Quase lá: Congresso é conservador e avesso a pautas feministas, diz estudo

IHU/Congresso em Foco - Eleitos(as) em outubro de 2022 e empossados(as) no dia 1º de fevereiro, os(as) parlamentares da nova legislatura têm um posicionamento conservador em relação a pautas alinhadas ao movimento feminista. É o que aponta um estudo do Centro Feminista de Estudos e Assessoria – CFEMEA com base nas redes sociais dos parlamentares eleitos.

 Marcha das Mulheres | Agência Brasil

 

A reportagem é de Caio Matos, publicada por Congresso em Foco, 08-02-2023.

O estudo foi coordenado pela doutora em Ciência Política com pós-doutorado em estudos feministas interseccionais pela Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora em gênero, mídia e política, Denise Mantovani. Foram analisadas as redes sociais de todos os congressistas eleitos no período oficial de campanha eleitoral, de 16 de agosto a 30 de outubro de 2022.

Também atuaram no levantamento a cientista social e mestra em Ciência Social pela Universidade Estadual de Maringá (UEMMilena Belançon e as cientistas políticas Maíres Barbosa e Mari Mesquita, formadas pela UnB.

Uma ficha técnica com 34 perguntas objetivas foi utilizada para a análise das postagens e uma avaliação sobre a proximidade dos parlamentares com a agenda feminista e temas como direitos sexuais e reprodutivos, violência contra a mulher, concepção de família, posicionamento sobre o cuidado, religião e posições antigênero.

“A grande maioria dos/as parlamentares eleitos/as estão distantes das agendas feministas e antirracistas, ou mesmo, quando apresentam proximidade, apontam propostas que podem fortalecer as violências por razões de gênero e raça”, destaca o estudo.

Nas estimativas do estudo, apenas um quinto do Congresso Nacional será favorável às pautas como combate às violências por razões de gênero, a diversidade das composições de família, o direito ao aborto legal e seguro e a laicidade do Estado.

Confira os principais pontos de cada Casa de acordo com o estudo:

Câmara dos deputados

A maioria dos deputados (56,73%) não mencionou o aborto e a violência sexual em suas postagens, somando 291 parlamentares. Pelo estudo, foram 125 parlamentares (24,37%) que se manifestaram contra a interrupção da gravidez. Outros 59 eleitos (11,5%) não se posicionaram diretamente, mas se manifestaram em outros assuntos que os colocam como potencialmente contrários ao aborto. Os 16 deputados e deputadas (3,12% dos eleitos) que se declararam favoráveis ao aborto estão majoritariamente no campo dos partidos progressistas.

Os 291 deputados que não se manifestaram sobre o aborto também não abordaram a proteção às vítimas de estupro/violência sexual. Quando se trada de violência sexual, as posições explicitamente contrárias ao atendimento de mulheres vítimas de violência sexual diminuem, somando apenas 30 deputados (5,85%). As posições potencialmente contrárias chegam a 80 deputados (15,59%).

As posições favoráveis (43 deputados ou 8,38%) e potencialmente favoráveis (69 deputados ou 13,45%) à proteção das mulheres vítimas de estupro/violência sexual somam 112 deputados (22% dos eleitos).

323 parlamentares (63% das cadeiras da Casa) declararam diretamente ou fizeram menções a símbolos religioso em mais de uma postagem. Somente 190 dos eleitos (37%) não atribuíram contexto religioso a sua candidatura.

A maioria dos eleitos não abordou a separação entre religião e política, com 211 deputados sem emitir opinião sobre o assunto. Ao todo, 89 parlamentares se manifestaram abertamente contra a ideia de que “religião e política não devem se misturar”, enquanto apenas 36 manifestaram opiniões em concordância com a ideia do estado laico. Outros 101 deputados poderiam ser potencialmente favoráveis, a partir da observação em outros temas.

Senado federal

Apesar de apenas 27 senadores terem sido eleitos em outubro, o estudo avaliou o comportamento de todos os 81 parlamentares da Casa. 45 senadores (56%) declararam vínculo com alguma religião. Outros 36 senadores (44%) não abordaram questões religiosas em suas páginas sociais.

29 senadores (35,8%) não mencionaram posicionamento sobre a laicidade do Estado ou a importância de que as leis estejam sob influência de posições religiosas. Outros 35,8% de senadores poderiam concordar com a ideia de que “religião e política não devem se misturar”.

Aqueles que expressaram opiniões favoráveis à frase “o Estado é laico e as leis não devem estar sob influência de posições religiosas” chegaram a 10 (12,25%) e outros 22 (27,16%) emitiram opiniões sobre temas que sugerem ser potencialmente favoráveis à laicidade.

Nenhum senador se posicionou favorável ao direito de interrupção da gravidez nas redes sociais. Somente quatro tiveram posicionamentos presumivelmente favoráveis (5%), contra 18 senadores (22%) explicitamente contra o aborto. Os presumivelmente contrários compõem 14 senadores (17,28%).

Os demais senadores não abordaram questões relativas à violência sexual contra mulheres e meninas, mas cinco deles (6,17%) se posicionaram favoráveis a medidas de apoio e proteção às vítimas de violência sexual.

Confira a íntegra do estudo

Leia mais


Matérias Publicadas por Data

Artigos do CFEMEA

Coloque seu email em nossa lista

lia zanotta4
CLIQUE E LEIA:

Lia Zanotta

A maternidade desejada é a única possibilidade de aquietar corações e mentes. A maternidade desejada depende de circunstâncias e momentos e se dá entre possibilidades e impossibilidades. Como num mundo onde se afirmam a igualdade de direitos de gênero e raça quer-se impor a maternidade obrigatória às mulheres?

ivone gebara religiosas pelos direitos

Nesses tempos de mares conturbados não há calmaria, não há possibilidade de se esconder dos conflitos, de não cair nos abismos das acusações e divisões sobretudo frente a certos problemas que a vida insiste em nos apresentar. O diálogo, a compreensão mútua, a solidariedade real, o amor ao próximo correm o risco de se tornarem palavras vazias sobretudo na boca dos que se julgam seus representantes.

Violência contra as mulheres em dados

Cfemea Perfil Parlamentar

Logomarca NPNM

Direitos Sexuais e Reprodutivos

logo ulf4

Cfemea Perfil Parlamentar

Informe sobre o monitoramento do Congresso Nacional maio-junho 2023

legalizar aborto

...