O lar, no final de semana, com gente conhecida, forma o quadro propício ao parceiro que agride e mata, ou tenta matar sua companheira. É o que fica evidente nas situações coletadas pelo Monitor de Feminicídios no Brasil (MFB), que registrou os dados quanto a esse crime consumado e tentado no período de janeiro a junho de 2024.
A reportagem é de Edelberto Behs.
A cada dia, no período, foram consumados 4,98 feminicídios – 905 no total – e 6,05 tentados – 1.102 no total. A média nacional é de 1,03 caso de feminicídios para 100 mil mulheres. Entre as 27 unidades da Federação, 11 estão acima da média nacional, com destaque, negativo, para o Mato Grosso do Sul, com 2 casos para cada 100 mil, seguido do Mato Grosso (1,65), Amazonas (1,52), Espírito Santo (1,4), Acre (1,45) e Rondônia (1,39).
Santa Catarina, com 1,2 casos por 100 mil, e o Paraná, com 1,18, são Estados do Sul que ficaram acima da média. O Rio Grande do Sul, com 0,6 casos por 100 mil, aparece em último lugar nessa lista macabra. Pelo preceito legal, o feminicídio é definido como homicídio cometido “contra a mulher por razões da condição do sexo feminino”.
Um terço dos feminicídios ocorrem em finais de semana, quando mulheres estão em maior contato com os seus potenciais agressores, especialmente parceiros íntimos, seja dentro de casa ou em momentos de lazer. Ex-parceiros íntimos foram responsáveis por 31,5% dos casos tentados e 23,4% dos casos consumados.
O Monitor também apresenta o tipo “feminicídio íntimo” como responsável por 67,4% dos casos consumados e 77% dos tentados no período. Essa tipologia, explica o Monitor, diz respeito aos casos de violências contra mulheres cometidas por um ou mais de um agressor que fazem parte do seu círculo de intimidade, como marido, ex-marido, companheiro/a, namorado/a, ex-namorado/a amante ou uma pessoa com que a vítima teve filhos. “Geralmente, o ‘feminicídio íntimo’ ocorre em razão de a mulher se negar a ter relação íntima, de cunho sentimental ou sexual, com o seu algoz”.
Ex-parceiros íntimos foram responsáveis por 31,5% dos casos tentados e 23,4% dos consumados. Em 81% dos casos consumados não havia uma denúncia prévia por parte da mulher e nos casos tentados, 77,8% das agredidas não tinham dado queixa numa delegacia.
A arma branca – objetos contundentes como faca, foice, canivete – foram utilizados em 63,8% dos casos consumados. Em seguida aparece a arma de fogo, com 20,3%. Agressores também recorreram a outros meios, como asfixia, espancamento e golpes; 17,8% dos casos consumados no primeiro semestre do ano ocorreram na presença do/a filho/a da vítima.
O MFB é uma iniciativa desenvolvida pelo Laboratório de Estudos de Feminicídios no Brasil (LESFEM), formado em parceria da Universidade Estadual de Londrina com a Universidade Federal de Uberlândia, a Universidade Federal da Bahia e a Universidade Federal de Catalão.
Leia mais
- Feminicídios. Artigo de Luca Baratto
- Dois terços das mulheres assassinadas com armas de fogo são negras
- IHU Cast – Violência doméstica e Feminicídios no Rio Grande do Sul. Resistências e enfrentamentos
- Número de feminicídios em 2023 é o maior da série histórica no Brasil, diz Fórum de Segurança Pública
- Na semana do Dia Internacional das Mulheres, o IHU promove dois eventos sobre o tema
- O feminismo avançou, mas não consolidou os avanços. Entrevista com a socióloga Eva Blay
- Brasil é um dos países mais inseguros do mundo para as mulheres. Entrevista especial com Nádia Machado de Vasconcelos
- Algumas reflexões sobre o Dia Internacional da Mulher. Artigo de Márcia Rosane Junges
- “As mulheres não alcançaram um lugar de naturalidade na política latino-americana”
- Brasil, a lanterna no ranking de participação de mulheres na política
- Mulheres na berlinda: a violência política de gênero e o alcance dos casos no Brasil do ódio
- Mesmo com avanços, trabalho doméstico ainda revela desigualdades de gênero. Entrevista especial com Luana Simões Pinheiro
- As desigualdades de gênero, raça e classe como parte da política tributária nacional
- O Dia Internacional da Mulher e o Índice de Desigualdade de Gênero. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
- Dia Internacional da Mulher: a origem operária do 08 de Março
- Dia internacional da mulher. Artigo de Mireni de Oliveira Costa Silva
- O Dia Internacional da Mulher e a baixa representação feminina da Câmara dos Deputados. Artigo de José Eustáquio Diniz Alves
- Dias mulheres virão! Artigo de Élio Gasda
- Uma mulher é vítima de agressão ou ameaça a cada 10 minutos no RS
- Visível e Invisível: a complexidade em torno da violência e acolhimento das mulheres. Entrevista especial com Amanda Lagreca
- Primeiro semestre de 2023 registra 16 mil casos de violência contra mulheres no Rio de Janeiro
- Adolescentes são apreendidos por estupros, mutilação e indução ao suicídio
- Mais de 18 milhões de mulheres sofreram violência no Brasil em 2022
- Na pandemia, três mulheres foram vítimas de feminicídios por dia
- Feminicídio, um crime que reflete as dores do mundo e de nosso tempo
- Uma mulher é agredida a cada 22 minutos no RS
- “O problema da violência sexual é político, não moral”. Entrevista com Rita Segato
- Agressões psicológicas representam 34% dos casos de violência de gênero contra mulheres indígenas em Roraima
- ‘Nada é como a mãe’: A vida de crianças e adolescentes órfãos do feminicídio
- Brasil tem dois mil órfãos do feminicídio por ano
- Oxfam: violência contra mulheres cresceu 111% durante a Covid
- Uma agressão a cada 4 horas, um assassinato por dia: a realidade da mulher no Brasil
- 80% das 106 vítimas de feminicídios no RS não tinham medida protetiva em 2022, diz defensora
- A macabra estatística de feminicídios no Brasil
- Fórum de Mulheres denuncia subnotificação de feminicídios no Ceará
- Sinais do aumento de feminicídios. Por que elas são mortas?
- Vale dos Sinos concentra quase 10% dos casos de feminicídio do Estado, informa ObservaSinos
- Brasil teve ao menos 1 caso de feminicídio por dia em 2022; SP e RJ lideram
- Feminicídio após liberação de agressor deflagra movimento no RS
- Filicídio, a face mais cruel do feminicídio