Das 3.900 pessoas inseridas nos quadros da ONU no país asiático, cerca de 600 são mulheres, sendo 400 afegãs
Depois de banir as mulheres de visitarem parques públicos e de frequentarem a universidade, o Talibã deu um passo a mais no reforço à opressão de gênero no Afeganistão. A milícia fundamentalista islâmica proibiu as afegãs de trabalharem para a Organização das Nações Unidas (ONU). Das 3.900 pessoas inseridas nos quadros da ONU no país asiático, cerca de 600 são mulheres, sendo 400 afegãs.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu aos talibãs a "imediata revogação da decisão". "Essas mulheres são essenciais" para as operações humanitárias da ONU, por isso a "aplicação dessa decisão vai afetar a população afegã", que, em boa parte, depende dessa assistência", afirmou o porta-voz Stéphane Dujarric.
"O regime do Talibã não tem limites em sua ignorância e em seu extremismo. A decisão de impedir que mulheres afegãs trabalhem para a ONU no país é chocante e inaceitável", disse ao Correio, por telefone, educador paquistanês Ziuaddin Yousafzai, pai da ativista e Nobel da Paz Malala Yousafzai. Ele disse não saber como os talibãs se definem como cidadãos globais. "É contra a Carta da ONU quando você impõe suas decisões ilegais, ao proibir as mulheres de realizarem trabalhos humanitários para as Nações Unidas", advertiu.
De acordo com Ziuaddin, a Constituição do Afeganistão sempre preservou o direito das meninas de irem à escola e das mulheres de trabalharem, inclusive para organizações não governamentais internacionais. A exceção fica por conta do período de governo do Talibã. "Não existe justificativa para essa decisão cruel e desumana do Talibã. É algo realmente chocante", desabafou. Ele citou que, em fevereiro passado, o grupo baniu a educação escolar e universitária das afegãs. "O Talibã não é um regime, mas um projeto de desfigurar o Afeganistão e difamar o islã. Eles fizeram com que o país fosse cortado do resto do mundo", acrescentou Ziauddin.