O racismo no que tange as questões de ansiedade e depressão, abrange todas as lutas internas, passadas e atuais"
"Sofrer injúrias, ataques que inferiorizam, desumanizam, abordagens policiais abusivas, são situações que podem nos remeter a todos os possíveis traumas da infância, os medos internos, gatilhos que nos remetem a tais sofrimentos." - Tânia Rêgo/ Agência Brasil
Antes de começarmos a conversa, um breve silêncio se faz... pelas resistências, pelas mulheres pretas e pardas por nossa ancestralidade pela história que foi e com ela a necessidade de representar os que se foram e nos deixaram memórias registradas também em nossa pele e nossa luta.
Falemos aqui das duas questões que recaem sobretudo naquilo que chamamos de emoções e colocam em xeque a saúde mental da população negra, são elas: a exclusão social e o racismo. Conforme as regras do xadrez, a condição de quem se encontra em xeque evidencia situação de risco, ameaça, perigo.
No campo da exclusão: saúde mental em xeque!
Excluir é deixar de fora, é o que entendemos por não pertencimento. Todas as pessoas querem sentir-se de alguma forma pertencidas a coletivos, e que tal condição permita agregar valor, falemos em pertencer a uma árvore genealógica, a um clã, a um núcleo, a uma classe, ou a quaisquer outros segmentos sociais. Um direito, refutado desde o momento em que pessoas negras foram retiradas de suas próprias histórias e trazidas à escravidão.
Nossos antepassados saíram das senzalas para as ruas, para as periferias urbanas, ‘exclusive’ para casas ou empregos dignos. Não havia lugar para morrer ou para viver.
Desta forma, a vontade de construir algum vínculo de pertencimento é sofrida quando não validada e por isso há necessidade das lutas e resistências sobretudo na coletividade, uma maneira de obter respostas às questões internas ainda não respondidas. Aí acontece o sofrimento mental, uma oportunidade de olhar para tudo o que nos fez chegar até aqui. E isso é muito importante!
No campo do racismo: saúde mental em xeque-mate!
O racismo no que tange as questões de ansiedade e depressão, abrange todas as lutas internas, passadas e atuais, o que não são “pieguices” como dizem os reacionários que estão de fora. Essa prática se constitui em um outro caso de doença mental. Por isso, a importância da consciência negra e do conhecimento sobre os casos de racismos (racismo estrutural, ambiental, religioso, etc.) que testemunhamos, sofremos e que precisa levar-nos a gritar, contestar e levantar os punhos, algo que nos conduza refletir o quanto isso nos afeta enquanto seres humanos.
Sofrer injúrias, ataques que inferiorizam, desumanizam, abordagens policiais abusivas, são situações que podem nos remeter a todos os possíveis traumas da infância, os medos internos, gatilhos que nos remetem a tais sofrimentos. E lá vamos nós às nossas terapias (diga-se de passagem, inacessíveis para a maioria da população negra) buscar novos significados às dores causadas pelo racismo. Ao que ele nos causa: xeque-mate (ergamos os punhos novamente).
Dentre as complexidades, a matemática é simples: ao não pertencimento, em consonância com o racismo, entendamos que o que temos para hoje são as relações com tudo o que nos cerca. Tais violências subtraem a nossa condição humana.
Por isso, na coletividade negra, “escurecer” sobre a importância de nos reconhecermos frente às lutas, valores, oralidades, religiosidades, cooperativismos... como faziam nossos ancestrais, significa multiplicar potencialidades.
Erguer os olhos do coração, em posição de luta, importar no intuito de trazer para dentro de nós a força e a coragem por meio das mudanças que almejamos para o futuro, faz-se necessário.
Neste julho das ‘pretas’, façamos sempre mais! (ergamos os punhos novamente, compreendendo a dimensão simbólica que tal gesto enseja).
*Mariana Almada é professora, psicanalista e fotógrafa.
:: Clique aqui para receber notícias do Brasil de Fato DF no seu Whatsapp ::
Edição: Márcia Silva