Quase lá: Sentir e pensar juntos. Um caminho latino-americano. Artigo de Mónica Benavides

"O nosso pensamento é coletivo e inter-relacional, inspirado na natureza entrelaçada de terra, ar, fogo e água. As infinitas formas em que a vida se manifesta em seu movimento contínuo estão contidas em uma cosmo-existência que reconhece o valor sagrado das vidas, interconectadas em um único corpo com um único batimento.

IHU - Instituto Humanitas Unisinos - 11/7/2024

Monica Benavides

Essa abordagem abrange diferentes perspectivas, tingidas de masculino e feminino, que matizam os ecossistemas de biodiversidade e harmonizam as complexidades", escreve Mónica Benevides, religiosa da Congregação das Irmãs da Divina Vontade. Ela pertence à comunidade indígena Pastos y Quillacingas na região de Nariño, Colômbia. Estudou ciências religiosas, catequese, pedagogia universitária e teologia. Participa da equipe consultiva teológica da presidência da Confederação Latino-americana de Religiosos - CLAR.

O artigo é publicado por Avvenire, 09-07-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Hoje é um momento propício para recuperar os saberes e fazer com que se sentem à mesma mesa, dando voz às diferentes sabedorias que alimentam o bem comum.

Isso torna possível tecer uma sinodalidade epistêmica. Sair da zona de conforto para encontrar outras formas de ser, conhecer, fazer e se relacionar é também caminhar juntos na palavra, onde os opostos podem coexistir não apenas sem se negarem mutuamente, mas também abrindo novas perspectivas e horizontes de interação no tecido social. Assim, o pensamento crítico latino-americano se apresenta hoje como um saber alternativo que alguns enquadram como Epistemologias do Sul. É importante enfatizar que nosso "sentipensamiento" articula pensamento, sentimento, palavra e ação. Esse saber outro tem raízes ancestrais e esteve presente na vida cotidiana de nossos povos, embora somente a partir do século passado tenha começado a se posicionar, por meio de várias pessoas que o desenvolvem e articulam em nível interdisciplinar, abrindo assim novas formas de ler, interpretar e agir nos nossos contextos.

Esse 'sentipensar' acompanhou a resistência das comunidades, pintando tecidos com cores, apropriando-se de espaços e ressignificando-os com arte; atravessou as ditaduras, cantando o inominável; subverte todo momento presente, sonhando com futuros possíveis nos quais a vida nos une.

O nosso pensamento é coletivo e inter-relacional, inspirado na natureza entrelaçada de terra, ar, fogo e água. As infinitas formas em que a vida se manifesta em seu movimento contínuo estão contidas em um cosmo-existência que reconhece o valor sagrado das vidas, interconectadas em um único corpo com um único batimento. Essa abordagem abrange diferentes perspectivas, tingidas de masculino e feminino, que matizam os ecossistemas de biodiversidade e harmonizam as complexidades.

Essa realidade, que não é feita de papel, mas que determina cada momento da vida cotidiana, esteve à busca de métodos de interpretação e reflexão sobre a práxis como base fundamental de todo novo conhecimento (García Márquez).

Sem dúvida, o nosso é um ‘sentipensamento’ situado e contextual, com um lugar de enunciação (Mignolo). Por esse motivo, as contribuições da pesquisa-ação participativa foram importantes (Fals Borda), porque estamos em inter-relação, "somos humanos na dinâmica recursiva que entrelaça nossa corporeidade com o fluxo da conversação" (Maturana).

Essa dinâmica de reconhecimento territorial nos levou a "geografar" a partir da resistência, que é o espaço do qual emergem alternativas e propostas. A geografia de baixo, sobre as necessidades e as potencialidades da vida comunitária, é uma ferramenta política para desafiar toda forma de manipulação ou abuso de poder (Porto Gonçalves, Acosta, Santos). Isso implica a corresponsabilidade de um empenho político que busca a equidade social com poesia e profecia, propondo caminhos mais justos para todos e uma governança territorial conjunta que assuma a construção de seu próprio futuro, com relações de cuidado.

Nesse sentido, a filosofia e a teologia latino-americanas, juntamente com a sociologia e a ecologia política, propuseram novas formas de construir uma reflexão baseada na realidade, orientada para a transformação social (Dussel, Gutiérrez, Boff, Leff). Com uma participação ativa e um olhar libertário (Freire), essas narrativas estão escrevendo o nosso percurso na história com pinceladas que dão alma a cada passo com os outros no mundo, de uma forma mais inclusiva e emancipatória.

 

Leia mais

fonte: https://www.ihu.unisinos.br/categorias/641246-sentir-e-pensar-juntos-um-caminho-latino-americano-artigo-de-monica-benavides

 


Artigos do CFEMEA

Coloque seu email em nossa lista

lia zanotta4
CLIQUE E LEIA:

Lia Zanotta

A maternidade desejada é a única possibilidade de aquietar corações e mentes. A maternidade desejada depende de circunstâncias e momentos e se dá entre possibilidades e impossibilidades. Como num mundo onde se afirmam a igualdade de direitos de gênero e raça quer-se impor a maternidade obrigatória às mulheres?

ivone gebara religiosas pelos direitos

Nesses tempos de mares conturbados não há calmaria, não há possibilidade de se esconder dos conflitos, de não cair nos abismos das acusações e divisões sobretudo frente a certos problemas que a vida insiste em nos apresentar. O diálogo, a compreensão mútua, a solidariedade real, o amor ao próximo correm o risco de se tornarem palavras vazias sobretudo na boca dos que se julgam seus representantes.

Violência contra as mulheres em dados

Cfemea Perfil Parlamentar

Direitos Sexuais e Reprodutivos

logo ulf4

Logomarca NPNM

Cfemea Perfil Parlamentar

Informe sobre o monitoramento do Congresso Nacional maio-junho 2023

legalizar aborto

...