Nas últimas eleições, o percentual de prefeitas eleitas no estado não passou de 10%
Reunião na Assembleia Legislativa do Paraná. - Foto: Nani Góes/ Alep
Apesar do aumento no debate público sobre diversidade de gênero, as mulheres seguem sendo minoria nas prefeituras do Paraná. Das 399 cidades, 72% (287) não elegeram mulheres para o cargo de prefeita desde o ano 2000, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A análise abrange pleitos ordinários e suplementares, quando há cassação ou perda de mandato.
Mesmo que as mulheres representem 51% da população do estado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), elas continuam sub-representadas nos partidos e nos cargos políticos. Em 2020, foram apenas 37 mulheres prefeitas eleitas no Paraná e em 2024 elas representam apenas 13% das candidaturas.
A advogada Carla Karpstein, especialista em Direito Eleitoral, afirma que as barreiras vão além do machismo estrutural, envolvendo jornadas triplas de trabalho e a falta de apoio familiar. “Os homens, muitas vezes, não querem as mulheres na política, acham que elas não têm capacidade”, comenta Karpstein. Esse conjunto de fatores sociais, econômicos e culturais criam filtros que dificultam a representação efetiva das mulheres.
Mas elas também encontram dificuldades para compor os cargos de liderança nos partidos políticos e obter apoio interno. “Para haver uma mudança efetiva muitas coisas precisam mudar. Uma delas seria a obrigatoriedade das comissões executivas partidárias terem 30% de mulheres, o que contribuiria para que elas tivessem mais apoio interno no partido”, diz Carla.
Em nível nacional, 64% dos municípios brasileiros não elegeram mulheres para a prefeitura nos últimos 20 anos, conforme o TSE. O Censo das Prefeitas Brasileiras, do Instituto Alziras, mostra que 673 prefeitas estão em exercício no país, governando apenas 12% dos municípios. A maior parte dessas gestoras está nas regiões Nordeste (17%) e Norte (15%), com menor representatividade no Sudeste (8%) e Sul (9%).
Segundo a professora Eneida Desirée Salgado, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), as poucas prefeitas eleitas governam cidades pequenas, com baixo orçamento e economias pouco diversificadas. No Paraná esse cenário se confirma, dos 112 municípios que elegeram prefeitas, a maioria tem menos de 20 mil habitantes e está concentrada na região Norte, com cidades que incluem Jacarezinho, Andirá, Sertanópolis, Santo Antônio da Platina, Ibaiti, e Cornélio Procópio. A cidade mais populosa que já elegeu uma prefeita é São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC).
Salgado destaca ainda que está sendo feito muito pouco para avançar na igualdade de gênero na política. Segundo ela, uma política mais efetiva seria a reserva de cadeiras, uma medida mais eficaz do que as reservas de candidaturas adotadas no Brasil.
A política de reserva de cadeiras para candidatas femininas, adotada por alguns países, garante uma quantidade fixa de assentos exclusivamente ocupados por mulheres, visando aumentar a representação feminina no Legislativo de forma direta. Esse sistema difere da reserva de candidaturas femininas praticada no Brasil, onde partidos são obrigados a destinar 30% das vagas de candidatura para mulheres, mas sem assegurar que elas de fato ocuparão cadeiras após as eleições. Enquanto a reserva de cadeiras assegura a presença feminina no parlamento, a reserva de candidaturas depende do desempenho eleitoral das candidatas.
“É muito difícil a vitória eleitoral de uma mulher, ainda mais em uma campanha tão curta e quase sem propaganda eleitoral como a nossa, é difícil que ela se destaque na sociedade”, diz ela. “Com as novas políticas se cria a ilusão de que está dando oportunidade para as mulheres, mas ficamos de fora das candidaturas competitivas”.
A análise realizada pelo Brasil de Fato Paraná baseou-se em dados de candidaturas das 399 cidades do estado, disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e atualizados pelos Tribunais Regionais Eleitorais. Os registros, coletados em setembro, incluíram apenas candidaturas válidas, classificadas como aptas, deferidas e eleitas.
Edição: Ana Carolina Caldas