"Em pleno 2024, o pastor André Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha, a mesma da ex-ministra e senadora Damares Alves, que via Jesus na goiabeira, disse, em culto, alertando pais, e ainda por cima aplaudido, que não enviassem seus filhos à universidade. 'Vai vender picolé na garagem' que é melhor, recomendou. Filha, então, é criada para ser mulher santa, família, cheia de Deus, mas jamais para 'virar vagabunda', o que vai acontecer se ela for universitária", escreve Edelberto Behs, jornalista.
IHU - Instituto Humanitas Unisinos - 26/6/2024
Eis o artigo.
O Brasil tem figuras que simplesmente cabem melhor nos séculos XVIII ou XIX, mas estão longe do século XXI. Dizem cada bobagem e defendem heresias de fazer corar Jesus junto ao poço com a mulher samaritana. E tem, inclusive, representação no Congresso com uma bancada forte, a evangélica, que defende castigo maior para a mulher estuprada do que pena ao estuprador.
Em pleno 2024, o pastor André Valadão, da Igreja Batista da Lagoinha, a mesma da ex-ministra e senadora Damares Alves, que via Jesus na goiabeira, disse, em culto, alertando pais, e ainda por cima aplaudido, que não enviassem seus filhos à universidade. “Vai vender picolé na garagem” que é melhor, recomendou. Filha, então, é criada para ser mulher santa, família, cheia de Deus, mas jamais para “virar vagabunda”, o que vai acontecer se ela for universitária.
Numa toada um pouco diferente, mas machista como Valadão, referida em outro período, foi a recomendação do bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). Ao apresentar sua família, num culto, defendeu que nenhuma mulher deveria estudar mais que o marido, porque a mulher não pode ser a cabeça da família. Onde isso acontece, o casamento está fadado ao fracasso e à infelicidade. Mulher nessas condições serve a si mesma e não a Deus.
A IURD está relacionada, inclusive, a partido político, o Republicano, liderado pelo bispo Marcos Pereira, e tem 565,3 mil filiados. No Congresso Nacional, conta com uma bancada de 41 deputados e quatro senadores. Integra, evidentemente, a bancada evangélica, aquela que condena a mulher que engravida de um estupro, mas que fecha os olhos para o estupro de meninas, adolescentes, praticado por pastores.
É surrealismo em demasia, que busca embasamento em passagens bíblicas, escolhidas de modo a sustentar o seu fundamentalismo, sem qualquer correlação com o contexto da época em que foram colhidas e os tempos atuais. Esses pastores deveriam, de forma coerente, deixar de usar energia elétrica e recorrer a lampiões, esquecer seus carrões, ou até mesmo aviões, e recorrer a mulas e cavalos.
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