Projeto Mulier em Cena capacitou profissionais que buscam inserção em um segmento que ainda conta com barreiras de gênero
O projeto inovador Mulier em Cena, que tem como objetivo aumentar a participação feminina no mercado do audiovisual e minimizar as desigualdades, oferece, de forma gratuita, capacitação profissional para mulheres e formou 60 alunas no dia 8 de outubro.
Aprovada e incentivada pelo edital 14/2023 da Lei Paulo Gustavo, a oficina teve início no dia 9 de agosto e realizou 18 encontros, em São Paulo, no espaço Nave Coletiva, seda da Mídia Ninja em São Paulo (SP). Durante dois meses, as alunas tiveram a oportunidade de se aprofundar nos conceitos da indústria cinematográfica por meio de aulas ministradas por grandes nomes do setor: Deyse Reis, cineasta e fundadora da produtora Mulier Filmes, com projetos na Discovery Plus, Amazon Prime, Disney Plus e HBO Max; Luciana Stipp, produtora e diretora com experiência na Netflix; Izah Neiva, diretora, produtora e atriz; Aninha Gonçalves, radialista e coordenadora de pós-produção na Paranoid Filmes, com trabalhos na Globoplay e Netflix; e Denise Jancar, executiva, distribuidora de filmes e agente de vendas.
Segundo pesquisa realizada pela Agência Nacional do Cinema (Ancine), as mulheres ocupam 40% dos cargos do setor, recebendo 13% menos do que os homens. O panorama é ainda pior para mulheres pertencentes às minorias, como mulheres negras, indígenas, transexuais ou com algum tipo de deficiência.
“Seguindo a proposta da oficina, buscamos um time exclusivamente feminino para lecionar e compartilhar as dores e alegrias de ser mulher neste cenário no Brasil. Quando as mulheres assumem posições de liderança, nós conseguimos expandir as narrativas, enriquecemos as personagens e damos voz a perspectivas diversas. Nosso objetivo é abrir portas para essas profissionais e provocar uma transformação real na indústria do cinema nacional”, acrescenta Deyse.
A diversidade era também um dos pilares do curso e pessoas com deficiência foram integradas na turma: duas alunas surdas, uma com surdez unilateral, uma surdocega e duas autistas. Para recebê-las na Nave Coletiva, o espaço foi preparado com rampas de acessibilidade, piso tátil, além de contar com intérpretes de libras para acompanhar as aulas.
“A pluralidade em um setor tão criativo e artístico como o cinematográfico contribui, não somente para as próximas produções nacionais, mas também, para trazer um novo olhar sobre a sétima arte”, afirma a idealizadora do projeto.
Conhecimento e perspectivas futuras
Segundo a aluna do projeto, Hariany Calixto, radialista de 23 anos, a qualidade do conteúdo transmitido nos encontros foi o grande diferencial da oficina. “O curso Mulier em Cena vem para agregar no meu currículo. Além de ser uma ótima oportunidade de networking, proporcionou uma chuva de conteúdo. Tenho aprendido mais sobre coisas que já sabia como produção e pós, e tenho conhecido outras coisas que não fazia ideia de como funcionavam”, diz.
Já Letícia Oliveira, de 25 anos, consultora em acessibilidade e inclusão, reconhece a importância do curso para se qualificar e estar preparada para o mercado de trabalho. “A oficina promove a expansão do conhecimento, a socialização, o networking e a criação de uma rede de contatos e apoio em um ambiente seguro para mulheres, onde a gente possa se sentir confortável para expor nossas dores, dúvidas, ideias e ideais”, acrescenta.
A ideia da idealizadora do projeto é torná-lo recorrente, abrangendo outras cidades e estados do país. Porém, para torná-lo viável, conta com o apoio de empresas parceiras que possam investir na infraestrutura necessária para a sua realização. Nesta edição, por exemplo, as alunas contaram com coffee break em todos os encontros, além de transporte para a estação de metrô mais próxima após as aulas.
“Sigo buscando o apoio via leis de incentivo, mas estou aberta para um contato direto com as instituições que estejam interessadas em promover a educação e cultura em nosso país”, finaliza Deyse.