No Assentamento Dorothy Stang, em Anapu, a violência persiste 19 anos após o assassinato da missionária: uma das estratégias da grilagem é atacar a escola, que já foi incendiada duas vezes, para dificultar a permanência na terra
Maria Júlia tem 7 anos e passou para o 2º ano do ensino fundamental. Na escola, a menina ama brincar, fazer as tarefas e desenhar. Os desenhos preferidos são os de cavalos e patos. De pele clara, cabelos e olhos castanhos, ela faz questão de dizer que não tem medo do escuro, de cobra e nem de aranha-caranguejeira, seres mais-que-humanos que visitavam com frequência a sua escola. Mas há algo que faz Maria Júlia congelar: os “homens maus”. “Tenho medo deles porque é capaz de tocarem fogo nas crianças”, explica ela, com a voz abafada e protegida pelo colo e o abraço forte da mãe. Maria Júlia conhece os homens maus.
O medo de ser queimada viva não vem de nenhuma história de ficção. É da vida no Projeto de Assentamento Irmã Dorothy Stang, em Anapu, na Amazônia paraense. No dia 10 de janeiro, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Paulo Anacleto foi incendiada tarde da noite. Como as casas ficam distantes da escola, não houve testemunha. Ninguém é capaz de identificar quem entrou na comunidade, sorrateiramente, e ateou o fogo. Do lugar onde Maria Júlia guarda lembranças de brincadeiras com os amigos, não sobrou quase nada. A escola, de 6 metros quadrados, foi feita de palha e talo de coco, num mutirão da comunidade, o que facilitou a propagação das chamas.
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fonte: https://sumauma.com/maria-julia-tem-medo-de-ser-queimada-viva-pelos-homens-maus/