Em palestra que ocorre hoje, dentro do XXV Colóquio Internacional de Filosofia Unisinos e XXI Simpósio Internacional IHU, Felipe Sotto Maior Cruz abordará o tema

 

Por: João Vitor Santos | 24 Novembro 2022 - IHU

Quando achávamos que o século XXI estava chegando recheado de avanços e evoluções, vimos uma ultradireita subir ao poder em diversos lugares do mundo vociferando conta mulheres, LGBTQIA+, negros, imigrantes, indígenas, entre outros. É como se fôssemos transmutados do sonho do novo milênio para o pesadelo dos séculos passados com seus genocídiosnazismosfascismosmachismos e muita, mas muita violência. A necropolítica, ou uma política da morte que dizima aqueles tidos como contrários, parece ser o que move não só governos, mas mentes e corações. É como diz o historiador e antropólogo Michel Gherman em entrevista ao IHU: “O que a extrema-direita produz para o mundo é uma nova utopia, que na minha percepção é distópica, mas, na percepção deles, é utópica”.

Diante de tanta incivilidade e espírito fraterno, como manter a esperança de um futuro melhor? Talvez, nada mais simbólico em nosso tempo do que o quadro abaixo, do finlandês Hugo Simberg (1873-1917), intitulado "O Anjo Ferido". O próprio Simberg nunca quis propor desconstruções à obra, sempre permitindo que o espectador constituísse sua própria interpretação. Em nosso tempo, uma narrativa possível seria a de nossa esperança e nossa utopia, metaforizadas no anjo, combalidas. Mas não podemos ignorar que o soldado celestial é carregado por meninos muito jovens. Apesar de semblantes sofridos e diante de uma paisagem árida, o olhar do jovenzinho à direita o interpela. Quase podemos ouvir o sussurro de seu pensamento: “Viste o que fizeste? Vamos ajudar o anjo, mas seu voo de viço dependerá de vocês”. Ou seja, talvez haja esperança nas gerações futuras. Mas será que só nelas?

"The Wounded Angel" (1903), de Hugo Simberg (1873-1917) - Reprodução Wikipédia 

Em artigo recentemente reproduzido pelo IHUFlavio Lazzarin, padre italiano fidei donum, da Diocese de Coroatá, no Maranhão, nos incita a termos esperança. Para ele, é fundamental não nos esquecer de que “como nos ensinam os numerosos levantes indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais rurais e urbanas, a esperança de um futuro fraterno e justo vem das minorias abraâmicas, pequenos remanescentes, que defendem ancestralidade e territórios. Não surge das disputas eleitorais, que se baseiam no poder da maioria ou de multidões que, inconscientes, se sujeitam às astúcias dialéticas da história”.

Então, não seria o caso de concebermos uma outra política capaz de superar o caudaloso e amargo mar de necropolítica que parece inundar nossas vidas por esses tempos? Talvez este seja um caminho. O jovem antropólogo da Universidade Federal da Bahia – UFBA, Felipe Sotto Maior Cruz, o indígena Felipe Tuxá, parece ter intuições muito interessantes nesse sentido. Autor da pesquisa que culminou na tese de doutorado em Antropologia, intitulada "Letalidade Branca. Negacionismo, violência anti-indígena e as políticas de genocídio", Felipe irá proferir a conferência “A violência anti-indígena e a necropolítica como método". A atividade compõe o XXV Colóquio Internacional de Filosofia Unisinos e XXI Simpósio Internacional IHU – O Futuro da Democracia e o novo regime climático: ameaças, (auto)críticas e potencialidades e terá transmissão ao vivo a partir das 20h nos canais do IHU.

 Saiba mais sobre Felipe Tuxá

Felipe Sotto Maior Cruz, o Felipe Tuxá, é indígena do povo Tuxá Aldeia Mãe, Rodelas, na Bahia. É graduado em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, mestre e doutor em Antropologia Social pela Universidade de Brasília – UnB. Atua como professor adjunto da Universidade Federal da Bahia – UFBA, no Departamento de Antropologia e Etnologia. Foi pesquisador visitante em Oxford, Inglaterra, na Faculdade de Antropologia e no Museu de Etnografia.

É pesquisador do Opará Etnicidades, Movimentos Sociais e Educação. Um dos fundadores da Articulação de Antropólogues Indígenas – ABIA, também é membro da Associação Brasileira de Antropologia integrando o Comitê de Assuntos Indígenas – CAI, Comitê de Antropólogues Indígenas e Comitê de Relações Internacionais. Membro da Associação Nacional de Ação Indigenista – ANAÍ.

