Manifesto da Articulação de Mulheres Brasileiras – AMB no 8 de março de 2021
Dia internacional de luta das mulheres
Neste 8 de março, dia internacional de luta das mulheres, nós da Articulação de Mulheres Brasileiras denunciamos e enfrentamos com nossa rebeldia feminista e a força de nosso movimento o descaso do governo Bolsonaro/Mourão e todas as forças bolsonaristas que ampliam seus tentáculos sobre o Estado, os governos e a sociedade.
Denunciamos a política de morte do governo Bolsonaro, que por omissão deliberada, medidas institucionais e discurso negacionista frente à emergência sanitária que vivemos por conta da pandemia de Covid 19, é responsável pela perda de mais de 250 mil vidas.
O governo não adotou e segue não adotando medidas urgentes e necessárias no enfrentamento da situação que recai sobre parcela da população. Estamos sem empregos e sem política assistencial para garantir a sobrevivência cotidiana, comida, água, energia e medicamentos.
Convivemos com a precarização das políticas públicas, o desmonte do Sistema Único de Saúde, fundamental para o atendimento a pacientes contaminados por Covid, resultando em uma crise sanitária que alcança dimensões de um genocídio. A suspensão do auxílio emergencial retira a possibilidade de proteção e sobrevivência das pessoas mais afetadas pela pandemia, produz fome e aprofunda a crise econômica, social e ambiental na qual este governo mergulha o país.
A violência contra mulheres e meninas aumentou no processo da pandemia diante das situações de isolamento social e se agrava em contextos marcados pela militarização e pelo racismo estrutural.
A política fundamentalista de redomesticação das mulheres impulsionada por este Governo se expressa em medidas que agravam a vulnerabilidade das mulheres à violência dos homens, como os planos governamentais e da bancada fundamentalista para impedir o debate sobre gênero nas escolas e na vida pública e a mais recente medida de liberação de armas que representará um cotidiano de homens armados e o agravamento exponencial da violência letal contra nós mulheres. Denunciamos a banalização da violência!
A violência do fascismo e do fundamentalismo moral que as forças bolsonaristas impõem recaem sobre todas nós mulheres. Somos colocadas constantemente nas mesas de negociações dos políticos, tratando-nos como mercadorias! Nossos direitos são trocados por votos, por apoios espúrios, por qualquer coisa. O que não querem é perder o poder de legislar sobre nossos corpos, controlar nossos desejos e, principalmente nossa autonomia reprodutiva! Nos violam e tentam impedir que interrompamos gravidezes fruto de violências sofridas; nossos partos, em serviços que deviam nos acolher e cuidar, são cercados de relatos das tantas violências que sofremos. Se formos negras e indígenas a situação é ainda pior. Parir e abortar, na maior parte das vezes, são realidades que vivemos em condições alijadas ou excluídas do cuidado do estado. Ser lésbica, trans, mãe de jovem negro e viver nas periferias nos faz experimentar a mão pesada do estado que discrimina, segrega e mata, seja através da negligência, seja através de braços armados como o da polícia e da milícia, quando não do tráfico.
A fragilização da política de enfrentamento às inúmeras e cotidianas violações ocasionam aumento na fragilidade física e emocional de meninas, meninos, mulheres e da população LGBTIQA+, pois o impacto das situações de violência na subjetividade se acumula ao estresse com a vivência da pandemia. Estamos diante de um governo que promove a violência como meio de controle social, que usa a violência para subjugar corpos – seja pela negligência diante dos feminicídios, seja por tentar coibir que meninas violadas por homens adultos em suas famílias tenham acesso a atendimento e recorram ao aborto legal, seja pelo contínuo genocídio contra a população negra e periférica, seja pelo aumento de assassinatos de transexuais, seja pelos ataques aos territórios dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhas, extrativistas, camponesas, inclusive a terras demarcadas.
Denunciamos e rechaçamos a política deliberada das corporações mundiais que fazem do Brasil o grande experimento atual do neoliberalismo – condição instaurada no golpe de 2016 e levada adiante pelo governo Bolsonaro – a destruição do Estado de direitos e eliminação de parcela da população que eles consideram descartável. E é isso que estamos vivendo no Brasil. Temos hoje no país uma política genocida e etnocida, uma política de morte, de encarceramento em massa da população negra e pobre, operando dia após dia.
O governo de Bolsonaro e Mourão, seus aliados no parlamento, governos e prefeituras estão acabando com direitos conquistados e exponenciado a desproteção social! O desemprego e a precarização do trabalho remunerado cresce mais entre nós mulheres e a sobrecarga no trabalho doméstico e de cuidados não remunerado consome nosso tempo, nossos corpos e nos vulnerabiliza ainda mais ao adoecimento na pandemia. Desde o Golpe de 2016, vivemos sob ataque e o ritmo do desmonte é avassalador! É preciso parar este governo e seus braços!
Denunciamos o descaso e a crueldade da inoperância governamental no norte do País e nos solidarizamos à resistência das mulheres no Amazonas e do Acre na luta pela sobrevivência, pelo atendimento por saúde, por água e por oxigênio.
Neste 8 de março entoaremos e amplificaremos os gritos de resistência de nossas ancestrais, de nossa força feminista, de nossas guardiãs, encantadas, pajés, xamãs, ycamiabas, yalodês.
Amplificaremos as vozes e a força coletiva das mulheres em toda a sua diversidade na resistência feminista antipatriarcal, antirracista e anticapitalista!
Entoaremos as resistências que vem dos vários territórios, das comunidades, das favelas, da floresta, dos rios, dos mangues, das periferias, do campo e das cidades.
“Eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer”
Fora Bolsonaro e Mourão, Fora Damares, Pazuello e toda corja bolsonarista!