Ela recebeu flores, chocolates e cartas dos alunos do curso de biomedicina da Unisagrado, em Bauru (SP). Em nota, a universidade garante que vai tomar medidas administrativas
Após o vídeo sendo ridicularizada por colegas de turma viralizar, Patrícia Linares, 44 anos, foi homenageada por estudantes de biomedicina com flores, chocolates e cartas. O estado emocional da vítima foi a principal preocupação dos universitários, logo após toda a exposição.
“A Patrícia transmite uma paz muito grande. No primeiro momento, mesmo indignados com a situação, nos preocupamos com o bem-estar dela acima de tudo”, afirma a colega que cursa o penúltimo semestre do curso de biomedicina, Júlia Fuganholi, 23 anos. Ela conta que soube do ocorrido por meio de um grupo de WhatsApp com todos os estudantes do curso na instituição.
Fuganholi lembra quando a caloura se identificou e falou sobre sua história de vida pela primeira vez aos veteranos, durante uma dinâmica de apresentação. “Comentou que não conseguia engravidar de forma alguma e por isso, optou pela fertilização. Dessa forma, por conviver tanto nos consultórios, ela criou um interesse genuíno pela biomedicina”, ressalta a veterana.
Com políticas públicas, a estudante sugere que a universidade retalie a situação. “Além de punir devidamente as universitárias que gravaram os vídeos, esperamos que a instituição promova palestras para conscientizar os estudantes sobre o tema. Estamos questionando a reitoria sobre o processo para que a retaliação ocorra o mais rápido possível”, comenta a paulista.
“Sentiu paz com todo acolhimento não só da universidade, mas de todo Brasil”, conta a veterana sobre o estado emocional da vítima, que não se pronunciou e preferiu preservar sua imagem.
Instituições acadêmicas
Referente ao comportamento preconceituoso das jovens universitárias, a universidade Unisagrado declara que irá “tomar as medidas administrativas necessárias que nos compete, para apuração disciplinar dos envolvidos”, em nota de repúdio, emitida nesta segunda-feira (13). A reitoria da universidade ainda ressalta que “nosso objetivo é educar, verbo fundamental e obrigatório na construção de uma sociedade cada vez mais justa”.
Além disso, o Conselho Federal de Biomedicina (CFBM), em suas redes sociais manifestou apoio à aluna de biomedicina vítima de etarismo. "Sabemos que cada indivíduo é único e para cada um as oportunidades vêm em momentos singulares. Não há idade para aprender. Lamentamos essa atitude em pleno século 21”, afirma o conselho.
Tendo em vista, o aumento de alunos acima de 50 anos em mais de 45% entre 2019 e 2021 nos bancos acadêmicos. A instituição embasada em dados do último senso do Ministério da Educação ainda concluiu que a tendência é que cada vez mais calouros de meia-idade frequentem ambientes acadêmicos.
Vídeo
A gravação foi realizada no close friends de uma das calouras de biomedicina, ferramenta utilizada num aplicativo de vídeo que possibilita a publicação para um grupo selecionado de seguidores, durante 24h. Todavia, acabou saindo da roda de amigos próximos e viralizando na internet.
Frases como “Gente, quiz do dia: como ‘desmatricula’ um colega de sala?”, uma das estudantes inicia o vídeo e, em seguida sua colega ironiza a estudante de 44 anos: “Mano, ela tem 40 anos já. Era para estar aposentada” e a terceira participante complementa “Gente, 40 anos não pode mais fazer faculdade. Eu tenho essa opinião”.
Etarismo é crime
Uma pessoa só pode ser considerada idosa a partir dos 60 anos, já a meia-idade se caracteriza por indivíduos de 45 a 49 anos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Todavia, o etarismo, discriminação e preconceito relacionado a faixa etária de uma pessoa é considerado crime desde 2003. De acordo com o Estatuto de Idoso, a pena prevista é de 6 meses a 1 ano de reclusão e multa. A norma prevê, ainda, que também responde pelo crime pessoa que, por qualquer motivo, humilhe, menospreze alguém por causa de sua idade.
As denúncias de violações de direitos humanos podem ser feitas de maneira anônima pelo Disque Direitos Humanos, o Disque 100.