Quase lá: Oxfam: os capítulos que a mídia não leu

Em 2024, relatório sobre a desigualdade responsabiliza as corporações globais e propõe, como alternativa, um feixe notável de políticas públicas. Estes aspectos foram convenientemente deixados de lado

Publicado 17/01/2024 às 14:25

Em apenas dois anos – entre 2020 e 2022 – os cinco homens mais ricos do mundo dobraram sua riqueza. No mesmo período, 60% dos habitantes da Terra (quase 5 bilhões de pessoas) tornaram-se mais pobres. Embora chocante, este dado, publicado no relatório anual sobre desigualdades da Oxfam, foi reproduzindo em centenas de jornais comerciais e noticiários de TV mainstream, nos últimos dois dias. Apontar as misérias da sociedade sem mostrar que há saídas pode parecer um ato rebelde, mas tornou-se uma nova modalidade de conformismo, mostrou Márcia Malcher, num texto que Outras Palavras publicou no final do ano passado.

Mas o relatório da Oxfam de 2025 vai além, em dois aspectos pouco notados. Primeiro: Ele aponta uma das causas centrais da desigualdade: o controle da economia internacional por um número cada vez mais reduzido de corporações. Seu objetivo central já não é lucrar com a produção de bens e serviços úteis, mas controlar atividade essenciais à vida e extrair renda deste monopólio. O conceito abrange desde as Big Techs (que colonizaram a internet) até as empresas que nada produzem – mas capturam e exploram localmente o Comum. O abastecimento de água. A eletricidade. As estradas. A terra rural e urbana. Os transportes públicos. Os parques. Os estádios. Os cemitérios.

Segundo: a Oxfam frisa que a desigualdade não é um destino. Os meios para reduzi-la são conhecidos e estão à mão. É preciso reunir força política. As medidas sugeridas pelo relatório são um contraponto notável às políticas neoliberais: a) um choque de serviços públicos (Saúde, Educação, Assistência, Segurança Alimentar; b) forte investimento estatal em transporte, energia, habitação e outras infraestruturas; c) estabelecer monopólios públicos em setores onde há risco de captura, pelos rentistas, de atividades essenciais (energia, transportes e outros); d) Regular as grandes empresas para “conter seu poder desntrolado; e) Restabelecer salários e direitos trabalhistas, limitando a remuneração dos executivos; f) Tributar os super ricos (tanto indivíduos quanto empresas); g) Reinventar os negócios, estimulando (inclusive com subsídios públicos) o surgimento de empresas e cooperativas que produzam bens úteis e respeitem seus trabalhadores e o ambiente, ao invés de priorizar o ganho dos acionistas.

Como era previsível, a mídia comercial omitiu por completo estas propostas. O fato de serem temidas só realça o seu valor.


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