CFEMEA

Coloque seu email em nossa lista

lia zanotta4
CLIQUE E LEIA:

Lia Zanotta

A maternidade desejada é a única possibilidade de aquietar corações e mentes. A maternidade desejada depende de circunstâncias e momentos e se dá entre possibilidades e impossibilidades. Como num mundo onde se afirmam a igualdade de direitos de gênero e raça quer-se impor a maternidade obrigatória às mulheres?

ivone gebara religiosas pelos direitos

Nesses tempos de mares conturbados não há calmaria, não há possibilidade de se esconder dos conflitos, de não cair nos abismos das acusações e divisões sobretudo frente a certos problemas que a vida insiste em nos apresentar. O diálogo, a compreensão mútua, a solidariedade real, o amor ao próximo correm o risco de se tornarem palavras vazias sobretudo na boca dos que se julgam seus representantes.

Violência contra as mulheres em dados

Cfemea Perfil Parlamentar

Direitos Sexuais e Reprodutivos

logo ulf4

Logomarca NPNM

Cfemea Perfil Parlamentar

Informe sobre o monitoramento do Congresso Nacional maio-junho 2023

legalizar aborto

...