Felipe Tuxá

Foto: Academia.edu

Assista também as últimas conferências do XXV Colóquio Internacional de Filosofia Unisinos e do XXI Simpósio Internacional IHU – O Futuro da Democracia e o novo regime climático: ameaças, (auto)críticas e potencialidades

 

Leia mais

 fonte: https://www.ihu.unisinos.br/624205-racismos-sexismo-e-genocidios-elementos-de-uma-necropolitica-a-ser-superada

 


Receba Notícias

logo ulf4

Aborto Legal

aborto legal capa

Direitos Sexuais e Reprodutivos

logo ulf4

Cfemea Perfil Parlamentar

Cfemea Perfil Parlamentar

logo ulf4

Tecelãs do Cuidado - Cfemea 2021

Violência contra as mulheres em dados

Rita de Cássia Leal Fonseca dos Santos

Ministério do Planejamento
CLIQUE PARA RECEBER O LIVRO (PDF)

marcha das margaridas agosto 2023

Estudo: Elas que Lutam

CLIQUE PARA BAIXAR

ELAS QUE LUTAM - As mulheres e a sustentação da vida na pandemia é um estudo inicial
sobre as ações de solidariedade e cuidado lideradas pelas mulheres durante esta longa pandemia.

legalizar aborto

Artigos do Cfemea

Congresso: feministas mapeiam o conservadorismo

Pesquisa aponta: só mobilização pode superar conservadorismo do Congresso. Lá, 40% alinham-se ao “panico moral”; 57% evitam discutir aborto; 20% são contra atendimento às vítimas e apenas um em cada cinco defende valores progressistas

Eleições: O “feminismo” de fundamentalistas e oligarcas

Candidaturas femininas crescem no país, até em partidos conservadores. Se o atributo de gênero perde marcas pejorativas, desponta a tentativa de passar ao eleitorado uma receita morna de “defesa das mulheres” – bem ao gosto do patriarcado

A pandemia, o cuidado, o que foi e o que será

Os afetos e o cuidar de si e dos outros não são lugar de submissão das mulheres, mas chave para novas lutas e processos emancipatórios. Diante do horror bolsonarista, sangue frio e coração quente são essenciais para enfrentar incertezas, ...

Como foi viver uma Campanha Eleitoral

ataques internet ilustracao stephanie polloNessa fase de campanha eleitoral, vale a pena ler de novo o artigo que Iáris Cortês escreveu uns anos atrás sobre nossa participação em um processo eleitoral

Dezesseis anos da Lei 11.340, de 07/08/2006, Lei Maria da Penha adolescente relembrando sua gestação, parto e criação

violencia contra mulherNossa Lei Maria da Penha, está no auge de sua adolescência e, se hoje é capaz de decidir muitas coisas sobre si mesma, não deve nunca esquecer o esforço de suas antepassadas para que chegasse a este marco.

Como o voto feminino pode derrubar Bolsonaro

eleicoes feminismo ilustracao Thiago Fagundes Agencia CamaraPesquisas mostram: maioria das mulheres rechaça a masculinidade agressiva do presidente. Já não o veem como antissistema. Querem respostas concretas para a crise. Saúde e avanço da fome são suas principais preocupações. Serão decisivas em outubro. (Ilustração ...

Direito ao aborto: “A mulher não é um hospedeiro”

feministas foto jornal da uspNa contramão da América do Sul, onde as mulheres avançam no direito ao próprio corpo, sociedade brasileira parece paralisada. Enquanto isso, proliferam projetos retrógrados no Congresso e ações criminosas do governo federal

As mulheres negras diante das violências do patriarcado

mulheres negras1Elas concentram as tarefas de cuidados e são as principais vítimas de agressões e feminicídios. Seus filhos morrem de violência policial. Mas, através do feminismo, apostam: organizando podemos desorganizar a ordem vigente

Balanço da ação feminista em tempos de pandemia

feminismo2Ativistas relatam: pandemia exigiu reorganização política. Mas, apesar do isolamento, redes solidárias foram construídas – e o autocuidado tornou-se essencial. Agora, novo embate: defender o direito das mulheres nas eleições de 2022

Sobre meninas, violência e o direito ao aborto

CriancaNaoEMae DivulgacaoProjetemosO mesmo Estado que punir e prendeu com rapidez a adolescente de João Pessoa fechou os olhos para as violências que ela sofreu ao longo dos anos; e, ao não permitir que realizasse um aborto, obrigou-a a ser mãe aos 10 anos

nosso voto2

...