Quase lá: Livro de pesquisador da USP sobre famílias LGBTQIAPN+ é finalista do Jabuti Acadêmico

Afetividades LGBTQIA+ anunciadas: olhares de famílias brasileiras foi um dos cinco trabalhos selecionados na categoria Comunicação e Informação

 Jornal da USP - Publicado: 30/07/2024     Atualizado: 31/07/2024 as 15:59

Texto: Silvana Salles

Arte: Joyce Tenório*

familia lgbt

Livro finalista do Jabuti Acadêmico mostra como famílias brasileiras encaram anúncios publicitários que retratam o afeto entre pessoas LGBTQIAPN+ – Foto: Reprodução/Freepik

 

Um livro fruto de uma pesquisa de pós-doutorado realizada na USP está entre os finalistas do Prêmio Jabuti Acadêmico na categoria Comunicação e Informação. Afetividades LGBTQIA+ anunciadas: olhares de famílias brasileiras, de autoria de Francisco Leite, parte da publicidade para investigar como as famílias brasileiras conversam sobre o afeto entre pessoas LGBTQIAPN+ quando se deparam, voluntária ou involuntariamente, com representações na mídia. Publicado pela editora Annablume com apoio da Fapesp, o livro foi lançado em 2023.

Francisco Leite é pesquisador do grupo de pesquisa Estudos Antirracistas em Comunicação e Consumos (ArC2), da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, e membro do grupo de pesquisa Inteligência Artificial Responsável, do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. Na pesquisa que deu origem ao livro finalista do Jabuti Acadêmico, ele procurou compreender as percepções e experiências de mães e pais, sejam homoafetivos ou heteroafetivos, quando se deparam com anúncios publicitários que retratam positivamente as relações de afeto e cuidado de pessoas da comunidade LGBTQIA+.

Esses anúncios são chamados de contraintuitivos, pois utilizam em suas narrativas novos conteúdos e informações positivas acerca de grupos tradicionalmente minorizados, como pessoas negras, LGBTQIA+, mulheres e indígenas. “São narrativas que buscam sair do óbvio e tentam violar, modificar ou, de alguma forma, afetar positivamente as expectativas intuitivas (automáticas) que as pessoas esperam ver associadas a indivíduos alvos de estereótipos nas produções midiáticas”, explicou o pesquisador ao Jornal da USP na época do lançamento de Afetividades LGBTQIA+ anunciadas.

Segundo o autor, o livro vem sendo adotado nas salas de aula de cursos de graduação e pós-graduação em comunicação. Ele atribui o interesse que o trabalho vem gerando ao seu ineditismo. “O livro compartilha uma discussão inédita nos estudos do campo da comunicação no Brasil, elaborada com apoio de uma rigorosa e vigorosa metodologia, a teoria fundamentada, bem como inscreve uma agenda de reflexões e caminhos a serem desdobrados a partir do quadro explicativo que apresentamos no livro. Esse quadro foi elaborado com apoio de diversas famílias homoafetivas e heteroafetivas brasileiras”, diz Francisco.

A publicidade e as conversas em família

Uma das principais mensagens do livro reside em mostrar que o anúncio publicitário pode servir como ponto de partida para conversas em família sobre temas relevantes da atualidade, extrapolando seu objetivo de vender um produto. Durante a pesquisa que deu origem à obra, Francisco entrevistou 30 agentes parentais responsáveis pelo cuidado de crianças e jovens brasileiros. Dessas pessoas, 18 eram heteroafetivas e 12 homoafetivas. Ele descobriu, por exemplo, que a maioria das famílias entrevistadas procura utilizar o contato com os anúncios contraintuitivos para conversar com as crianças e adolescentes sobre temáticas LGBTQIA+, sempre considerando a maturidade psicológica de cada um.

Por outro lado, apenas uma minoria de pais e mães heteroafetivos relataram práticas de bloquear ou neutralizar a circulação dentro de casa dos anúncios com representações de afeto entre pessoas LGBTQIAPN+. Para esses pais e mães, a vigilância constante sobre os conteúdos que as crianças e adolescentes consomem e a ênfase permanente nos valores da dita família tradicional acabam sendo fontes de exaustão. “Esses agentes parentais apontam um esgotamento mental nesse esforço de proteger as crianças e jovens, segundo eles, da exagerada exposição LGBTQIA+ na mídia”, conta o pesquisador.

Francisco, que já foi finalista em duas edições do Prêmio Jabuti com trabalhos coletivos, comemora o reconhecimento expresso na indicação do Jabuti Acadêmico. “A minha indicação deste ano ao Prêmio Jabuti Acadêmico é especial, porque é a primeira vez que concorro com uma obra de autoria solo”, conta o pesquisador.

Francisco Leite realizou a pesquisa durante pós-doutorado na USP - Foto: Arquivo Pessoal

A Câmara Brasileira do Livro divulgará os vencedores da primeira edição do Jabuti Acadêmico no dia 6 de agosto, em uma cerimônia a ser realizada no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo.

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