Gleisi Hoffmann afirmou que reprimenda pública contra Nikolas Ferreira é pouco e espera que Arthur Lira acione o Conselho de Ética
Metrópoles
Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional do PT e deputada federal, cobrou, na quarta-feira (8/3), ações concretas de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, contra o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG). O parlamentar fez um discurso transfóbico no Dia Internacional da Mulher. “Reprimenda pública contra deputado que fez discurso transfóbico e misógino é muito pouco”, escreveu no Twitter.
“[É] gravíssimo diante de cenário violento com mulheres cis e trans. Tem que responder ao Conselho de Ética. É preciso conter essa gente, não podemos aceitar ataques, ofensas e crimes na Câmara”, completou.
Pouco tempo antes, Lira havia feito uma reprimenda pública a Nikolas Ferreira, que usou o plenário da Câmara contra toda a comunidade trans. Na chamada de atenção, Lira não deixa claro quais medidas vai tomar contra o parlamentar mineiro, mas destacou que a Casa não é local para “exibicionismo e muito menos discursos preconceituosos”.
“O Plenário da Câmara dos Deputados não é palco para exibicionismo e muito menos discursos preconceituosos. Não admitirei o desrespeito contra ninguém”, disse. “O deputado Nikolas Ferreira merece minha reprimenda pública por sua atitude no dia de hoje”, reiterou.
Vale destacar que, nas eleições de 2022, pela primeira vez, duas mulheres trans foram eleitas a cargos no Legislativo federal. São elas: Érica Hilton (PSol-SP) e Duda Salabert (PDT-MG).
O Conselho de Ética da Câmara e do Senado concluíram o ano de 2022 com 13 processos contra parlamentares arquivados na Câmara. A última cassação da Câmara foi da então deputada Flordelis (RJ), condenada no Tribunal do Júri da Comarca de Niterói (RJ) pelo assassinato do marido.
Entenda o caso
No Dia Internacional da Mulher, o deputado mineiro Nikolas Ferreira foi à tribuna da Câmara discursar contra as transexuais. Na ocasião, o parlamentar utilizou uma peruca loira e disse que estava se sentindo “como uma mulher” e se intitulou “Nicole”.
“Me sinto mulher, deputada Nicole, e tenho algo muito interessante para poder falar. As mulheres estão perdendo o seu espaço para homens que se sentem mulheres”, disse.
“E, para terem ideia do perigo de tudo isso, estão querendo colocar uma imposição de uma realidade que não é uma realidade. Eu posso ir para a cadeia caso seja condenado por transfobia, porque eu, no Dia Internacional das Mulheres, há dois anos, parabenizei as ‘mulheres XX’. Ou você concorda com o que estão dizendo ou, caso contrário, você é um transfóbico, um preconceituoso”, afirmou.
Veja o vídeo:
Deputados do PSOL, PDT e PSB pedem cassação de Nikolas Ferreira por suposta transfobia
Nesta quarta-feira (8), Dia Internacional da Mulher, deputado vestiu peruca para fazer discurso na Câmara
Reprodução/ TV Câmara
Deputados federais do PSOL, PDT e PSB pediram, nesta quarta-feira (8), a cassação do mandato do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) por suposta transfobia após discurso no plenário da Câmara durante este Dia Internacional da Mulher.
A representação protocolada pede ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que um processo disciplinar seja instaurado no Conselho de Ética na Casa e que Ferreira seja punido com a cassação ao fim de toda a análise. Na avaliação do grupo, o deputado quebrou o decoro parlamentar.
Além da bancada do PSOL, também assinam o documento as deputadas Duda Salabert (PDT-MG) e Tabata Amaral (PSB-SP), os deputados André Figueiredo (PDT-CE) e Túlio Gadelha (Rede-PE), e o presidente do PSB, Carlos Siqueira.
Nikolas Ferreira vestiu uma peruca durante discurso na tribuna da Câmara dos Deputados e falou que se sentia uma mulher transexual e, por isso, teria “lugar de fala” no Dia Internacional das Mulheres.
“Hoje, o dia internacional das mulheres, a esquerda disse que eu não poderia falar, pois eu não estava no meu local de fala. Então, eu solucionei esse problema aqui. Hoje eu me sinto mulher. Deputada Nikole”, disse enquanto colocava uma peruca amarela.
Ele prosseguiu falando que as mulheres estariam “perdendo seu espaço para homens que se sentem mulheres”. E que “eles estão querendo colocar uma imposição de uma realidade que não é a realidade”.
O parlamentar disse ainda que corria o risco de ir para a cadeia por transfobia por ter parabenizado apenas as “mulheres [cromossomo] XX”. “É uma imposição. Ou você concorda com o que eles estão dizendo, ou caso contrário você é um transfóbico, homofóbico e preconceituoso”, falou.
Depois ele tirou a peruca e disse que as mulheres não deviam nada ao feminismo. “Retomem sua feminilidade, tenham filhos, amem a maternidade e formem sua família. Dessa forma vocês colocarão luz no mundo e serão valorosas.”
A reação nas redes sociais e no Congresso foi imediata. Parte dos parlamentares acusa o deputado de transfobia.
Na representação contra Ferreira, os deputados afirmam que, “como é possível depreender da fala do deputado, o conteúdo de seu discurso tem caráter ofensivo e criminoso, uma vez que direcionado a manifestar discriminação e ridicularizar pessoas transexuais e travestis”.
“A declaração do deputado federal Nikolas Ferreira é extremamente grave e atenta contra a ordem jurídica e social fixada pela Constituição Federal; descumpre os deveres postos no CEDP [Código de Ética e Decoro Parlamentar] da Câmara dos Deputados; agride o disposto em diversos tratados e acordos internacionais que o país se comprometeu a observar; e desborda, ainda, em ilicitude penalmente tipificada. Sua prática, por conseguinte, é inconstitucional, ilegal e não compatível com a ética e o decoro parlamentar”, acrescentam.
Arthur Lira publicou em suas redes sociais uma “reprimenda pública” contra a atitude do deputado e disse que o plenário “não é palco para exibicionismo”.
A CNN procurou o deputado Nikolas Ferreira para comentar os pedidos de punição e aguarda retorno.