Crianças e adolescentes são as principais vítimas de estupradores. Essa é uma aterradora realidade que se mantém no país. Os algozes são pessoas conhecidas e da confiança das vítimas — em geral, familiares e parentes
Em Aparecida de Goiânia (GO), um homem está sendo investigado por estuprar a filha, de 9 anos, e oferecê-la a outros pedófilos. O canalha anunciava a criança em redes sociais. Não cobrava pelo crime, a condição era que ela fosse abusada sexualmente na frente dele. O covarde foi preso por armazenar conteúdos de exploração sexual infantil. No celular, a polícia encontrou as mensagens em que ele colocava a menina à disposição de outros molestadores.
É inimaginável o sofrimento dessa criança, submetida a uma brutalidade assim, cometida pelo próprio pai — alguém que deveria zelar por sua segurança e bem-estar, que tinha a obrigação de mantê-la a salvo de todo tipo de violência. É um trauma psicológico, além de físico, que vai acompanhá-la por toda a vida.
O drama dessa garotinha é também o de um sem-número de outras meninas e meninos pelo Brasil. Para eles, a casa é o pior pesadelo, o lugar em que padecem de múltiplas torturas sexuais, físicas e psicológicas.
Crianças e adolescentes são as principais vítimas de estupradores. Essa é uma aterradora realidade que se mantém no país. Há poucos dias, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostrou que o abuso sexual é a violência mais persistente contra meninas de 10 a 14 anos (49,6%), e a segunda causa que vitima bebês e meninas de até 9 anos.
Os algozes são pessoas conhecidas e da confiança de crianças e adolescentes, em geral, familiares e parentes: pais, padrastos, mães, madrastas, irmãos, primos, tios, avós — o que torna o crime ainda mais sórdido. Os abusos ocorrem, em sua maioria, no ambiente doméstico.
Essa violência contra meninos e meninas independe de classe social, nível de escolaridade ou religião. E as consequências são profundas na saúde física e mental e no desenvolvimento deles. Os impactos prosseguem na vida adulta e são numerosos, entre os quais, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), depressão, ansiedade, transtornos alimentares, maior tendência ao uso ou abuso de álcool, drogas e outras substâncias.
A barbárie tem de ser enfrentada prioritariamente pelo Estado e envolver família e sociedade. São necessárias políticas públicas urgentes para lidar com a violência e fortalecer a rede de proteção — o que, entra governo, sai governo, ainda não vimos efetivamente. Ao não combater a atrocidade, o poder público negligencia e desrespeita a camada mais vulnerável da população, deixando-a como alvo fácil para predadores sexuais.
fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/opiniao/2024/07/6905682-opiniao-o-horror-dentro-de-casa.html