Pamela Germano começa trajetória de sucesso com produções como 'A batalha da rua Maria Antônia' e 'Dois tempos'
A atriz circula nos teatros da cidade desde a virada de 2016 para 2017, mas é na carreira cinematográfica que ela mostrou uma ascensão meteórica. Em 2018, viu o curta-metragem que protagonizou, O mistério da carne, ser o único representante brasileiro no festival de Sundance, nos Estados Unidos. A empreitada internacional que também chamou atenção foi com As miçangas, outro curta produzido na capital, que chegou entrar na mostra Berlinale do Festival de Berlin, na Alemanha, e ter uma boa recepção no Festival de Huesca, na Espanha.
No entanto, foi em 2023 que as coisas se desenvolveram de forma emocionante. A atriz estreou no streaming com a produção Dois tempos, da Star+, e emplacou a primeira protagonista de cinema com o longa A batalha da rua Maria Antônia, filme vencedor do Festival do Rio, onde também foi exibido pela primeira vez. O novo longa, ainda sem data de estreia no circuito comercial, é uma virada na carreira da atriz. "Foi um grande presente para mim. Eu aprendi coisas, troquei conhecimentos e tive uma experiência muito valiosa", conta Pamela, em entrevista ao Correio.
O filme, escrito e dirigido por Vera Egito, é bastante diferente de tudo que tem sido feito no cinema brasileiro atualmente. Filmado em película, em preto e branco, conta história do clima de guerra que tomou conta da rua Maria Antônia na noite do dia 2 de outubro de 1968, quando estudantes da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) entram em conflito como Comando de Caça aos Comunistas munidos de paus, pedras, coquetéis molotovs e bombas caseiras. O episódio ocorreu em um dos períodos mais duros da ditadura militar brasileira.
Pamela dá vida a Lilian, personagem fictícia inserida naquele contexto histórico. "A minha personagem está em muitos conflitos políticos e muitos conflitos amorosos também. Tem muito de Pamela na Lilian e muito de Lilian na Pamela", antecipa a atriz, que viveu algo completamente novo visto que a produção foi gravada em 21 planos sequência, denominação para cenas longas e sem cortes. "Esse filme foi um mergulho, para ele acontecer a equipe inteira tinha que estar implicada. Eram planos de mais de oito ou nove minutos. Foi uma grande orquestra, um grande balé da equipe. Tudo tinha que estar em perfeita sintonia para acontecer como deveria ser", lembra. "A batalha da rua Maria Antônia é um filme sonhado, uma obra de arte", completa.
Além de exigir uma grande engenharia tornar possível um longa de direção tão ousada e inventiva, a importância do trabalho também está na temática do que Pamela chama de "uma noite irreversível. "A gente, nessa geração, dessa juventude, falando do movimento estudantil e de ditadura, é como fazer uma política de educação e, principalmente, de memória", afirma a artista. "O filme foi gravado em 2022, ainda estávamos no fim do governo Bolsonaro e no fim da pandemia. Então, ainda estávamos muitos porosos para receber as questões que o filme traz", complementa. "Falar da Maria Antônia hoje é falar diretamente sobre o Brasil."
Sonho de infância
Tudo que Pamela vive hoje é fruto de um desejo muito antigo. Estudante de artes cênicas da Universidade de Brasília (UnB) e prestes a se formar, a atriz nunca precisou de diploma para saber que caminho seguiria. "A Pamelinha de 6 anos que escrevia roteiro e que apresentava peças toda semana no condomínio, é ela que está falando e vivendo tudo isso. Eu só cresci, amadureci e comecei a entender que aquele sonho todo era uma profissão", reflete a artista. Porém, ela não imaginava tudo que viveu até agora nem no maior dos sonhos. "Eu realmente sonho em ser atriz desde que sou criança, mas as coisas aconteceram muito melhor do que eu sonhei", conta.
Ela acredita que é muito importante ser um nome de Brasília para o Brasil, porque abre os olhos de quem comanda os estúdios para os talentos locais. "Se fala muito de sair da lógica do sucesso do Sudeste para focar na produção do Nordeste, com toda razão. Porém, fala-se pouco da presença de goianos, de corpos do DF e do Cerrado nos streamings e no cinema nacional, contando histórias nossas e podendo estar num âmbito nacional e até internacional", analisa. "A produção e os artistas do DF são muito competentes e singulares."
Assim, ela volta ao poder de representar, o ofício principal da atuação. "A gente está falando de um meio que tem a sensação do glamour e eu acho que ser ator ou atriz, trabalhar com teatro ou cinema tem muito o lugar da fantasia, do sonho e da inventividade. Isso é extremamente político", destaca. "Quando estamos representando estamos contando as coisas como elas são, mas também sonhando", acrescenta. "A gente está compartilhando histórias daqui para o mundo inteiro. Tem um grau de incredulidade nisso que talvez nunca me abandone e ele é até bom."
Entretanto, não é porque cresceu e ainda não caiu a ficha que Pamela deixou de sonhar. "Agora eu estou sonhando muito alto e falo isso com muita humildade. Sonho alto no sentido de que eu tive o privilégio de estar em projetos que eu acredito muito, inclusive fui dirigida majoritariamente por mulheres", diz. O próximo passo é continuar na trajetória que a preenche. "Eu quero continuar fazendo filmes de roteiros complexos, eu quero falar de um Brasil complexo", pede.