Para Isabela Kalil, entrevistada por Natuza Nery no podcast 'O Assunto', o que ela chama de pós-bolsonarismo pode representar mais radicalidade, apesar de menos gente apoiando agenda da extrema direita.
Por g1
Golpistas usam gradil para quebrar prédio público em Brasília neste domingo (8) — Foto: Ton Molina/AFP
A antropóloga Isabela Kalil, coordenadora do Observatório da Extrema Direita e do curso de Sociologia e Política da Escola de Sociologia e Política de São Paulo, afirmou em entrevista ao podcast “O Assunto” que grupos de extrema direita no Brasil já agem de forma independente de Jair Bolsonaro (PL) e tendem a diminuir em número de pessoas, mas a ficar mais violentos.
A antropóloga conversou com a jornalista Natuza Nery sobre como a extrema direita se estruturou no país até chegar ao ato terrorista do último domingo (8) em Brasília, quando golpistas invadiram e depredaram o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal e o Palácio do Planalto.
A pesquisadora considera o atual momento desses movimentos radicais uma nova fase, que pode ser chamada de pós-bolsonarismo.
“Bolsonaro já não é mais a figura que, de uma certa maneira, mobiliza esses atores. Então, esses atores conseguem se mobilizar de forma independente de Bolsonaro. E a gente tem um jogo, digamos assim, contraditório, que é: cada vez a gente vai ter um número menor de pessoas mobilizadas em torno dessas agendas [da extrema direita], só que esse número, mesmo que reduzido de pessoas, tende a ficar cada vez mais violento”, afirmou.
"O que isso significa? Menos gente apoiando essa agenda, só que os que permanecerem podem aumentar, subir o seu grau de violência, de radicalidade", explicou Isabela.
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Como Bolsonaro estimulou extrema direita
O episódio de "O Assunto" desta terça-feira (10) também narra como, durante pelo menos seus 4 anos de mandato, Bolsonaro incentivou o golpismo entre seus apoiadores, numa série de abusos que expôs milhares de brasileiros aos riscos da pandemia e sequestrou a data da Proclamação da Independência do país.
Como reação ao resultado das urnas em 2022, grupos bolsonaristas questionaram a legitimidade do processo eleitoral, bloquearam estradas e fizeram campanas em frente a quartéis das Forças Armadas – uma escalada autoritária que culminou no mais grave atentado contra o Estado Democrático de Direito, neste domingo.
A antropóloga Isabela Kalil descreve, ainda, como a movimentação em redes da horda bolsonarista e como o discurso "dúbio" do ex-presidente é combustível para o processo de “dissonância cognitiva” de seus apoiadores.