Rotina de conflitos e brigas entre o casal foi revelada por colega de Patricia Jackes
A delegada Patricia Neves Jackes Aires, encontrada morta na manhã de domingo, 11, em uma área de mata, no município de São Sebastião do Passé, na Região Metropolitana de Salvador, havia solicitado uma medida protetiva contra seu companheiro, Tancredo Neves Feliciano de Arruda, principal suspeito pelo crime. A informação foi passada pelo perito criminal Lino Oliveira, em entrevista ao site Voz da Bahia.
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Lino, que era colega e amigo da autoridade plantonista da Delegacia Territorial de Santo Antônio de Jesus, também salientou que, pouco depois do pedido da medida protetiva, os dois noivaram.
"O fato dela ter tido uma medida protetiva e logo em seguida ter noivado com essa pessoa, a gente não entende [...] foi pedido uma medida protetiva. Agora, eu não sei se foi expedido, mas é no mínimo estranho esse tipo de coisa acontecer, salvo se ela tomou a decisão de retirar a queixa, ou de algo dessa natureza", disse.
Além da solicitação, o colega conta que foram vários registros de conflitos entre os dois. "Aviso não faltou, foi sinalizada várias vezes, ela teve vários registros de conflito com ele mesmo. Eu não estou dizendo que ele é o autor, mas a vida dela com essa pessoa era conturbada, todos os indícios levam a ele. Ainda mais pela divergência do depoimento dele com os fatos que estamos descobrindo", explicou.
Já em entrevista exclusiva ao Portal A TARDE, o irmão de Patrícia, contou que o pedido de medida protetiva contra Tancredo Neves foi solicitado logo após um episódio em que o homem agrediu os pais da delegada.
Companheiro preso em flagrante
Entre as divergências e fatos suspeitos salientados pelo período, está o fato de que Tancredo Neves estava com o seu próprio celular quando pediu ajuda à Polícia Rodoviária Federal (PRF-BA) e a ViaBahia, alegando o sequestro. Além disso, manchas de sangue foram encontradas na casa da delegada, em um condomínio no bairro do Cajueiro.
Pouco depois, ele foi autuado em flagrante pelo crime de feminicídio. Em nota, a Polícia Civil disse que as investigações encontram-se nas fases preliminares, com perícias em curso, análises de imagens de câmeras de vigilância e outras diligências investigativas. Conforme a corporação, ainda não existem elementos que confirmem a informação acerca de um suposto sequestro que desencadeou a morte da delegada.
Patricia Jackes atuava no combate à violência de gênero
Com forte atuação na prevenção e enfrentamento às violências de gênero, Patrícia atuou em 2021 no Núcleo Especializado de Atendimento à Mulher (NEAM), da 4ª Coordenadoria de Polícia, no município de Santo Antônio de Jesus (BA).
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Natural de Recife (PE) e formada em Direito com especialização em Direito Penal e Processo Penal, Patrícia ingressou na Polícia Civil em 2016, sendo inicialmente lotada na Delegacia Territorial de Barra, no oeste do estado. Em sua carreira, ela também trabalhou nas delegacias de Maragogipe e São Felipe, antes de ser transferida para Santo Antônio de Jesus, onde atuava como plantonista.
fonte: https://atarde.com.br/bahia/delegada-encontrada-morta-na-bahia-havia-pedido-medida-protetiva-1282326
Delegada assassinada era considerada bem-humorada e determinada nas operações
Velório comoveu a cidade de Santo Antônio de Jesus
Gil Santos - Correio24Horas (Salvador)
Publicado em 12 de agosto de 2024 às 17:49
Delegada foi encontrada morta dentro de carro Crédito: Divulgação
Quando a delegada Patrícia Neves Jackes Aires, 39 anos, foi trabalhar na 4ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin), em Santo Antônio de Jesus, a unidade ainda não tinha uma área específica para investigar crimes de feminicídio e aqueles praticados contra crianças e adolescentes. Esses casos eram apurados como todos os outros. O ano era 2017. Ao resolver criar uma espécie de departamento para esses casos, a direção escolheu Patrícia para comandar a área.
Quem conta essa história é um investigador que trabalhou quatro anos com a delegada. O policial ficou emocionado ao comentar sobre o assassinato da amiga, disse que Patrícia era conhecida como uma pessoa bem-humorada e comunicativa e, para provar o que estava dizendo, o investigador sacou o celular do bolso e mostrou um áudio recebido da delegada em que ela faz brincadeiras, semanas antes da morte.
"Ela era uma pessoa muito comunicativa. Onde chegava, ela se enturmava fácil e gostava de trabalhar em campo, de acompanhar as prisões. As pessoas mandavam coisas para ela, situações de agressão e violência doméstica, e ela assumia a frente. Quando criaram essa área de investigação na delegacia, Drª Patrícia correu atrás para conseguir mais recursos. Ela era retada", conta o investigador.
Patrícia foi encontrada morta dentro do próprio carro, no município de São Sebastião do Passé, no domingo (11). O principal suspeito do crime é o companheiro dela, identificado como Tancredo Neves Feliciano de Arruda, que está preso. Segundo a coordenadora do Departamento de Polícia do Interior (Depin), Rogéria Araújo, o suspeito nega o crime. A polícia ainda aguarda o laudo da autópsia para confirmar a causa da morte, mas a principal suspeita é que Patrícia tenha sido estrangulada.
"Estamos aguardando laudos periciais, imagens de câmeras que foram coletadas desde Santo Antônio de Jesus até as BRs 101 e 324. É um trabalho que vai demorar um pouco, mas temos colegas de vários departamentos envolvidos nesse caso. Ele nega o crime, assim com nega as outras duas ocorrências de violência doméstica registradas na ficha dele, em Itamaraju, e a agressão a uma médica em Feira de Santana", contou a delegada.
A delegada Patrícia tinha uma medida protetiva contra Tancredo. O homem foi indiciado pela Polícia Civil também por exercício ilegal da medicina e falsidade ideológica. Ele se formou em medicina fora do Brasil, mas não fez a prova do Revalida para obter a autorização para atuar no país. Uma investigação foi iniciada em 2022 pela Delegacia Territorial de Euclides da Cunha, e a polícia concluiu que ele não tinha competência para exercer a medicina em território brasileiro.
Ele disse para os policiais que estava tendo um relacionamento com Patrícia há cerca de quatro meses. Amigos da delegada confirmaram, mas frisaram que o casal vivia em constantes brigas e que terminaram e retomaram a relação algumas vezes. A delegada deixou um filho de 7 anos. O crime comoveu a cidade de Santo Antônio de Jesus, onde ela morava e trabalhava. Uma multidão lotou a Câmara Municipal para acompanhar o velório, e parte do público precisou aguardar do lado de fora do prédio.
A coordenadora do Depin, Rogéria Araújo, frisou que a violência doméstica está presente em todas as esferas e classes sociais, que é preciso conscientização para educar as crianças para que respeitem as mulheres e ações que apoiem e protejam as vítimas. Ela também fez um alerta.
"A violência contra a mulher começa incialmente com um gesto e avança até chegar ao ápice que é a perda da vida. Precisamos dizer para todas as mulheres que nós não somos objetos dos homens e temos o direito de dizer 'não' na hora em que decidirmos", frisou.
O corpo de Patrícia seguiu para Recife, em Pernambuco, onde mora a família da delegada e onde será sepultado.